O PORTO: O MORRO E O RIO - 6º EPISÓDIO: A SÉ E O SEU TERREIRO - (à margem de uma filmagem)
E com este trajecto que escolhemos, entramos finalmente no Terreiro, virados para a Sé.
Assim como quem entra num palácio pela porta da frente, encarando toda a sua magnitude e imponência.
Sé, Casa do Cabido ao lado. O Paço Episcopal estabelecendo o limite Sul.
Não é. Não sinto o Terreiro como a sala de visitas do Porto. Parece-me mais como a Sala do Trono que teria sido, se este espaço fosse assim quando o Bispo do Porto era o Senhor da Cidade. Mas não o foi, porque este desafogo só passou a existir por volta de 1940, quando se demoliram vielas e casario que por aqui se apinhavam.
Sala do Trono era esta Sé e um dos antigos Paços, até 1405, ano em que o último Bispo Senhor da Cidade, D. Gil Alma, negoceia com D. João I a transferência para a Coroa do couto que Dª Teresa doara ao primeiro Senhor, D. Hugo chamado. O Senhorio havia durado 285 anos. A sala do Trono rumava para o Sul.
O Paço Episcopal é, apenas, o mais notável edifício da Cidade. Demolido o Paço velho, constrói-se este desde os alicerces, segundo projecto de um homem notável de que falaremos várias vezes: Nicolau Nasoni. Sumptuoso, de estilo barroco, demorou 100 anos a ser concluído (1771 - 1871). Mas valeu a pena.
Para o lado do Rio, sobrepondo-se à própria Sé, é o Paço Episcopal que tudo domina, com uma altura que o desnível do morro mais acentua. Visto do Terreiro, só com dois andares, seis pares de janelas de cada lado, combina robustez, beleza e sobriedade em proporções admiráveis.
Ironias do destino: o poder da cidade, na pessoa do Bispo, nunca ali habitou. Mas foi ali exercido pela Câmara Municipal do Porto, de 1916 a 1957, enquanto o seu novo edifício se construía.
Num enorme descampado, aqui no cimo do morro da Pena Ventosa, encontrou D. Hugo uma pequena ermida, quando em 1114 tomou conta da diocese, então restaurada.
Era a Sé do Porto.
No seu lugar e ainda em tempo de Dª Teresa (falecida em 1130), começou esta mesma a ser construída, terminada apenas no reinado de D. Diniz (1279-1325). A sua imponência era desproporcionada em relação ao Burgo, como que antecipando a grandeza de uma cidade que só mais tarde viria a despertar.
Daí em diante foram inúmeras as modificações introduzidas, exteriores e interiores, em épocas e estilos diferentes, alterando-lhe gradualmente a arquitectura românica da construção primitiva. Mas o seu carácter, a força que nos transmite, ficaram inalteráveis.
Na verdade, do velho Burgo, defendido primeiro pela Cerca Velha, é a Sé que se mantém imorredoura, marcando uma presença vigilante até aos limites das Muralhas Fernandinas.
Nas suas duas torres abrem-se seteiras, no corpo central recortam-se ameias.
Não era para ouvir missa com certeza.
No próximo episódio, falaremos de um casamento. Aqui na Sé. Com missa.
(continua)
Colaboração de Fernando Novais Paiva, autor do texto e das fotos.
Etiquetas: O Morro e o Rio
19 Comentários:
Adoro estes episódios. Elucidativos. As fotos são maravilhosas. Beijos para vós.
De entre os retratos de alguns dos cardeais da sede episcopal um é meu tio trisavô... um bom "marau"...
Continuo a ler interessada. As fotos são espantosas.
Beijos
Ena, ena! Vim aqui ver a cidade do meu pai! E com estilo! :)
"blue", já cá o tenho e será publicado oportunamente. Depois faremos um interregno de alguns meses, até avançarmos para a 2ª série, pq há muita gente (entre os quais eu, LOL) que não gosta do Porto e então do FCP, nem pintado, a não ser que fosse às riscas horizontais verde e brancas. LOL
P.S. - Ainda não recuperei da "crise" ...
"uma vida ...", estes episódios são um interregno nos artigos sobre o Cosmos. Ainda bem que gostas. Neste blog falta a beleza dos teus versos. Estão nos links, já não é mau.
Beijos nossos para ti, que és uma fiel leitora.
"papoila", sei bem que és uma "portuense de gema". Pelos vistos também com antepassados ilustres.
No tempo do teu trisavô era normal haver as "barregãs" dos clérigos.
Beijos
P.S. - Já comprei o livro do Peter Pan
"blue" fizeste bem em recolocares os novos "links", apagados num dia de "spleen", como hoje.
Podes acrescentar, à vontade, os que entenderes. Nem eu sei porque tirei o da Analu ...
"caiê", foi por ser a cidade do teu pai e por estares incluida nos nossos "links", que o publicámos.
Ora vês?
É uma óptima ideia divulgar a história da cidade do Porto, os seus lugares e as suas gentes, tudo muitas vezes desconhecido, especialmente ao Sul.
Um abraço. Augusto
sente-se a "atmosfera" do Porto na tua belíssima descrição. excelente.abraços
Ahh um dia destes tenho que voltar...
Abraço
Olá, Peter - adorei este novo episódio e mal posso esperar pelo "casamento na Sé com missa"..
Adoro ir até à Sé num dia de sol...
Obrigada pela partilha.
Beijos e abraços
Marta
Olá, Peter!
Continuo a ler interessado este magnífico conjunto de textos históricos e, desta vez, estiveram no centro do tema dois edifícios que conheço bem: a Sé e o Paço Episcopal.
E reparaste em que ano ficou concluído o monumental edifício da Câmara Municipal que fica no cimo da avenida dos Aliados?
1957!
Parece uma construção de muitos séculos antes.
Um abraço
António
O autor é o meu amigo FPaiva. Ele é que é "portuense" e profundo conhecedor da cidade de que tanto gosta.
Eu tive uns tempos que andei por lá, mas a melhor coisa para mim era à 6ªF o combóio para Lisboa.
Abraço
"ant", regressa com um artigo intitulado: "O regresso do filho pródigo".
Mando abater uma rez e fazemos uma grande farra. LOL
"bluegift", não, já passou. Obrigado pelas "dicas", vou ver se arranjo tempo, pois ando com uma vida social muito intensa. Qq dia começo a aparecer nas revistas "cor de rosa", juntamente com as VIPs.
Olá, Peter!
Eu sei que o Sapo não é grande coisa, mas pior que o Blogger tal como o tenho, que só me deixa postar quando lhe dá na real gana, não pode haver.
Mas já tenho um outro fisgado se o Sapo coaxar desafinado: o WordPress.
Pelo menos vou aprendendo umas coisas...ah ah ah
Abraço
Olá, Peter!
Agora és Peter15?
É por causa do novo template todo modernaço?
ah ah ah
Obrigado pela visita.
As minhas "Histórias curtas" são todas ficção; nenhuma é real.
Um abraço
António, NÃO! Esse nick é só para os blogs do SAPO.
Respondi no teu blog do BLOGGER.
Abraço
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