25 de Abril de 1974
Cartoon de João Abel Manta
"Esta é a madrugada que eu esperava
o dia inicial inteiro e limpo
onde emergimos da noite e do silêncio
e livres habitamos a substância do tempo"
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
Trinta e cinco anos depois do 25 de Abril a crise do sistema partidário é evidente. De acordo com um estudo da Eurosondagem para a Renascença, SIC e Expresso, a maioria dos portugueses não se revê nos actuais partidos.
Apesar disso, os portugueses não querem a criação de novas formações partidárias, defendendo, antes, a possibilidade de candidatura de independentes à Assembleia da República.
Deixo aos eventuais visitantes deste espaço a tarefa de o comentarem. Como não há censura prévia, podem fazê-lo da forma como entenderem, mesmo anonimamente.
Se se desinteressarem do evento em si, que gozem bem o feriado.
13 Comentários:
Os partidos esgotaram-se, auto-destruiram-se, desfizeram as esperanças. Não conquistaram a confiança. Mas os partidos são formados por pessoas, e as pessoas são "cópias" de todos nós, não vieram do espaço para nos dar cabo da vida.
Teremos nós, como povo, confiança em nós? Nas nossas capacidades? Porquê esta estranha forma de vida? Este desencanto que nos persegue nas mínimas coisas que acontecem?
Não somos optimistas, na generalidade. Deixamos andar, criticamos, desconfiados, mas deixamos andar.
E, como "não há nada a fazer", baixamos a cabeça.
Sempre votei, mas este será o primeiro ano em que tal não acontecerá. Será o meu primeiro voto em branco.
Nem acredito nos independentes. No nosso sistema politico-constitucional, acabariam por ser "dependentes".
Acredito, sim, numa consciencialização de vontades, em movimentos diversos sobre matérias diversas, numa auto-formação, numa atenção constante que nos faça levantar a cabeça, e dizer NÂO ou SIM.
Questão difícil, eu sei.
Entretanto, continuaremos a deixar que meia dúzia de nós, tomem conta de nós. É mais fácil, não? E para mais, mais cómodo.
E sempre temos a TV...e outros que tais, para nos entreter no gueto, comendo o milho que lá de cima atiram aos pardais.
O Cartoon está soberbo assim com a poesia de sophia de amello Breyner.
è um país de pessoas desiludiasa sempre os mesmos partidos sempre as mesmas pessoas. Estou certa que vai haver mais votos nulos e abstenções mas isso não chega.
25de abril sempre
Não votes em branco.
Podem mudá-lo para partidário.
Nulo é mais seguro.
Pessoalmente, estou também, pela primeira vez, sem vontade de votar num partido concreto. Mas não vou votar nem branco nem nulo. Vou votar como "antigamente": - vou votar contra! Não num desses partidos cheios de esperança de alcançarem a ribalta mediática, mas sim contra, em partido super habituado a caminhar «de vitória em vitória, até à derrota final»! sempre é mais eloquente que nulo e mais seguro que branco.
Mas sobre a questão de fundo que colocaste: - porquê conformarmo-nos com este estado de coisas se os partidos são meras cópias de "nós" próprios, porquê não mudarmos isto? Creio que alguns analistas têm explicado isto. Penso em Medina Carreira e, em entrevista recente, João César das Neves; este, denunciou a classe média: - médicos, farmacêuticos, magistrados, funcionários públicos, operários dos sindicatos - como responsável por forçar os políticos a aprovarem leis que satisfazem os seus interesses corportivos à custa do descalabro governativo alheio ao interesse geral de desenvolvimento económico e social de todos.
Eu tendo a concordar com esta posição - ela situa-nos na responsabilidade própria pelo desaire -, e só vejo como solução uma revolta séria do povo, dirigido por intelectuais honestos e esclarecidos que estirpem o cancro da falsidade demagógica reinante.
Medina Carreira exclui as actuais direcções e grupos militantes partidários da possibilidade dessa mudança. Propõe uma presidencialização do regime para o saneamento prévio dos partidos, mas é difícil ver quem haja credivelmente de desempenhar esse saneamento. Talvez alguém apoiado num Conselho, num Senado de Sábios...
Estou a dizer isto e a pensar numa série de políticos que têm sido críticos da nossa deriva sócio-política e que há muito já estão acima dos interesses partidários. Não citarei nomes concretos, mas todos podemos encontrá-los entre os críticos ex ou super-partidários. Quanto a mim, Medina Carreira teria nesse Conselho um lugar de honra e João César das Neves só pelo desembaraço do seu diagnóstico político, entrava também com direito de veto a todas as imbecilidades demagógicas que de novo surgissem.
Isto é o que penso, isto é o
que gostava que fizéssemos, já!.
Não voto branco nem nulo.
Voto contra.
anónimo
Apreciei bastante a sua opinião, estamos no mesmo barco: "deixamos andar, criticamos (com cuidado, não nos caia um processo em cima...) desconfiados, mas deixamos andar."
[E, como "não há nada a fazer", baixamos a cabeça.]
Sempre votei e irei votar, mas o meu voto será nulo e não branco. Assim evitarei que coloquem lá um X "à má fila" e até poderei aproveitar o papel para desabafar.
Vbm
Não, não voto em branco, não é seguro como já disse na resposta ao anónimo. Voto nulo.
Não voto em partido super habituado a caminhar «de vitória em vitória, até à derrota final», porque tenho esta desconfiança antiga, apesar de reconhecer o trabalho meritório que, ao longo destes anos, têm feito na minha “terreola”.
“Mas sobre a questão de fundo que colocaste: - porquê conformarmo-nos com este estado de coisas se os partidos são meras cópias de "nós" próprios, porquê não mudarmos isto? Creio que alguns analistas têm explicado isto. Penso em Medina Carreira e, em entrevista recente, João César das Neves; este, denunciou a classe média: - médicos, farmacêuticos, magistrados, funcionários públicos, operários dos sindicatos - como responsável por forçar os políticos a aprovarem leis que satisfazem os seus interesses corporativos à custa do descalabro governativo alheio ao interesse geral de desenvolvimento económico e social de todos.”
Estou absolutamente de acordo. Tenho cá o livro do Medina Carreira, a minha mulher já o leu e apreciou, eu ainda não. Não conhecia a entrevista do João César das Neves, mas estou também de acordo no que respeita à culpabilidade deste “corporativismo/sindicalista”.
Portanto: “responsabilidade própria pelo desaire”.
A solução será essa:
“presidencialização do regime para o saneamento prévio dos partidos.”
Será que teremos de esperar outros 40 anos?
Mandem depois dizer-me “lá para cima”, mas é mais provável que seja “lá para baixo”.
Alexa
De tudo isto o que ficou?
Os versos da Sophia.
Querido Peter:
Na verdade os partidos são o "retrato" do povo que somos e que deixamos ser... O povo não se revê no carreirismo político dos que sucessivamente o representa em qualquer uma das bancadas... faço assim parte dessa grande maioria que não se revê nos actuais partidos.
Assim, e para cumprir Abril votarei nulo.
Beijos
Papoila
Devo ser estúpido.
Estive a ouvir o discurso do PR do qual gostei. Não tem poderes para ser mais incisivo. Disse o que era preciso ser dito, compete ao Governo actuar.
Ouvi depois o 1º ministro a pronunciar-se sobre esse discurso e não o compreendi, nomeadamente quando me pareceu que atribui a crise às actuações externas, sem admitir as nossas .
Também o lider do BE vir falar na inauguração duma praça em Santa Comba Dão, com o nome do Salazar, é caso para perguntar: "o que é que o c... tem a ver com as calças?" Demagogia barata.
Peter,
Não ouvi discurso nenhum, acabei de chegar a casa, estive a trabalhar - sou uma felizarda - e aqui estou a ler-te.
Depois de ler os comentários, e como não tenho o dom da palavra, peço licença ao Anónimo para subscrever o seu comentário.
E enquanto permitirmos que meia dúzia tomem conta de nós, ainda a coisa não vai muito mal... o pior é quando for só um.
Um abraço
Meg
É capaz de já não faltar muito...
Abraço
deixo um abraço. forte.
Decididamente de todas estas comemorações apenas vi e ouvi o Zé Mário e a Queixa das Almas Censuradas, poema de Natália Correia.
O homem até se comoveu com o sentido que isto ainda faz.
Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola
Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade
Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prêmio de ser assim
sem pecado e sem inocência
Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro
Penteiam-nos os crânios ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
conosco quando estamos sós
Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo
Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro
Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco
Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura
Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante
Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino
Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte
Ant
Não percebi nada do poema
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