sábado, dezembro 5

Empregadas domésticas


Até uma certa idade, a pessoa, ou o casal, lá se vão desembaraçando sozinhos e até é preferível, pois estão mais à vontade. Depois, quando os dois começam a trabalhar, situação que infelizmente cada vez é mais rara, recorrem às firmas de limpeza, onde até aqui buscavam emprego praticamente só as imigrantes. É uma situação em que sob o ponto de vista financeiro, se paga caro pelo serviço, sem que quem trabalha saia beneficiado, antes pelo contrário.

Mas, quando se envelhece, ou a saúde não é muita, são indispensáveis. É então que, quem mora pelos bairros lisboetas, recorre aos conhecidos e sempre encontra empregadas domésticas que, não raro, têm cinco patrões em cujas casas trabalham a meio dia, ou ao dia inteiro. Depende sobretudo da capacidade financeira dos mesmos, normalmente pequena, pois vivem das suas reformas e até por vezes necessitam da ajuda financeira dos filhos, cada vez menos possível.

Isto vem a propósito de há uns meses largos, ter lido por aqui um artigo sobre a exploração a que essas empregadas estavam sujeitas, o que é uma “meia verdade”, como digo em cima.

Fazendo as contas ao dinheiro que uma empregada doméstica, trabalhando em 5 casas em regime de meio dia, cheguei à conclusão que a mesma, neste mês de Natal, leva para casa cerca de 7.00€.

Nada mau, hein!

Talvez isto dê para compreender o afluxo aos hiper-mercados, à neve na Serra da Estrela, aos “mega-concertos” com lotações esgotadas a um ano de distância…

29 Comentários:

Às 05 dezembro, 2009 09:27 , Blogger antonio ganhão disse...

Donde-se conclui que pela via de melhorar os ordenados mais baixos se relança a economia...

 
Às 05 dezembro, 2009 10:48 , Blogger vbm disse...

€7.00!?
Deve ser gralha.

Se há classe proletária
que explora os seus concidadãos
é sem dúvida a das empregadas domésticas!

que têm uma profissão por conta própria,
não pagam impostos nenhuns,
não pagam os descontos para a Segurança Social;

recebem indecorosas indemnizações se despedidas,
incluindo com justa causa, e ainda por cima
reivindicam e recebem, 13º mês, subsídio
de férias!, além do mês em
que não trabalham!

 
Às 05 dezembro, 2009 11:18 , Blogger Peter disse...

vbm

Não sou "bufo", nem trabalho para as Finanças, para vir denunciar o "esquema". A minha empregada doméstica trabalha cá há 8 anos, sei bem quanto lhe pago, onde trabalha e os dias e horas que trabalha em casa dos outros patrões.

Portanto "vbm" não há "gralha" nenhuma. Ela este mês levou para casa 7.000 €, pagos pelos 5 patrões (5 subsídios de Natal+ 5 ordenados).
Tirando a "gralha" que não existe, verifico que estamos inteiramente de acordo.

 
Às 05 dezembro, 2009 11:21 , Blogger Peter disse...

antonio - o implume

É uma conclusão demasiado inteligente para eu a compreender.

 
Às 05 dezembro, 2009 16:07 , Blogger Meg disse...

Peter,

E os canalizadores, os electricistas, os ... tantos que não passam recibo e de quem dependemos para os pequenos problemas do dia a dia.
Chamas um electricista desses, e pagas 15 euros só de deslocação (sem factura).
Mas eu pensava que era só aqui na terra dos ricos.
Uma empregada a dias aqui ganha 8 euros à hora...
E para não falar dos que ainda recebem ajuda social.
E não me batam, mas não é mentira, eu conheço alguns.

Bom fim de semana.

Um abraço

 
Às 05 dezembro, 2009 16:36 , Blogger Peter disse...

vbm

Tens razão, são cerca de 7 mil euros este mês, e outro tanto em Julho, para uma empregada que trabalhe em 5 casas em regime de "part-time" e sendo paga mensalmente.
Enganei-me, escrevi€7.00, faltou um zero.

 
Às 05 dezembro, 2009 16:41 , Blogger Peter disse...

bluegift e meg

O "vbm" é que tem razão:

«Se há classe proletária
que explora os seus concidadãos
é sem dúvida a das empregadas domésticas, que têm uma profissão por conta própria, não pagam impostos nenhuns, não pagam os descontos para a Segurança Social,
recebem indecorosas indemnizações se despedidas, incluindo com justa causa, e ainda por cima
reivindicam e recebem, 13º mês, subsídio de férias!, além do mês em que não trabalham!»

P.S. - Escrevi-vos e-mails.

 
Às 05 dezembro, 2009 21:33 , Blogger alf disse...

Peter, não estou a perceber essas contas. 7000 euros em dez salários? Ou seja, a sua empregada ganha 700 € por mês de salário para fazer 1/5 do horário?

Mas que horário faz ela afinal? quanto ganha ela à hora?

 
Às 05 dezembro, 2009 23:08 , Blogger Manuel Veiga disse...

que inveja!!!! eheheh

abraços

 
Às 06 dezembro, 2009 01:18 , Blogger Peter disse...

alf

Não falemos no caso da minha empregada.
Mas quem trabalha por conta própria, pode ter 5 patrões indo a cada um 2 vezes por semana 4+4 h. São 40hx€9=€360.
Juntando-lhe outros €360 do subsídio de Natal temos €720. Enganei-me num zero. Mas é vulgar fazerem mais dinheiro extra, dormindo em casa de senhoras de idade viuvas, que vivem sózinhas.

Têm outras benesses: não pagam impostos, não pagam descontos para a Segurança Social e recebem indemnizações se despedidas, incluindo com justa causa.

Se calhar é melhor que tirar uma licenciatura e ir trabalhar como caixa de supermercado.

 
Às 06 dezembro, 2009 12:49 , Blogger alf disse...

Peter

Há dias em que não acertamos as contas, o Guterres que o diga...

As suas contas dão um ordenado de 360€ por semana, ou 8x9=72 € por dia; como não ganham aos feriados, dará perto de 1500 € por mês.

Não sei porque diz que não têm descontos; não sei que descontos têm mas certamente que descontam para a SS. (ou desconta o patrão)

Esse ordenado de 9€ à hora não é habitual - isso é o que eu pago à empresa que me faz a limpeza, e inclui todos os produtos e equipamentos, não pago subsídios, não pago se não precisar do serviço, não tenho nenhumas responsabilidades nem obrigações; as senhoras que me fazem a limpeza ganham muito menos do que isso e vivem numa correria limpando casa atrás de casa; têm de ser novas porque se forem de meia-idade não aguentam.

O ideal é que toda a gente seja licenciada ou parecido; e naturalmente teremos licenciados a fazer qq trabalho. Isso acontece nos países nórdicos, por exemplo. A diferença está em que todos os ordenados são altos (não deixam entrar imigrantes para não degradar os ordenados das tarefas menos qualificadas). Têm uma sociedade mais igual, mas não têm empregadas domésticas.

é uma questão de fundo: queremos uma sociedade «igual» ou queremos uma «desigual» que nos possibilita certos privilégios?

 
Às 06 dezembro, 2009 14:46 , Blogger vbm disse...

No 4º item fizeste uma multiplicação por 5x5 patrões!

 
Às 06 dezembro, 2009 15:04 , Blogger vbm disse...

O alf tem razão. E foi o que eu aprendi na cadeira de "Geografia Económica", dada pelo já falecido Prof. Almeida Garrett (um descendente da família do escritor), sogro do também já falecido Lucas Pires: um país desenvolvido pratica um nível de remuneração suficiente para que todos vivam com dignidade, nos padrões sociais aceites. Depois, o professor explicava, exemplificadamente, que isso haveria de traduzir-se na quase impossibilidade de conseguir ter empregadas domésticas que se tornariam muito caras... (Lembro-me de pensar que isso realmente seria um aspecto desagradável e que iria diminuir alguma comodidade de vida... :). (Mas, também me lembro, como isso seria acompanhado de maior instrução e educação de todos, tal acabaria com o fosso das classes sociais que eu me apercebia existir em Portugal, mas que não encontrava no estrangeiro...) É que de facto, saía à rua, e se falasse com o 'povoléu', de certeza que ninguém percebia nada do que eu dizia porque os seus pensamentos nada tinham a ver com questões que lhes colocasse alheias às suas preocupações prementes; ora, estava certo, com mais tempo e tranquilidade, eles, 'povoléu', acabariam por se interessar por mais assuntos. Ora, é aqui que divergimos e continuamos a divergir de uma evolução 'sueca' porque o 'povinho' a única coisa por que se interessou e de que se ocupa foi e é aproveitar em seu favor à custa do bem comum de todas as benesses possíveis e não quer saber de mais nada e muito menos de instruir-se que acha que isso não lhe serve para nada. Resultado: estou na mesma: falo com os magalas, os contínuos, as empregadas domésticas: não percebem nada do que eu digo.

 
Às 07 dezembro, 2009 02:15 , Blogger alf disse...

vbm

e se falar com a classe a média, percebem? Onde estão as pessoas com quem pode falar? São raras não são? E, se calhar, não é uma questão de «classe social».

desde o 25 abril até à altura do Guterres que me interrogava porque é que o pré-primário não avançava, sabido como é que a formação das crianças o mais tardar a partir dos 3 anos é o mais importante instrumento para assegurar igualadade de oportunidades. Mas multiplas pessoas da classe média, mais ou menos influentes, tiveram a gentileza de esclarecer este burro: é que assim depois toda a gente se formava e deixava de haver empregadas domésticas, canalizadores, etc.

Esta situação só mudou verdadeiramente com a chegada dos imigrantes - estes garantiam as preciosas empregadas domésticas sem as quais não estamos dispostos a passar.

Nós não somos um país atrasado e com baixíssima formação por sermos vítimas duma herança do salazarismo: somos por opção, tivemos todo o tempo para deixarmos de o ser depois do 25 de abril mas não quisemos.

Imagino que em países como a Índia também existam pressões para não dar condições ao «povo»; mas certamente que não existe em mais nenhum país europeu.

Recuso-me a acreditar que sejamos assim por genética, penso que as pessoas se tornam assim quando nascem num forte regime de classes, em que o objectivo de vida é pertencer à classe de cima.

Estas pessoas continuam a resmungar pelos cantos, estou farto de as ouvir barafustar contra as «novas oportunidades» e contra a internet nas escolas. Se puderem, boicotarão. Já não é com medo de perderem empregadas, é com medo de perderem estatuto. Porque o estatuto em Portugal ainda deriva dos canudos e não do mérito da pessoa.

E estou muito feliz por ter um primeiro ministro que até já conseguiu encher de computadores uma escola que há ano e meio protestava contra as máquinas de calcular. O que prova que é possível fazer a mudança e rapidamente.

 
Às 07 dezembro, 2009 09:46 , Blogger Peter disse...

Alf

"E estou muito feliz por ter um primeiro ministro que até já conseguiu encher de computadores uma escola que há ano e meio protestava contra as máquinas de calcular. O que prova que é possível fazer a mudança e rapidamente."

Ainda bem que está feliz e que não tem outras coisas que o preocupem.

Já o mesmo não posso dizer eu.

 
Às 07 dezembro, 2009 09:56 , Blogger vbm disse...

:) Sim, quando falo com a "classe média" também não me entendem nem a entendo! E, com a classe alta, tenho um problema :): - É que considero que não é só o "Champalimaud" que tem direito a estar bem na vida, e não gosto que só critiquem a classe política e não ergam o mais leve protesto contra a classe possidente! Em conclusão, sinto que a sociedade deveria ser diferente do que é e do que tem sido.

O caminho pode ser pela instrução pública, concordo. No entanto, para lá da instrução e de persuasão colectiva de adesão a determinados valores em detrimento de outros, considero imprescindível assumirimos politicamente uma visão, previsão, cosmovisão acertada sobre como o mundo é e sobre como tem tendência a ser e como é ou não possível nele intervirmos no sentido de evitarmos catástrofes e favorecermos condições que nos sejam vantajosas.

Em termos morais, ainda sou um utilitarista e apenas obtempero esta ideologia política pela conveniência - e grande utilidade! - de ter uma visão acertada do mundo e do universo em que estamos inseridos e de que dependemos.

 
Às 07 dezembro, 2009 15:04 , Blogger Quint disse...

Depois do muito que já aqui se escreveu, mais as contas chego à conclusão que vou mudar de ramo!

 
Às 07 dezembro, 2009 16:06 , Blogger alf disse...

vbm, inteiramente de acordo.

penso que somos todos utilitaristas e até numa perspectiva muito individual - quem defende a meritocracia não se move por esse ser o sistema melhor para a sociedade, mas porque pensa que é o melhor para si próprio; da mesma maneira, os que defendem a manutenção dos seus privilégios, bastas vezes confundidos com «direitos», actuando contra a mudança, também o fazem não porque defendem uma «moral» mas porque isso é que é melhor para eles; os que defendem «causas», no fundo deles próprios, é o seu interesse que os move.

Claro que isto é tudo muito complexo, os nossos interesses não se limitam aos monetários, temos necessidades complexas como a de ser útil, ou ser reconhecido, ou ser amado. É isso tudo que impulsiona a nossa agregação social.

Eu não faço juizos de valor, ou procuro não fazer, mas procuro sempre desmontar as argumentações para tecer que o defendemos no nosso interesse pareça ser no interesse dos outros. Mesmo, e sobretudo, no meu caso. O nosso instinto é tão manhoso que bastas vezes estamos realmente convencidos que são nobres e não egoístas as nossas razões.

Mas no fundo disto tudo, temos de ter a atitude que tão bem define:

"considero imprescindível assumirmos politicamente uma visão, previsão, cosmovisão acertada sobre como o mundo é e sobre como tem tendência a ser e como é ou não possível nele intervirmos no sentido de evitarmos catástrofes e favorecermos condições que nos sejam vantajosas. "

Como a vida de uma empregada doméstica pode dar tanto em que pensar..

 
Às 07 dezembro, 2009 17:11 , Blogger vbm disse...

Ó Ferreira-Pinto!

Mas o que é que tem o "ramo"
para mudares de "ramo"!?

Lol

 
Às 07 dezembro, 2009 17:13 , Blogger Peter disse...

Ferreira Pinto

O texto acabou por descambar no diálogo de 2 intelectuais, filósofos e com conotações políticas: "alf" e "vbm".

Não era esse o meu objectivo, como não era o de defender os meus interesses, pois felizmente não tenho necessidade de vir para aqui lamuriar.
Era bem melhor que explicassem os seus pontos de vista a uma viúva, com mais de 80 anos, vivendo duma pensão miserável, sózinha e atormentada por doenças, no fim de uma vida em que sempre viveu com um relativo conforto.

O "alf" não compreende porque não descontam para a SS. É o patrão, no qual estão inscritas nas Finanças, que paga. Se tiver mais que um patrão é só receber destes os 13º e 14º meses. Esses patrões não têm existência oficial...
É como o canalizador que vai à sua casa: sem orçamento é X, com orçamento é X+Y...

 
Às 07 dezembro, 2009 18:10 , Blogger vbm disse...

Mas, estás a ver, Peter, a deficiência dos descontos para a S.Social nem é mesmo das empregadas mas sim da lei: porque elas não são reconecidas como empregadas por conta própria, a lei não aceita que o trabalho delas é uma verdadeira prestação de serviços, em que os "patrões" não são patrões, mas sim clientes a quem o serviço é prestado, e elas não têm 4 ou 5 patrões, mas 4 ou 5 clientes, como qualquer outro prestador de serviços!

Ora, isto não sendo aceito pela lei, fica a porta aberta para o regime especial que as regula, que é a de só serem obrigadas a uma prestação mínima para a S. Social - paga do bolso de um só dos seus "patrões" -, todos os demais lhe pagando por serviços livres de imposto! Isto está mal, porque é injusto, e de facto os mais prejudicados são precisamente as pessoas de idade e de rendimentos desvaloriazdos e fracos.

Acredito que se houvesse justiça fiscal nesta actividade, os preços-hora da empregadas domésticas seria mais transparente, competitivo e menos caro do que na Bélgica, segundo o que a bluegift informa.

 
Às 07 dezembro, 2009 18:33 , Blogger vbm disse...

Ei, Alf,

Eu gosto de filosofia
mas isso não quer dizer
que saiba muito ou saiba
direito as coisas da filosofia.

Evoco a moral utilitarista,
porque ela é humanitária,
e mais compreensiva que outras,
como a de Kant - a do 'impertivo
categórico', cujo nome até assusta,
lol, ou a de Hobbes, contratualista
mas ficcional; a moral utilitarista,
ao contrário, embora com alguma
falência lógica, visa maximizar
o bem-estar de todos os seres
sensietes, incluindo a felicidade
dos animais (contudo, não sou
vegetariano! mas os animais
devem ser abatidos sem se
aperceberem e sofrerem.)

Nestas condições, o utilitarismo
não é propriamente um egoismo
mas uma moral solidária
e humanitária. Mas tem alguma
deficiência ética porque,
em termos lógico-estatísticos,
pode argumentar-se que
um suplemento adicional
de bem-estar para um indivíduo,
de grandeza marginal insignificante,
prejudica menos a utilidade (bem-estar)
dos outros do que aumenta a felicidade individual,
e consequentemente, incrementa a utilidade
total, pelo que é desejável e admissível!
- é o paradoxo do hedonista francês,
no seio da sociedade inglesa em austeridade
de tempo de guerra :).

Ora, assim sendo, abre-se caminho para
um ‘não-mal-intencionado’ comportamento
egoista… Inconveniente só contrariado se
for verdade a teoria da ‘mão invisível’ de
Adam Smith que deriva a perfeição da
mecânica social do comportamento
racional dos indivíduos na busca
do interesse próprio… (o que até
pode ser assim, em lógica de divisão
de trabalho, mas falha em movimentos
colectivos de imitação irracional, como
nos mercados de especulação bolsisita)

 
Às 07 dezembro, 2009 19:54 , Blogger alf disse...

Peter

O problema da viúva é um problema sério e se aparecem aqui estas derivas filosóficas é exactamente porque o é e porque precisamos de pensar bem as coisas para as compreendermos e buscarmos soluções.

O Peter tocou num aspecto importante da nossa sociedade, o da distribuição da riqueza; eu também já fiz muitos posts sobre isso, até sobre as empregadas da limpeza; naturalmente, despoletou as ideias de quem se preocupa com isso.

Contrariamente ao que pensa, eu não tenho nenhuma opção política, nenhuma causa, nenhum clube de futebol. A mim interessa-me perceber as coisas, isso e só isso, e não podemos perceber as coisas se as virmos enviezadamente. O que fatalmente acontece a quem adere a alguma corrente. Mas estou habituado a que as pessoas vejam em mim apenas um «chato», uma pessoa que é do outro partido, do outro clube de futebol, etc; é, em parte, por isso, que eu vou dizendo que sou «extraterrestre» e outras coisas disparatadas, já percebi que as pessoas são mais complacentes comigo se pensarem que eu tenho um parafuso a menos...

E agradeço-lhe este post, estimulou-me o pensamento, escrevi mais umas coisas nos meus apontamentos sobre a maneira como a sociedade evolui e até sobre a evolução das espécies, veja lá! E isto já me aconteceu várias vezes no seu blogue, é muitas vezes estimulante, é por isso que eu gosto de vir cá... embora perceba que nem sempre o que eu digo lhe agrade, o que lamento, até porque muitas vezes digo disparates, ou exprimo-me mal, mas é o preço a pagar por andar sempre a querer compreender as coisas.

Um abraço

 
Às 07 dezembro, 2009 19:56 , Blogger Peter disse...

vbm

Foi precisamente dessas pessoas e há aqui várias no prédio onde moro, que eu quiz salientar a sua precária situação. Envontro-as, falo com elas e oiço as suas queixas.

No meu últmo comentário, cometi outro erro. Escrevi:
"É como o canalizador que vai à sua casa: sem orçamento é X, com orçamento é X+Y..."

Não é "orçamento", mas sim "factura".

 
Às 07 dezembro, 2009 20:15 , Blogger alf disse...

vbm

De filosofia sabe muitíssimo mais do que eu, e bebo sôfrego as suas palavras que contêm muita sabedoria própria e dos outros.

Há muitas experiências no campo dos estudos da sociedade artificial, isto é, fazendo emulações em computador usando regras de comportamento individual, sobre esta matéria.

Eu penso que somos movidos pelos instintos e não pela Razão, a qual serve as mais das vezes para arranjar os argumentos que compatibilizam a vontade do instinto com a moral que adoptamos; e que os instintos servem o nosso interesse como espécie e o nosso interesse individual.

Mas os instintos nem são «primários» nem «estúpidos» e são capazes de saber que o interesse individual pode passar pelo interesse colectivo a uma certa escala - da família, dos amigos, do gang, da associação, do país, do mundo.

Esta «consciência» é variável de indivíduo para indivíduo e depende da sua experiência infantil e dos seus genes ou onde quer que seja que essa informação é armazenada.

Num país atrasado em que as pessoas nascem e crescem num unverso muito estreito e limitado, essa consciência tem também um âmbito muito reduzido. Ou numa sociedade na qual as pessoas são marginalizadas - por exemplo, em Portugal, as pessoas não cresceram a pensar que o Estado são elas, vêem antes como uma vaca onde uns mamam e outros alimentam feito parvos. E isso tem a ver com o facto de durante muito tempo o Estado não prestar contas do que fazia aos cidadãos, não estar ao serviço destes.

Nesses testes de computador verifica-se que quando muitas «pessoas» pensam primeiro no interesse colectivo, a margem de vantagem para quem pensar no seu interesse imediato cresce e a população destes, os «predadores» aumenta; isso vai degradar a sociedade e gerar uma crise que volta a mostrar a importancia do colectivo.

Portanto, a sociedade tem de estar organizada por forma a penalizar sempre as opções de interesse individual por forma a este não compense sobre o colectivo; mas esta penalização vai ter de crescer porque quanto mais as pessoas pensarem no interesse colectivo, mais vantagens ficam disponíveis para quem pensa só no sue interesse; e isto acaba por gerar uma situação complicada por só ter duas saídas - ou um Estado implacavel com os «predadores» ou vitória destes e caída na crise.

a Moral etc são tentativas de solução deste ciclo presa-predador.


... penso eu de que... que isto é tudo muito complicado para tão pequena cabeça...

 
Às 07 dezembro, 2009 22:12 , Blogger Meg disse...

Peter,

Mas que grande tertúlia!
Tenho andado no vou ali e já venho... e valeu a pena.
Assim se aprende e eu que sou, salvo as devidas proporções, muito parecida com o Alf... também ando sempre à procura de entender, dou por muito bem passado este tempo que aqui passei hoje, na companhia de quem sabe.
Da discussão nasce a luz.

Um abraço

 
Às 07 dezembro, 2009 22:34 , Blogger Compadre Alentejano disse...

Afinal, não é só o Guterres...
Compadre Alentejano

 
Às 08 dezembro, 2009 00:47 , Blogger Peter disse...

Compadre

Não me queiras comparar. O Guterres era 1º ministro, tinha responsabilidades, pois governava (ou tentava governar...) o País, enquanto eu sou um reles escriba que para aqui anda.

 
Às 08 dezembro, 2009 07:59 , Blogger vbm disse...

.

Sempre fascinantes, as simulações de computador. Mas de ressalvar a estrita dependência do cenário final das condições, parâmetros de cálculo estabelecidas inicialmente, tipo efeito-borboleta!

De modo que esses testes, ao projectarem no final as tensões existentes na actualidade, esclarecem-nos mais sobre esta do que sobre o futuro, pelo que não pode dizer-se serem uma previsão.

Assim, o ciclo recorrente presa-predador balanceia logicamente a força relativa da autoridade versus a rebeldia individual, no quadro estático da conservação da sociedade.

Um exemplo de uma proposta futurista distinta das limitações actuais da espécie humana encontra-se em Aldous Huxley, não só no Admirável Mundo Novo, como, numa utopia diferente e muito bela, no seu romance A ilha

:)

 

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