quinta-feira, novembro 20

Gostar e amar

"Não tenho seja o que for contra o meu marido, não tenho seja o que for contra ninguém. No caso de perguntarem
- Gostas dele?
respondo que gosto sem saber ao certo o que é gostar de ti, o que isso significa" (*)

Gosto de te ouvir rir quando converso contigo, como gosto de estar junto a ti e de te sentir satisfeita. Sinto-me feliz por isso, por te dar este prazer. Gosto de te poder ser útil e procuro ajudar-te com os meus conselhos, como me preocupo com a tua saúde.
Será isto o amor? Se calhar não é, se calhar nunca amei ninguém.

Lembro-me da minha mãe, depois de terem morrido os meus outros dois irmãos, se ter tornado extremamente possessiva, agarrando-se a mim aos beijos e de eu a afastar.

- "Não tens coração. No seu lugar tens uma pedra", dizia-me ela. Talvez fosse isso que me marcou para sempre ...

"Somos felizes acha a minha mãe. Será ideia minha ou a felicidade é uma maçada?

(...)

Quando a minha mãe acha que somos felizes o meu pai olha para mim de banda, calado" (*)

Se calhar é mesmo uma "maçada".

Os telemóveis servem para comunicar, embora sejam utilizados principalmente para conversar, ou namorar. O pior é a conta das chamadas ...
Mas essa obsessão quase doentia de estar sempre em contacto, não será uma manifestação de insegurança de um e controlo que o outro sente pesar sobre si e que por isso acha que lhe corta a liberdade?

Os homens querem-se livres como os pássaros, como dizia o professor Leal, no livro de Isabel Allende, "De amor e de sombra":

- "se a liberdade é o primeiro direito do homem, com maior razão devia sê-lo para as criaturas com asas nas costas"

Por isso gosto de os ver voar livremente e como gostaria de me poder juntar a eles ...

"Voo" junto ao mar, rasando as ondas, nas quais mergulho.

-----------
(*) - Citações de António Lobo Antunes, in "Crónica do domingo de manhã", revista VISÃO nº 696 de 6 a 12 de Julho de 2006.
- Texto do livro “nuvens” a publicar, espero…

20 Comentários:

Às 20 novembro, 2008 08:57 , Anonymous Anónimo disse...

Se me é permitido, e apesar de eu não ser nenhum crítico literário, não está mal este ensaio de escrita entrecuzada entre as palavras próprias e as respigadas a esse Lobo Antunes, escritor de nomeada e de nem sempre fácil leitura!

 
Às 20 novembro, 2008 09:22 , Blogger Peter disse...

Ferreira-Pinto

Por favor, deixemo-nos de cerimónias que não têm razão de ser.
Agradeço imenso o seu comentário, tanto mais que estou a fazer uma selecção de textos para EVENTUAL publicação, pois não é fácil penetrar no mundo editorial.

Abraço

 
Às 20 novembro, 2008 10:03 , Anonymous Anónimo disse...

Não é cerimónia, Peter, é mesmo da minha natureza.

Mas na essência, acredita quando digo que apreciei o estilo entrecruzado (e que não é fácil, especialmente quando se pretende obter um texto lógico, sequente e agradável de ler).

 
Às 20 novembro, 2008 10:32 , Blogger Peter disse...

Obrigado. Para mim são essenciais os comentários, para minha orientação.

Abraço

 
Às 20 novembro, 2008 11:11 , Blogger Marta Vinhais disse...

Texto interessante e identifico-me com algumas das citações.
Para dar um exemplo: a minha mãe sempre achou que éramos felizes e eu sempre me senti muito infeliz...
Obrigada pela visita; andar à chuva ajuda mesmo a pensar...
Beijos e abraços
Marta

 
Às 20 novembro, 2008 11:51 , Blogger joshua disse...

O ser humano exige espaço para a felicidade de não ser obrigado a ser feliz aqui ou ali, com A ou com B.

É um alívio não ser obrigatoriamente feliz diante de toda a gente, mesmo sendo-o completamente.

 
Às 20 novembro, 2008 12:14 , Blogger Peter disse...

Marta

O teu blog deve estar com problemas. Vê isso.
Vai dando notícias, sempre fui um bom ouvinte.

 
Às 20 novembro, 2008 12:16 , Blogger Peter disse...

joshua

Um amor sufocado fenece e morre. Como pode florir uma paixão sendo imposta unilateralmente?

 
Às 20 novembro, 2008 12:55 , Anonymous Anónimo disse...

PETER em resposta à pergunta sobre o assento da bicicleta ... eu acho é que a proprietária do outro assento (!) precisava de o "estreitar"!

Pobre senhora que se sabe que o seu "derriére" anda por aqui a ser vilipendiado, ainda atropela o atrevido caminhante que o fotografou! :)

 
Às 20 novembro, 2008 17:01 , Blogger Conversa Inútil de Roderick disse...

"Por isso gosto de os ver voar livremente e como gostaria de me poder juntar a eles ...

"Voo" junto ao mar, rasando as ondas, nas quais mergulho."

Estás à espera de amar, de querer e saber amar...

 
Às 20 novembro, 2008 18:02 , Blogger Peter disse...

Roderick

Não, já estou vacinado. LOL

 
Às 20 novembro, 2008 18:15 , Blogger Blondewithaphd disse...

LIBERDADE individual: uma das coisas que mais caras me são. Uma das que eu mais busco.

 
Às 20 novembro, 2008 19:42 , Blogger antonio ganhão disse...

"Voo" junto ao mar, rasando as ondas, nas quais mergulho.

Isto é teu?

 
Às 20 novembro, 2008 20:03 , Blogger Peter disse...

antonio-o implume

É, é meu, escrito por mim, sem qq plágio.
Ainda não te habituaste aos meus textos realistas, simples, meio irónicos e meio sonhadores?

Espero que me compres o livro, se conseguir encontrar quem o publique.

Este texto será um dos, neste momento 178, textos que seleccionei.

 
Às 20 novembro, 2008 22:50 , Blogger antonio ganhão disse...

Calma. Não te estava a acusar-te de nada, apenas não percebi onde terminava o ALA e começavas tu. A frase final tem força e está muito bem conseguida.

Quanto a encontrar editor desejo-te boa sorte e não te deixes arrastar em polémicas de quem se sente ressabiado. Passa por cima ou pelo lado, mas não lhe dês crédito.

 
Às 20 novembro, 2008 23:52 , Blogger Peter disse...

antonio-o implume

Tens toda a razão. Sou demasiado impulsivo.
Interpretei mal a tua pergunta sobre a autoria da frase:

"Voo" junto ao mar, rasando as ondas, nas quais mergulho.
É da minha autoria, nem podia deixar de ser.
As minhas desculpas. Vou apagar o COMUNICADO.

Esclarecendo,as citações do ALA são:
"Não tenho (...)isso significa" e
"Somos felizes (...) calado"

 
Às 20 novembro, 2008 23:57 , Blogger antonio ganhão disse...

Ok. Amanhã continuamos por cá.

 
Às 21 novembro, 2008 00:34 , Blogger Peter disse...

Até amanhã.
Abraço,

Peter

 
Às 21 novembro, 2008 08:39 , Blogger Menina Marota disse...

O que é a felicidade?

Em menina sempre me senti feliz.

Achava que era uma princesa, rodeada de bonecas, de afectos, das pessoas de quem gostava.

Com o crescimento, aprendi o que era a desilusão, a traição, mas mesmo desiludida, magoada com as pessoas, sentia-me feliz afinal
tinha tanto que muitos não tinham.

Quando alguém me desiludia (e já foram tantas!) agarrava-me a outras coisas que me davam prazer e sentia-me bem: escrever, passear os cães, andar a cavalo, ir ver o mar, passear junto a ele, levar os filhos ao cinema, e tantas outras coisas que faziam com que chegasse à noite e adormecesse muitas vezes, sorrindo interiormente.

A felicidade é um estado de alma.

Quando olhamos o mundo em nosso redor, apreciamos as pequenas coisas da vida, partilhamos o que de bom temos com outros, sim, aí existe felicidade... e chegamos à conclusão de que afinal somos felizes....porque afinal o que é a felicidade?

Beijinhos Peter. Gostei imenso do teu texto. Uma óptima preparação para o teu livro, sim.

 
Às 21 novembro, 2008 13:47 , Blogger Peter disse...

Menina_marota

Como dizes:

"A felicidade é um estado de alma" que se conquista dia a dia.

 

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