sábado, julho 18

Gostar e amar


"Não tenho seja o que for contra o meu marido, não tenho seja o que for contra ninguém. No caso de perguntarem
- Gostas dele?
respondo que gosto sem saber ao certo o que é gostar de ti, o que isso significa" (1)

Gosto de te ouvir rir quando converso contigo, como gosto de estar junto a ti e de te sentir satisfeita. Sinto-me feliz por isso, por te dar este prazer. Gosto de te poder ser útil e procuro ajudar-te com os meus conselhos, como me preocupo com a tua saúde.
Será isto o amor? Se calhar não é, se calhar nunca amei ninguém.
Lembro-me da minha mãe, depois de terem morrido os meus outros dois irmãos, se ter tornado extremamente possessiva, agarrando-se a mim aos beijos e de eu a afastar.
- "Não tens coração. No seu lugar tens uma pedra", dizia-me ela. Talvez fosse isso que me marcou para sempre ...

"Somos felizes acha a minha mãe. Será ideia minha ou a felicidade é uma maçada?
(...)
Quando a minha mãe acha que somos felizes o meu pai olha para mim de banda, calado" (1)

Se calhar é mesmo uma "maçada".
Os telemóveis servem para comunicar, embora sejam utilizados principalmente para conversar, ou namorar. O pior é a conta das chamadas ...
Mas essa obsessão quase doentia de estar sempre em contacto, não será uma manifestação de insegurança de um e controlo que o outro sente pesar sobre si e que por isso acha que lhe corta a liberdade?
Os homens querem-se livres como os pássaros, como dizia o professor Leal, no livro de Isabel Allende, "De amor e de sombra":
- "se a liberdade é o primeiro direito do homem, com maior razão devia sê-lo para as criaturas com asas nas costas"
Por isso gosto de os ver voar livremente e como gostaria de me poder juntar a eles ...
"Voo" junto ao mar, rasando as ondas, nas quais mergulho.
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(1) - Citações de António Lobo Antunes, in "Crónica do domingo de manhã", revista VISÃO nº 696 de 6 a 12 de Julho de 2006.

8 Comentários:

Às 18 julho, 2009 11:20 , Blogger antonio ganhão disse...

O voo e o mergulho, nunca tinha reparado como são tão similares!

 
Às 18 julho, 2009 11:41 , Blogger Meg disse...

Peter,

Pelo que constato, estás de férias..."Voo" junto ao mar, rasando as ondas, nas quais mergulho.

Estás talvez aqui bem perto, agora que eu regresso.

Bons mergulhos, meu caro!

Um abraço

 
Às 18 julho, 2009 17:20 , Blogger Peter disse...

antonio - o implume

Já localizei o homem do teu conto.

 
Às 18 julho, 2009 17:24 , Blogger Peter disse...

Meg

Já visitei o teu blogue. Até lá deixei o meu "icon".

Talvez tenhamos estado bem perto. Pela foto que publiquei faz hoje 8 dias, talvez tenhas identificado a praia.

Bom fds,
Peter

 
Às 18 julho, 2009 23:01 , Anonymous Anónimo disse...

A felicidade uma maçada? hehehe
Manoel Carlos

 
Às 18 julho, 2009 23:56 , Blogger Peter disse...

Manoel Carlos

O texto gira em torno de duas citações de António Lobo Antunes. Como é brasileiro, talvez não saiba que se trata do nosso eterno candidato ao Nobel de Literatura.

À 2ª citação:
"Somos felizes acha a minha mãe. Será ideia minha ou a felicidade é uma maçada?
(...)
Quando a minha mãe acha que somos felizes o meu pai olha para mim de banda, calado" (1)

É a partir desta 2ª citação que eu desenvolvo o texto, ilustrado com uma foto a propósito e uma citação do seu conterrâneo Machado de Assis.

Não se pode avaliar e muito menos rir de um texto, a partir do falar que um romancista citado colocou na boca de uma sua personagem, esquecendo tudo o resto.

 
Às 20 julho, 2009 12:16 , Blogger Quint disse...

O meu caro amigo sempre me surpreende, e pela positiva, quando se dedica a estes exercício literários.

 
Às 20 julho, 2009 20:56 , Blogger Peter disse...

Ferreira Pinto

Também não exageres, mas obrigado pelo teu comentário.

O comentário de Manoel Carlos, se comentário se pode chamar "àquilo" deve ter sido feito a partir de uma leitura "em diagonal", o que me admira tratando-se de quem se trata.

 

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