Metáforas
Li os “Capitães da Areia” há muitos anos, tinha 13 de idade.
Por um motivo qualquer, de vez em quando dou uma passagem pelos livros que já li. Há uma meia dúzia onde ainda vou retirando coisas. Este é um deles.
Curiosamente, e aparentemente, os miúdos ladrões cresceram e propagaram-se pelo mundo. São eles que tomaram conta dos desígnios da humanidade e esqueceram-se de que viveram num “trapiche” abandonado, junto ao mar. Esqueceram-se que os tambores soavam como clarins de revolta.
De repente, começam a soar gritos, sim, mas de aflição. Dando sequência aos livros de ficção científica, surgem ameaças reais de revolta contra os preços dos bens essenciais. Um pouco por todo o mundo tem-se a consciência de que os recursos não são inesgotáveis e que, afinal, há que repensar na qualidade de vida das pessoas. Todas as pessoas.
É claro que ninguém vai pensar em coisa alguma.
O mundo gira em torno dos pequenos mundos de pessoas cujo cérebro se confunde com o umbigo.
Gira em torno de pessoas que ganham dinheiro e poder de toda e qualquer maneira, sobretudo com a solidariedade, hoje um negócio muito rentável.
Os Capitães da Areia eram miúdos – que digo eu? São! –, que não tinham, têm, muitas alternativas.
E nós, que nos tornamos cada vez mais dependentes de uma vida de que desconhecemos os contornos, acabamos também por não as ter.
De repente aquele livro é uma grande metáfora sobre o mundo actual.
E nós apenas observadores, incapazes de fugir às doenças, à violência, ao desejo de ter o que não podemos mas a que sentimos ter direito.
Presos a idealizações, a desejos que observamos por detrás da janela do nosso olhar interior.
Bem sei que não estou a dizer nada de novo. Só que desta vez não me apetece escrever sobre amor e desamor.
Aliás não me apetece escrever, de todo. Por isso não escrevo.
(Foto: Ant)
10 Comentários:
Mas deixas tudo dito....
Como diz o ditado "Para bom entendedor, meia palavra basta..."
Beijos e abraços
Marta
Preste-se atenção ou não, revoltem-se ou não as populações, haja ou não crescimento demográfico e ou progresso técnico, a lei de Malthus impende sempre sobre a natureza posto que os recursos e as necessidades tendem a crescer em progressão aritmética e geométrica, respectivamente.
dizes "coisas" essenciais. sempre.
abraços
Este rapaz não deve ter mai nada com que se preocupar.
Olha enquanto isso o convite é que apareçam pela música...
abraços.
"não escreves", mas escreveste e bem.
"O mundo gira em torno dos pequenos mundos de pessoas cujo cérebro se confunde com o umbigo"
Celebremos o 1º de Maio!
celebremos, pois, Peter.
Tenho para mim que um destes dias...
herético, digo coisas... sou um dizente... ;))
vbm, as necessidades sim, os recursos... duvido... falo dos recursos que satisfazem as necessidades, não dos recursos que uns quantos têm para satisfazer as suas.
abraços.
:))
Observas bem, Ant.
Há que fazer essa ressalva!
Jorge Amado, um grande autor, dos meus preferidos a par de Camilo Castelo Branco, Aquilino Ribeiro e Ferreira de Castro. Ler Jorge Amado é sempre uma lição, sempre um prazer, Boa semana.
Para quem não quer escrever...
escreve sobre verdades indiscutíveis que, áqueles que ainda têm massa cefálica, não param de bailar ao som do pensamento e, quantas vezes, da angústia!...
Vivemos num mundo atroz em que o individualismo exacerbado tomou as rédeas da viagem. O ser humano parece que já o não é.
Autómatos de desejos, caprichos, ambições, poderes...
Mas, a verdade é que ainda há muitos capitães de areia por aí, embrulhados na multidão!
Cordialmente,
Maria Faia
Poia acho muito bem que não fales, porque já nos lembraste um dos melhores livros de Jorge Amado, que, sabe-se lá porquêultimamente saiu da estante e ainda por aqui à minha volta.. os livros são os meus bibelots.
E desculpem-me a ausência mas como é do conhecimento dos que me estõ mais próximos, fui desalojada e ando com os "fusos" um bocado baralhados. Mas isto vai ao lugar.
Um abraço, António(?)
Ah... os erros são de escrever na horizontal,porque apesar de tudo apetece-me escrever.
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