quinta-feira, março 15

O PORTO: O MORRO E O RIO - 7º EPISÓDIO: A VODA DE EL REI COM SUA MOLHER (à margem de uma filmagem)

1387 - 2 de Fevereiro.
Há festa no Porto. Casamento real. Nunca tal se viu nem voltará a ver-se.
Talvez que só mais um Rei tivesse merecido casar-se por aqui: D. Pedro IV. Mas quando o mereceu já era casado e pela segunda vez.

O consórcio fora aprazado três meses antes, dia de Todos os Santos, em Ponte do Mouro, margens do Rio Minho, no conforto da tenda real que havia pertencido a D. João de Castela e que este deixara, contrafeito, nos campos pouco hospitaleiros de Aljubarrota. Dª Filipa, com a mãe e irmã, encontrava-se resguardada no mosteiro de Cela Nova, ali pertinho, a meio caminho de Orense.

D. João I, terminadas as falas com o futuro sogro, correu de imediato para a fronteira alentejana, menos segura que os conventos da Galiza. Não tratou de ir ver se a noiva era bonita. Seria só no Porto, em vésperas de casamento, que ficaria a saber.

Dois meses depois do acordo de Ponte do Mouro, fins desse ano ou princípios do outro, Dª Filipa entrara na cidade, pela Porta do Olival, com a sua numerosa e garrida comitiva. E que comitiva! Até um Bispo vinha, tudo escoltado por mais de cem lanceiros e duzentos archeiros de cavalo.

"...e estamdo entã ( D. João) em Evora, foy emtamto tragida muy homrradamente de mamdado de seu padre a Ifamta dona Felipa aa çidade do Porto...homde foy reçebida com graõ festa e prazer." ..." E pousou nos Paços do Bispo que saõ muito perto da See dese loguar. Ell Rey partio d'Evora e o Comdestabre com elle, e quoamdo cheguou ao Porto achou ahy a Ifante dona Felipa, sua molher que avia de ser, e pouzou em São Francisco .E em outro dia foi ver a Ifamta que aimda naõ vira..."

"...E ell Rey esteve ally poucos dias e foyse caminho de Guimarãis..."



E estando naquela vila, ordenando feitos de guerra, vieram dizer-lhe que o casamento tinha que realizar-se no dia seguinte, porque entrava a Septuagésima onde não se podiam fazer tais ofícios. Então el-Rei cavalgou esse dia à tarde e andou toda a noite... E indo direito à Sé, o Bispo lançou-lhes as bênçãos. E cada um, assim abençoado, voltou para sua casa e aguardou pelo dia 14. Aí sim, com toda a cidade em festa,

“E ell Rey sayo daqueles paços em çima de huu cavalo bramquo, em panos douro reallmente vestido; e a Rainha em outro tall, muy nobremente guoarnida”...”A jemte hera tamta que se nõ podiaõ reger nem ordenar, por ho espaço que era pequeno dos paços a igreija. E asy cheguarão a porta da See que era dally muy perto...”





O átrio da estação de S. Bento está decorado, além de outros temas, com quatro painéis históricos do mestre Jorge Colaço, obras-primas de azulejaria.
Quando passar por lá, repare para o da parte superior, virado para a Rua do Loureiro, mas não acredite, quando vir por aí escrito, que se trata "da entrada solene de D. João I no Porto pela Porta do Campo do Olival, com sua noiva D. Filipa de Lencastre."
A Porta do Olival (onde hoje é o café com o mesmo nome, junto à antiga Cadeia da Relação) alguma vez pode ser representada encostadinha à Sé?
Aquela porta é a de Vandoma, da Cerca Velha. Essa sim, era ali ao lado... E porquê a fantasia de ambos entrarem juntos no Porto? D. João estava em Évora, não é?
Jorge Colaço leu Fernão Lopes e respeitou o cronista. Nem todos o fizeram.

E a cerimónia acabou – e outra, mais íntima, ter-se-á iniciado - com a bênção do leito conjugal pelo Arcebispo de Braga. Teria começado ali a Ínclita Geração? Vou ver a data de nascimento de D. Duarte...
Não. Antes de D. Duarte houve dois filhos: a 30 de Julho de 1388 nascera D.ª Branca (morreu com 1 ano) e depois D. Afonso (morreu com 10). O leito foi abençoado, mas não com efeitos imediatos.

Mas não perturbemos as festas, que duraram 15 dias, com justas reais por homrra desta voda. Vamos respeitar a intimidade do jovem casal, esperar que a cidade se recomponha de tanto bulício e associar o leitor a um merecido descanso, ao fim destes sete fatigantes episódios.
Ao darmos por finda esta primeira fase da nossa peregrinação pelo velho burgo - que fizemos com muito gosto na sua companhia - procurámos lembrar coisas que nem só ao portuense respeitam. Se tiverem sido do seu agrado, então valeu a pena tê-las escrito.”

(Colaboração de Fernando Novais Paiva, autor do texto)

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10 Comentários:

Às 15 março, 2007 16:36 , Blogger Papoila disse...

Olá Peter:
Gostei imenso deta série sobre a minha cidade aguardo a segunda.
Foi o Porto que deu nome a Portugal. Aqui D. João I casou com D.Filipa e aqui nasceu o Infante, patrono dos descobrimentos. Aqui se doou a carne e se comeram as tripas para construir o Império. Por entre trincheiras e paliçadas, aqui se defendeu a liberdade do liberalismo contra a tirania miguelista, se ganhou o coração de D. Pedro IV que daqui partiu com a Carta Constitucional e lhe deu o título de Invicta. Aqui morreu-se pela implantação da República os vencidos do 31 de Janeiro.
Beijos

 
Às 15 março, 2007 18:37 , Blogger Maria Carvalho disse...

Foi um prazer ler esta 1ª série. Beijos.

 
Às 15 março, 2007 20:38 , Blogger Manuel Veiga disse...

as crónicas são excelentes. muito instrutivas. uma escrita levemente irónica. como deve ser a erudição histórica.

... não perturbemos (mais) a festa da leitura!

abraços

 
Às 16 março, 2007 21:09 , Blogger Marta Vinhais disse...

Gostei muito de ler, Peter...
Estive um pouco afastada, mas tive uma semana complicada..
Perdoas-me???
Beijos e abraços
Marta

 
Às 16 março, 2007 22:20 , Blogger Peter disse...

"marta", mas qual é o português que não tem complicações?

Bom fds, aproveita a vida "rapariga".

 
Às 17 março, 2007 12:59 , Blogger Dilma Nicolau disse...

Então a 1ª série está a acabar... é pena... Mas confesso que fechou com "chave de ouro".
Aguardo com ansiedade a continuação da prosa,enriquecida com as belas fotos, sobre o nosso Porto.Parabens Dr. Paiva.
Cibernauta

 
Às 17 março, 2007 13:43 , Blogger Gata Fedorenta disse...

Olá amigos.
O Dr. "Paiba" lixou-nos.carago.Então parou a sua "narratiba"no ponto "chabe" da questão...E a lua de mel?...E a noite de núpcias?...Aí é que eu queria"ber o realismo da "narratiba"Ora "volas"...
Cá espero pela 2º série Prometido?...
Agora fora do contexto:
Ò Peter porque não se mete no comboio para o Porto(que é a melhor coisa que há por aí em "Lisvoa")e "bem" "ber" o Sporting a perder com o FCP mas antes começar por apreciar os ajulejos da estação de S."Vento" e depois é que irá carpir máguas no "Dragon"..."Vou confessar-lhe uma coisa:gosto muito de "Lisvoa" e aí do "cluv" que gosto mais é do Sporting.Ora toma.
Tenho andado fugida porque desde janeiro(mês das gatas) tenho tido muito que fazer...
Até breve Gata fedorenta

 
Às 18 março, 2007 10:33 , Blogger Peter disse...

Para "gata fedorenta":

eh, eh, eh, eh, eh, eh, eh, eh

Dói-me a barriga de tanto rir.

 
Às 19 março, 2007 14:55 , Blogger António disse...

Olá!
Mais um episódio interessantíssimo que parece que encerrou a 1ª fase, como escreveu o autor.
Para quando a 2ª fase?

Um abraço

 
Às 19 março, 2007 15:47 , Blogger Gata Fedorenta disse...

Olá Peter:Desculpe isso não serão gases?...Olhe que gases leva-os o "bento" e o Paulo "Vento"está sujeito ás variações metereológica dos anticiclones.
No" Dragon" fiquei "berde"de desgosto(entenda-se).
"PARAVENS"
Um "avraço" da Gata fedorenta

 

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