domingo, outubro 26

Sindicatos

Sempre fui e continuo a ser contra os sindicatos. Considero-os profundamente influenciados pelo PCP e mais prontos a defender os interesses do Partido, que os dos trabalhadores. Os sindicatos servem para dar emprego aos que se “baldam”ao exercício da sua profissão. Anos e anos fora do contacto directo com ela, acabam por desconhecer os problemas com que aqueles, que deveriam ser seus colegas, mas não são, se debatem. Lutam pela defesa do “tacho” e vão engordando e prosperando.




Gravura do GOOGLE – http://www.sntpv.com.br/

“Porco capitalista” dirão alguns dos que por aqui passam, referindo-se a mim. Bem, “porco” não sou, pois ainda hoje tomei banho e faço-o diariamente e “capitalista” muito menos. Direi mesmo que seria mais fácil ser “porco”, que “capitalista”.

Ontem, por acaso, ouvi no noticiário das 20h, Gerónimo de Sousa a arengar às massas, num comício em Leiria. Pouca gente, estão fartas da cassete e lá irão nas eleições conseguir os 10% do costume. Não aquecem, nem arrefecem, só fazem barulho, só dizem “enormidades” e são fieis cultores do “his master’s voice.” Lembram-se do boneco? Pois é, era aquele cãozinho junto à campânula e olhando para ela, escutando a voz reproduzida no gramofone.

Ouvi também o “missionário”, aldrabando, com passes de magia e ilusionismo, também um certo sentido de humor, propondo oferecer-nos este mundo e o outro, distorcendo, atirando-se aos banqueiros, enfim, o costume. Claro que as manobras dos (ir)responsáveis banqueiros são as culpadas por este enorme sarilho em que a Humanidade toda, excepto Cuba e Coreia do Norte (mas esses já estão habituados a viver mal) está metida. Mas agora não é tempo de ajuste de contas, é tempo de com “cautela e caldos de galinha” tentar curar a doente e moribunda sociedade capitalista que, ao fim e ao cabo, é aquela em que vivemos. Não é de um dia para o outro que se muda a sociedade.

Não sei a influência que o BE tem nos sindicatos, ou se dominam alguns, mas se dominam, devem fazê-lo de modo mais inteligente que o PCP.
Parece-me que é outra gente e, a prová-lo, está a previsão dos 12% (3º lugar!) nas próximas eleições para a Legislativa. Gente nova, combativa e com ideias, de “cara lavada” (pois não precisam de usar barba para assinalar a sua cor política) como a Ana Drago, uma óptima deputada. Quer-me parecer que o BE ganharia em “correr” com a 1ª geração, Fazenda, Portas, o Mendes Rosa … e, mantendo o “missionário”, promover a geração da Drago. Se tal acontecer, a curto prazo irá pedir meças ao PS.

E o PSD? Ainda existe? Já colaram os cacos? Se sim, o melhor é juntar-se ao PS que o receberá de braços abertos. Não vale a pena gastar cera com ruins defuntos. O Marcello Rebelo de Sousa lá vai dizendo que o PSD é um partido democrático e que é por isso que tem muitas “sensibilidades”, mas que quando se aproximarem as eleições todos se irão unir em torno da líder (cuidado não a sufoquem…). "O PSD não é como o PCP em que todos têm que pensar do mesmo modo", diz Mário Soares. Lá isso é verdade, se a tonalidade da voz até é só uma, igual à do Secretário.

Sabe, Prof Marcello, eu gostava de o ouvir, gostava… Pode ser que agora com o António Vitorino volte a gostar, ou talvez não, talvez passe a gostar mais de ouvir o Vitorino, mas também um ouvinte a menos não conta e não sou eu que lhe pago, ou talvez pague, com um infinitésimo dos meus impostos, pois não esqueçamos que a RTP é a TV oficial.

Ora todo este arrazoado vem a propósito de uma crónica da autoria do jornalista Emídio Rangel e publicada no jornal Correio da Manhã. Já sei, já sei que estão a torcer o nariz, não é o “intelectual” Público… Eu também torço, mas a “patroa” gosta do jornal e eu leio-o em menos de 5 minutos, o que é uma vantagem para quem tem tantos livros em fila de espera e vê o tempo a fugir-lhe. Ora o ERangel escrevia e eu subscrevo:
“Quem ouve os dirigentes sindicais falar, só pode tirar uma de duas conclusões: ou são loucos, autistas, incapazes de apresentar propostas sensatas e lúcidas, ou são demasiado estúpidos, inconscientes, e não dispõem de nenhuma informação exacta sobre o que se passa no País, na Europa e no Mundo.” Sim, porque quem se prepara para propor 5,6 e 7% de aumento mínimo de salários para a Função Pública, quando na longínqua Islândia (está muito longe, dirão, como se isso nos imunizasse contra o que está para vir) o estado não tem dinheiro para pagar ao seu Funcionalismo, a atitude dos nossos combativos sindicalistas é mesmo de “loucos”, entre aspas, pois é uma classificação política e nunca fiando...

11 Comentários:

Às 26 outubro, 2008 09:54 , Anonymous Anónimo disse...

Caríssimo, para além de agradecer os parabéns também os retribuo.
É que este espaço, graças à qualidade e diversidade do que aqui se escreve só podia ter sido um dos nossos contemplados.
Eu coloquei PETER no link, mas obviamente o dardo é para o colectivo!

Quanto aos sindicatos, eu quase que não diria melhor.
Dirigentes que se eternizam no lugar, que negoceiam muitas das vezes a pensar mais nas benesses de meia dúzia do que no colectivo ... mas é melhor estar calado, senão ainda dizem que também eu sou um perigoso reaccionário.

Quanto à leitura, de facto é melhor dedicar tempo à fila dos livros. Eu também recomecei a inclinar-me mais para esse lado. Por acaso, mantenho o "Público" como jornal de eleição, mas já nem é diário. É quando me apetece.

 
Às 26 outubro, 2008 10:12 , Blogger Peter disse...

Tal como eu. Comprei o Publico no Sábado, por causa do título a toda a largura da 1ª página, mas ainda o não li:

"SEVERA, PERSISTENTE, PROFUNDA - Crise económica vai ser duradoura, avisa a OCDE.Indústria automóvel europeia anuncia milhares de despedimentos. Inglaterra em recessão.Bancos portugueses admitem recorrer ao funde de garantia. OPEP reduz produção mas petróleo cai. Mais um dia negro nas bolsas."

Estou preocupado e desagrada-me a forma displicente como o Governo encara a Crise, talvez para não alarmar, e a forma estafada como o PCP a encara: "os ricos que paguem a crise".

Em 29 o marco alemão desvalorizou tanto, que era mais barato forrar as paredes interiores das casas , nessa altura era uso, do que comprar o papel.

Vamos sobrevivendo dia a dia e agora vamos gozar este maravilhoso sol. Ainda não se paga imposto por isso...

 
Às 26 outubro, 2008 10:15 , Blogger Peter disse...

Errata:

forrar as paredes interiores das casas com notas de Marcos

 
Às 26 outubro, 2008 12:42 , Blogger vbm disse...

É lamentável, mas merecida a tua crítica arrasadora dos sindicatos.

Lamentável porque os sindicatos foram historicamente um baluarte de resistência à exploração desenfreada dos patrões no século xix e conseguiram a aprovação de leis que centraram a vida económica num respeito mínimo pela pessoa e pela família de cada trabalhador.

Merecida, porque essas instituições foram ultrapassadas pelo bom senso geral da sociedade e tornaram-se uma fonte de reaccionarismo tecnológico e social.

Conheci, profissionalmente, já alguns anos depois do 25 de Abril, um ex-ministro das Corporações e do Trabalho do governo de Salazar, na altura já um septuagenário mas, jovial, vivo, lúcido.

Então, surpreendi-o numa viagem automóvel a Madrid a ironizar que finalmente (meados anos 80) tínhamos alcançado politicamente o ideal corporativista que Salazar sempre defendera!

Cada profissão - dizia -, tinha os seus direitos e deveres por completo distintos dos das demais profissões: os médicos, senhores da ordem hospitalar e da política de saúde; os professores, ocupantes do ministério e cultores das novas ciências do eduquês; os funcionários públicos eternizados nos seus empregos seguros; os trabalhadores siderúrgicos atentamente ouvidos em todas as manifestações de greve da moribunda construção naval; os bancários, senhores da economia, com salários em notável melhoria;

etc., etc.,

Cada um com os seus direitos
todos diferentes, nenhum igual!

 
Às 26 outubro, 2008 13:04 , Blogger Peter disse...

vbm

Lúcida, extremamente lúcida a tua análise. Os Sindicatos em Portugal transformaram-se em albergues de compadrio e perderam a noção do seu dever: lutar eficasmente pela defesa dos interesse dos seus associados.

O pior é que já se caiu num temor incompreensível, que leva as pessoas a não abordar o assunto para não serem apontadas a dedo, preferindo, no máximo da coragem, deixar de pagar as quotas.

Assim não vamos a lado nenhum.

Estou-me nas tintas para que venham, ou deixeem de vir aqui comentar o texto. Pela minha parte continuarei a lutar contra tudo o que está mal no meu país.

 
Às 26 outubro, 2008 15:55 , Blogger Tiago R Cardoso disse...

dissestes tudo, partilho por inteiro a argumentação.

 
Às 26 outubro, 2008 17:47 , Blogger Peter disse...

Tiago

É verdade, "despejei o saco".

 
Às 26 outubro, 2008 20:34 , Blogger Meg disse...

Peter,
Subscrevo tudo o que dizes e acrescento que há dirigentes sindicais que qualquer dia estão há mais tempo no cargo do que Salazar esteve no governo. Porquê?
É democrático?...Diz a letra com a careta? Não me parece

Um abraço

 
Às 26 outubro, 2008 23:17 , Blogger Peter disse...

meg

É como dizes:
"há dirigentes sindicais que qualquer dia estão há mais tempo no cargo do que Salazar esteve no governo"

E depois falam do Alberto João...

Sempre pensei haver mais gente a passar por aqui. Enfim, estão acomodados.

 
Às 27 outubro, 2008 11:18 , Blogger Ant disse...

Peter, subscrevo. Até porque já escrevi sobre o assnto, em tempos. Apenas deixo a resalva que nem só o PCP influencia os sindicatos. Todos os partidos o fazem. Se o artigo tivesse sido abordado por essa via estaria perfeito.
Abraço

 
Às 27 outubro, 2008 11:49 , Blogger Peter disse...

ant

Tens toda a razão. O PSD fá-lo e o BE também, tem lá o MRPP pelo menos, para o fazer. Quanto ao CDS não sei, mas se tiver força para tanto, certamente o fará.

Abraço e boa semana.

P.S. - Quando quiseres publica. O facto de já haver um artigo publicado nesse dia, não é impeditivo.

 

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