quarta-feira, novembro 8

Rare Earth: Why Complex Life Is Uncommon in the Universe

Em 2000 foi publicado pela editora Copernicus, Spinger – Verlag New York, Inc, - 175 Fifth Avenue – New York, NY 10010, o livro em epígrafe e que por ir de encontro ao difundido na época de 90 por Carl Sagan, levantou grande celeuma e continua a merecer a atenção dos homens de ciência.

Não sendo homem de ciência, mas um simples curioso, acabei por manda vir o mesmo, uma vez que não existe edição em português. É um livro encadernado, de 333 pp e os autores são dois cientistas norte-americanos, Peter D. Ward e Donald Brownlee, ambos professores da Universidade do Estado de Washington, em Seattle. O paleontólogo Ward é professor de Ciências Geológicas e especialista em extinções massivas. Brownlee é professor de Astronomia, liderou a missão Stardust (Poeira de Estrelas) da NASA, e é especializado no estudo das origens de sistemas solares, de cometas e meteoritos. É membro da Academia Nacional de Ciências.

Convencidos que a vida no Universo é menos disseminada do que se supõe, resolveram explicar o porquê. Com franqueza admitem: “Não podemos provar” que a vida seja rara no Universo. “Prova é algo raro em ciência. Os nossos argumentos são “ post hoc”, no seguinte sentido: examinamos a história terrestre e procuramos chegar a generalizações a partir daquilo que vimos aqui” (op. cit. p. IX).

“Aquilo que tem sido qualificado de « Princípio de Mediocridade» — a ideia de que a Terra é apenas uma entre miríades de mundos semelhantes que contêm vida — merece um contraponto. Daí a razão do nosso livro” (pp. IX-X). Talvez, apesar das incontáveis estrelas, nós sejamos os únicos seres vivos ou, pelo menos, estejamos entre os poucos escolhidos.”

“Isso é crível?” — perguntam os autores. A equação de Drake, prosseguem, “supõe que uma vez que a vida exista num planeta, ela evolui cada vez mais rumo a maior complexidade, culminando, em muitos planetas, no desenvolvimento da cultura” (p. XIV).”

1 - Características indispensáveis para a vida, especialíssimas no nosso planeta

Ao longo do livro enumeram características próprias do nosso sistema solar e planetário, bem como da própria Terra, favoráveis ao surgimento e manutenção da vida, e que dificilmente se repetiriam no Universo. De entre essas características, destacam:

- “O nosso planeta tem um tamanho adequado, uma composição química e uma distância do Sol conveniente para permitir o aparecimento da vida” (p. XXII), bem como água em quantidade no estado líquido. Se a Terra estivesse 5% mais próxima do Sol, “teria continuamente ‘efeito de estufa’” e o homem não poderia sobreviver; e se estivesse 15% mais distante, “teria continuamente glaciação” e igualmente o homem não suportaria. “Ambos os factores são considerados irreversíveis” (pp. 18-19). A órbita da terra está, portanto, no ponto exacto para a vida.

2 - Júpiter, como pára-raios, protege a Terra dos impactos siderais

- “Outro factor que claramente está envolvido no aparecimento e manutenção de formas superiores de vida na Terra é a raridade relativa dos impactos de asteróides e cometas. O que controla este baixo índice de impactos? A quantidade de material deixado num sistema planetário após a sua formação pode influenciar nesse índice: quanto mais cometas e asteróides há entre as órbitas dos planetas, maior é o número de impactos e há mais hipóteses de extinções massivas devido a eles. Mas não só isto. Os tipos de planetas num sistema podem também afectar o número de impactos, e assim desempenhar um papel importante na evolução e manutenção dos seres vivos. No caso da Terra, há sinais de que o gigantesco planeta Júpiter actua como um ‘pára-raios de cometas e asteróides’. Assim ele reduziu a frequência de extinções massivas, e talvez seja esta uma das razões por que foi possível surgirem e manterem-se no nosso planeta formas superiores de vida.” (p. XXII).

2 - Tamanho grande da Lua: condições para as quatro estações

Há outras características especiais no nosso sistema solar: “a Terra é o único planeta com uma lua de tamanho considerável quando comparada com o planeta que ela orbita” (p. XXII). Com efeito, o nosso satélite exerce uma influência crucial na estabilização da inclinação da Terra, mantendo-a num ângulo que permite a existência das quatro estações. Como se sabe, a Terra possui uma inclinação de aproximadamente 23 graus. Essa inclinação é conhecida como “obliquidade”, e tem permanecido praticamente constante graças ao facto da nossa Lua ser grande, impedindo variações maiores na inclinação da Terra, devido à sua força da gravidade.

Para demonstrarem a importância deste facto, os autores escrevem: “O planeta Mercúrio fornece um exemplo espectacular do que pode ocorrer num planeta cujo eixo é quase perpendicular ao plano da sua órbita. Mercúrio é o planeta mais próximo do Sol, e a maior parte da sua superfície é infernalmente quente. Mas imagens de radar feitas a partir da Terra mostraram que os pólos do planeta são cobertos de gelo. O planeta está muito próximo do Sol, mas visto dos pólos, o Sol está sempre no horizonte. Contrastando com Mercúrio, que não tem inclinação, o planeta Urano possui uma inclinação de 90 graus, e um dos pólos está exposto por meio ano [ano de Urano = 84,01 anos da Terra] à luz solar, enquanto que o outro lado experimenta uma temperatura baixíssima” (pp. 223- 224).

3 – A localização periférica na galáxia possibilita a vida na Terra

“Talvez até a localização de um planeta numa região particular de uma galáxia desempenhe um importante papel. No centro das galáxias, cheio de estrelas, a frequência de supernovas e a proximidade entre as estrelas podem ser muito elevadas, a ponto de não permitir as condições estáveis e longas que são aparentemente requeridas para o desenvolvimento da vida animal. As regiões mais afastadas das galáxias podem ter uma baixa percentagem de elementos pesados necessários para a construção de planetas montanhosos e de combustível radioactivo para aquecer o interior dos planetas. Até a massa de uma galáxia em particular pode afectar as hipóteses do desenvolvimento de vidas complexas, uma vez que o tamanho da galáxia está relacionado com o seu conteúdo em metais. Algumas galáxias podem ser muito mais favoráveis do que outras ao aparecimento da vida e à sua evolução. A nossa estrela e o nosso sistema solar são anómalos, no que respeita ao seu alto conteúdo de metais. É possível que a nossa própria galáxia seja um caso raro” (p. XXIII).

Talvez também o nosso planeta seja um caso raro na nossa Galáxia. E no Universo? Não tenho bases para especulações. Claro que se trata de uma tradução livre e anotada e que a obra não se pode resumir num artigo de blog.

Etiquetas:

7 Comentários:

Às 08 novembro, 2006 13:29 , Blogger Peter disse...

"bluegift", considero a tua resposta extremamente inteligente e não excluo os OVNIS.

A "teoria das cordas" tenta unificar a "relatividade geral", que se ocupa do "muito grande" e a "mecânica quântica", que se ocupa das leis do muito pequeno.

A "Teoria M" parece conter não só "cordas vibrantes", como membranas bidimensionais vibrantes, corpos tridimensionais ondulantes (chamados "três-branas"), além de um conjunto de outros ingredientes. Tal como a 11ª dimensão, estas características da "Teoria das cordas" surgem quando os cálculos são libertados dos métodos de aproximação utilizados antes de 1995.

O universo ser infinito?

Não sabemos. Além de certo limite, a luz já não consegue alcançar-nos. Este horizonte corresponde a uma época em que a temperatura seria de cerca de 3.000 graus o que no "relógio convencional" (chamemos-lhe assim...) do Big Bang, corresponderia a um universo já com cerca de 300.000 anos.

 
Às 09 novembro, 2006 00:13 , Blogger António disse...

Olá, Peter!
Li com atenção e interesse o teu artigo.
Não tenho nada a comentar pois não domino o assunto minimamente e, nestas circunstâncias, mais vale guardar de Conrado o prudente silêncio.
Obrigado pela visita.
Ricardo, Ana Maria e Joana são os três filhos do casal proprietário e morador da casa das Antas (António José Costa Lima e Maria Helena).
Ai essa memória...eh eh

Um abraço

 
Às 09 novembro, 2006 00:22 , Blogger Fragmentos Betty Martins disse...

Olá Peter

Eu penso que nunca é demais falares deste assunto que é tão apaixonante. Leio e releio com muita atenção, porque é algo que me interessa imenso. Fascina-me procurar respostas (talvez nunca as vá ter) mas não é por isso que eu as deixo de procurar.

Ainda hoje é desconhecido o número total de enxames de galáxias existentes no Universo, assim como a época em que se começaram a formar.

Obrigada pelas lições que me “dás” aqui.

Beijinhos

 
Às 09 novembro, 2006 02:15 , Blogger Maria Carvalho disse...

Obrigada pelas palavras nas romãs. Beijos.

 
Às 09 novembro, 2006 10:49 , Blogger Papoila disse...

Peter obrigada pelo comentário no campo e devolvo a pergunta que se adequa a este texto fascinante e que nos remete para as razões porque a vida no universo é invulgar.
"Que é a vida senão uma longa esperança em que a vida se consome ...

Sim, que é?"

Essa a nossa demanda... a nossa procura do Graal.
Beijo

 
Às 09 novembro, 2006 13:38 , Blogger Amita disse...

Olá Peter
Estes textos são bastante interessantes e este é particularmente claro. Para uma leiga como eu neste domínio, é com imenso gosto que os leio. Saio sempre daqui com mais alguns conhecimentos.
Um bjo e um dia de sol

 
Às 09 novembro, 2006 13:45 , Blogger Amita disse...

Peter
Ontem passei por aqui num breve intervalo dos meus afazeres que não me deu espaço para comentar.
Por isso mesmo regressei hoje.
Confesso que a net anda um bocado distante nomeadamente à noite para descanso do meu sono.
É sempre um prazer ler-te
Um bjo

 

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial