sexta-feira, outubro 19

Insegurança

No romance “A identidade” (no seguimento de “A imortalidade”?), Milan Kundera aborda o tema da insegurança do ser amado.

“Em que instante, diante de que gesto, em que circunstância precisa começa esse processo aterrador?”

Chantal diz a Jean-Marc que dormira mal e perante a insistência deste em saber o motivo, acaba por dizer que:

- “Os homens já não se voltam por minha causa”.

É a “insegurança” dela a seu respeito, como diz Kundera, através do desenvolvimento do pensamento de Jean-Marc:

“Não, não é de um olhar de amor que ela precisa, mas da inundação de olhares desconhecidos (...) Esses olhares conservam-na na sociedade dos humanos, da qual é separada pelo olhar do amor.”

Repare-se na contradição:

- não é “o olhar do amor” que lhe dá segurança. Esse já está garantido. Tornou-se um hábito ... O que a aterroriza é os homens já não se voltarem para a olhar. Esse facto causa-lhe insegurança, é “a luz vermelha a indicar que começou a extinção progressiva do seu corpo.”

7 Comentários:

Às 19 outubro, 2007 09:57 , Blogger Paula Raposo disse...

Poderá ser de facto, assim, desde que alguma vez os homens se tenham voltado para a olhar. Quando isso jamais aconteceu, a insegurança deixa de fazer sentido. Será?!!

 
Às 19 outubro, 2007 12:53 , Blogger Amita disse...

Aparente contradição numa análise redutora de uma faixa da sociedade que se gere por valores mais fúteis (a aparência). Todo e qualquer ser humano irradia brilho, condutor instantâneo do olhar, independentemente do desgaste do corpo (assim esse ser humano se sinta bem com ele próprio). Por outro lado, o saber estar, o saber ser, o saber dar sem a espera de contrapartidas, anulam a dita insegurança.
Muito havia a falar sobre este tema pertinente e talvez não tenha sido muito clara, mas espero ter conseguido passar a mensagem.
Desculpa o longo texto. É sempre um prazer vir aqui ler-te e aproveito para te desejar um lindo fim-de-semana (extensivo à Blue).
Um bjinho grande aos dois

 
Às 19 outubro, 2007 14:41 , Blogger Peter disse...

Respondendo aos comentários anteriores:

Todos nós temos fases e eu também já tive a minha "fase Kundera", assim como em poesia já tive a minha "fase ARRosa".

Trata-se de um romance em que a personagem Chantal se sente insegura por já não atrair os olhares masculinos à sua passagem e este facto causa-lhe “insegurança”, que Kundera considera como “a luz vermelha a indicar que começou a extinção progressiva do seu corpo.”

Um romance, nada mais que um romance … mas na vida as primeiras impressões são as que perduram e por isso o aspecto exterior conta muito, senão porque é que as mulheres têm tanta preocupação em "arranjar-se" ? Só para satisfazerem o seu "ego"?

 
Às 19 outubro, 2007 18:45 , Blogger Papoila disse...

Se é certo que o aspecto conta, há aqueles e aquelas que o ulrapassam com o brilho natural que irradiam.
Beijos

 
Às 19 outubro, 2007 19:17 , Blogger Peter disse...

"papoila"

É um "brilho interior" que não se detecta num cruzamento fortuito na rua.
Tem razão a sabedoria popular, quando diz:
«Quem o feio ama, bonito lhe parece»

Bom fds

 
Às 20 outubro, 2007 18:37 , Blogger António disse...

Sábio, o Kundera!
O homem (e a mulher, para que não haja dúvidas) é um ser eminentemente gregário.

Abraço

 
Às 20 outubro, 2007 20:56 , Blogger SILÊNCIO CULPADO disse...

A sociedade capitalista fez da mulher um objecto de consumo. Tem que ter formas perfeitas e rosto sedutor para que se sinta realizada. Mas há outras espécies de beleza e outras espécies de amor. Mas esses não nos ensinaram.

 

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