Luís Sepúlveda
Gosto de Luís Sepúlveda como pessoa e como escritor. Acabei de ler o seu último livro publicado entre nós: “O poder dos sonhos”, talvez o mais politizado dele, que nos fala do seu país, o Chile e das “operações de cosmética” a que o mesmo tem sido submetido, mas que não disfarçam a realidade subjacente no quotidiano.
“Surpreendem-me as palavras e o seu poder de criar realidades …”
Talvez os portugueses tivessem deixado de sonhar. Talvez …
No seu livro “Mundo do fim do mundo”, que denuncia a exploração sem qualquer pudor, dos recursos do Planeta pelas nações ricas e poderosas, o que mais me impressionou foi a descrição que ele faz da actuação de Pedro Pequeno na sua luta contra o baleeiro japonês e da actuação das baleias e golfinhos, vindas em sua defesa:
“Quando lancei o escaler ao mar e remei para o barco baleeiro sabia que os tripulantes iriam atacar-me e que as baleias, vendo-me indefeso, atacado por um “animal” maior, não hesitariam em acudir em minha defesa. E assim aconteceu. Tiveram compaixão de mim.
(…)
No momento em que o Pedro Pequeno, no seu frágil escaler, investiu contra o barco de pesca japonês, uma baleia com todo o cuidado afastou-o do navio.
(…)
Então, obedecendo a uma chamada que nenhum outro humano ouviu no mar, um chamamento tão agudo que estremecia os tímpanos, trinta, cinquenta, cem, uma multidão de baleias e golfinhos nadaram até quase tocarem a costa, para regressarem com maior velocidade ainda e chocarem com as cabeças contra o barco.
Sem lhes importar o facto de que em cada ataque muitos morriam de cabeças rebentadas, os cetáceos repetiram os ataques até que o Nishin Maru, empurrado contra a costa, correu o risco de encalhar. (...) quando o tinham prestes a encalhar nem sequer lhe tocaram.”
Quem é que falou para aí na “exclusividade” da racionalidade dos humanos?
4 Comentários:
O velho que lia romances de amor
"António José Bolivar Proano tirou a dentadura postiça, guardou-a embrulhada no lenço, e, sem parar de amaldiçoar o gringo que estivera na origem da tragédia, o administrador, os garimpeiros, todos os que insultavam a virgindade da sua Amazónia, cortou com um golpe de machete um grosso ramo e, apoiando-se nele, pôs-se a andar na direcção de El Idílio, da sua choça e dos seus romances, que falavam do amor com palavras tão bonitas que às vezes lhe faziam esquecer a barbárie humana."
Tal como a mim este livro maravilhoso me faz esquecer a indiferença humana. Julgava eu, na minha ingenuidade, que ainda havia pessoas interessadas na defesa do Planeta, no Green Peace, afinal é tudo "show off".
História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar
"O humano acariciou o lombo do gato.
- Bem, gato, conseguimos - disse ele suspirando.
- Sim, à beira do vazio compreendeu o mais importante - miou Zorbas.
- Ah, sim? E o que é que ela compreendeu? - perguntou o humano.
- Que só voa quem se atreve a fazê-lo - miou Zorbas."
Olá Peter também gosto do Luís Sepúlveda e também estou a ler o último livro dele "O poder dos sonhos" que comprei há dias. Obrigada pelos vários excertos.
Beijo
"papoila", passei a incluir-te nos links do meu blog.
Bom fds
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