Gerações
Olho o mundo à minha volta e sinto-me como um estranho. Sinto-me desajustado e isolado, porque este não é o meu mundo, nem pode ser, pois o mundo evoluiu.
Para melhor, ou para pior? É relativo e nem sequer posso responder à pergunta porquanto o termo de comparação seria eu, ou, quando muito, a minha geração.
E onde está esta?
Sei lá! Até porque nem sequer me dou ao trabalho da procurar e daí o meu desajustamento.
Recuso integrar-me na geração a que pertenço, embora no meu inconsciente permaneçam valores e conceitos dela nos quais fui educado e que não posso apagar, nem posso esquecer, pois os mesmos continuarão lá e, mais cedo ou mais tarde virão contundir comigo.
Se fosse um indivíduo isolado, até poderia deitar tudo para trás das costas, mas integrando-me num contexto familiar, social e profissional, sou obrigado a seguir as “regras do jogo”.
Então que fazer?
Se calhar a solução é “fazer batota”:
- Dentro do contexto em que me integro, sigo as regras do jogo. Mas esse indivíduo não sou eu. Não é o meu “eu” verdadeiro que está ali. A melhor solução será falar o menos possível, medir bem as palavras, procurar parecer igual.
- Se tentasse avançar duas gerações, tal seria impossível pois era de imediato liminarmente rejeitado, ou, quando muito, considerado como uma “curiosidade”. Acresce que a impossibilidade também seria minha, por incapacidade de adaptação.
- É pois com a geração seguinte que eu mais me identifico, compreendendo-a tal como ela é. É aqui que eu me sinto mais realizado, é aqui que eu acho que sou “eu” mesmo. Olho-a de longe, por vezes sou aceite, mas não pertenço lá.
Há vários anos, seis, sete (?) li um texto já não me lembro onde, de que não resisto a transcrever um pequeno excerto:
“Para mim a coisa mais rica que eu posso encontrar neste mundo é outro mundo interior Além disso a minha visão da vida e da idade das pessoas é muito minha. Acho que a vida é tão rápida, as pessoas que amamos são tão raras, é tão raro que nos olhem sem nos invadirem, é tão raro o respeito pelo mundo dos outros, e há tantos interiores tão desertos e estéreis, que eu habituei-me a olhar além dos corpos das pessoas. O corpo, esse traidor, como dizia Vergílio Ferreira... e é mesmo: traidor, vulnerável, precário, pequeno. Eu tento mesmo viver assim, de acordo com isto. Por natureza, acho que nem tento, fui sempre assim. Por isso não costumo catalogar as pessoas pela idade. Pessoas são mundos.”
5 Comentários:
Caríssimo,
Acho que nos sentimos todos assim: desajustados. É ainclemência da vida moderna e, sobretudo, dos grilhões sociais que nos atam. Seja como é!
Oie lindinho! As vezes também, me sinto fora do contexto. Acho que o mundo evoluiu em muitas coisas e regridiu em outras. Será que os avanços compensam tudo que foi deixado pra trás, inclusive valores morais e sentimentais?
Beijos
Esta sociedade trucida o espírito...
As normas de uma sociedade corrompida, materialista, vaidosa, ataca o "eu" consciência e solidário, transformando no "eu" egoísta.
Também eu, como tu, como muitos nos sentimos deslocados, tentamos por a cabeça de fora e respirar um ara que não seja este ar viciado que temos.
Um abraço,
Tiago
Tiago
É como dizes, estamos os dois no mesmo barco.
As pessoas perdem-se a olhar para o próprio umbigo.
P.S. - Deixou de colaborar no "Notas soltas_ideias tontas"?
Muito possivelmente não tem interesse, mas o excerto com que termino o texto é de um e-mail que em tempos me escreveram e do qual apenas guardei o texto em questão.
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