O Estado, os bancos e as pessoas
“A novela dos bancos privados portugueses vai de vento em popa, por entre ex-administradores amnésicos, remunerações injustificadas, off-shores que são autênticos “triângulos das Bermudas” ou depósitos a prazo que afinal não o eram. O enredo tem todos os ingredientes de um “film noir”, e é, com toda a certeza, um puro caso de polícia. A crise internacional pode ter sido o empurrão que ninguém esperava, mas tudo leva a crer que o castelo já era de cartas e que aprendizes de Bernard Madoff não existem só nos stados Unidos. O público nunca saberá, e o Estado tardará a saber, quanto vai custar aos cofres da nação a reiterada irresponsabilidade especulativa de um punhado de gente errada, que estava no sítio errado à hora errada.
Face ao descalabro de alguns bancos, que ameaça fazer alastrar uma onda de pânico para os restantes (mesmos os sérios, que também os há), o Estado nacionalizou o BPN, e prepara-se para deixar cair o BPP. A indignação alastra. No caso do BPP, porque os seus depositantes não são cidadãos com menos direitos do que os do BPN, e porque mandá-los reclamar para a Justiça é o mais cobarde de todos os escapes, quando era ao supervisor estatal que cabia ter impedido que produtos de alto risco fossem vendidos sob a falsa capa de inocentes depósitos a prazo, brincando desonestamente com quem confiou que o BPP era melhor que o colchão lá de casa. No caso do BPN, contra os 1800 milhões de euros ali injectados: 180 euros por cada português, umas centenas, portanto, por cada família.
Era preciso, a bem do sistema? Não se sabe. O que apetece perguntar é por que razão quem já deve, legal e esforçadamente, a outro banco, tem agora que contribuir involuntariamente
para este.
Não resisto, no meio disto tudo, a deixar uma sugestão. Repare-se que o Estado dá – e a fundo perdido – o nosso (dos contribuintes) dinheiro a bancos que não o merecem. Ora, porque é que o Estado não nos dá, a nós, esse dinheiro, deixando que, com ele, muitas e muitas famílias amortizem parte das dívidas que contraíram junto desses mesmos bancos? Para quem dá, é
indiferente a quem dá; para quem recebe, é indiferente de onde recebe: o Estado dava, os bancos recebiam, mas ao menos as pessoas, através do abate da ajuda estatal aos seus montantes particulares de dívida, passariam a dever menos e a viver um pouco melhor.
A proposta é financeiramente lunática? Pense bem, Sr. Primeiro-Ministro! Politicamente, não haveria quem se lhe pudesse opor. Render-lhe-ia muitos votos, e até talvez dispensasse o ministro Santos Silva de ter que “malhar na direita” para triunfar no Outono.”
Face ao descalabro de alguns bancos, que ameaça fazer alastrar uma onda de pânico para os restantes (mesmos os sérios, que também os há), o Estado nacionalizou o BPN, e prepara-se para deixar cair o BPP. A indignação alastra. No caso do BPP, porque os seus depositantes não são cidadãos com menos direitos do que os do BPN, e porque mandá-los reclamar para a Justiça é o mais cobarde de todos os escapes, quando era ao supervisor estatal que cabia ter impedido que produtos de alto risco fossem vendidos sob a falsa capa de inocentes depósitos a prazo, brincando desonestamente com quem confiou que o BPP era melhor que o colchão lá de casa. No caso do BPN, contra os 1800 milhões de euros ali injectados: 180 euros por cada português, umas centenas, portanto, por cada família.
Era preciso, a bem do sistema? Não se sabe. O que apetece perguntar é por que razão quem já deve, legal e esforçadamente, a outro banco, tem agora que contribuir involuntariamente
para este.
Não resisto, no meio disto tudo, a deixar uma sugestão. Repare-se que o Estado dá – e a fundo perdido – o nosso (dos contribuintes) dinheiro a bancos que não o merecem. Ora, porque é que o Estado não nos dá, a nós, esse dinheiro, deixando que, com ele, muitas e muitas famílias amortizem parte das dívidas que contraíram junto desses mesmos bancos? Para quem dá, é
indiferente a quem dá; para quem recebe, é indiferente de onde recebe: o Estado dava, os bancos recebiam, mas ao menos as pessoas, através do abate da ajuda estatal aos seus montantes particulares de dívida, passariam a dever menos e a viver um pouco melhor.
A proposta é financeiramente lunática? Pense bem, Sr. Primeiro-Ministro! Politicamente, não haveria quem se lhe pudesse opor. Render-lhe-ia muitos votos, e até talvez dispensasse o ministro Santos Silva de ter que “malhar na direita” para triunfar no Outono.”
(José Miguel Sardica - Professor da Universidade Católica Portuguesa - in Página1 - Jornal Online)
5 Comentários:
Suponho que quer os depositantes do BPP quer os do BPN têm os seus depósitos garantidos, isto é, podem reembolsá-los quando quiserem.
Já as aplicações de rendimento financeiro, essas não têm o reembolso de capital assegurado.
Julgo que não há discriminação entre os depositantes e os subscritores de aplicações bolsistas de um e do outro banco.
Os cidadãos fingem não perceber a diferença entre um banco e um particular. E ela é abissal.
Um particular que deposite 100 euros num banco, recebe deste a promessa de ter esse dinheiro disponível a todo o momento;
contudo, dos 100 de depósito que o banco recebe, 94 euros são emprestados, mediante juro, a terceiros que podem vir a pagar ou não;
se todos os depositantes correrem a levantar os seus depósitos, o banco abre falência e os depositantes encaixam o seu prejuízo - no montante que exceda o garantido pelo estado.
Portanto, nacionalizar um banco é o método de obstar à regressão pré-histórica da troca directa de produtos e correpondente colapso terrorista da liberdade.
Discordo só num aspecto: eram gente certa, no local certo e sobretudo no país certo, como se pode ver.
Nós é que tivemos azar, que temos que pagar a sorte deles.
vbm
Bem, tu é que és técnico, mas parece-me que não argumentaste com o autor do post, que eu transcrevi por achar interessante e por ter sido escrito por um prof catedrático duma Universidade credenciada.
Segundo o que tenho lido na imprensa, os depositantes do BPP não têm os seus depósitos garantidos, ou, pelo menos, não podem ser reembolsados quando quiserem, mas só quando o banco estiver em condições do poder fazer.
Não. Os depósitos podem levantar, se é que já não os levantaram todos. O que não podem levantar é os capitais que aplicaram em bolsa, mesmo se o BPP se comprometeu reembolsar o capital, a todo o momento que cada um quisesse. Porém, prometeu o que não podia garantir. É negócio privado.
vbm
Não há dúvida que os media explicam mal os assuntos. Se calhar é de propósito.
Bom fds :)
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