Ciência e Religião
É um tema que não se esgota, que não pode ser tratado sob a rama e sobre o qual nem eu sou a pessoa mais indicada para o fazer.
Em Novembro de 1996 a Gradiva publicou um pequeno livro de cerca de 140 páginas, "A mais bela história do mundo", que eu já conhecia por mero acaso, pois encontrava-me em Paris nesse ano e como sou um "rato de livrarias", comprara "La plus belle histoire du monde", 1996, Éditions du Seuil.
É um livro que em Portugal tem conhecido sucessivas edições, que rapidamente se esgotam. Ontem dei com uma nova, que julgo ser a 6ª.
Vou transcrever (será plágio?) um excerto do Prólogo, escrito por Dominique Simonnet e que versa o título em epígrafe. Talvez esse simples facto, sem qualquer fim lucrativo para mim, mas apenas demonstrativo do meu agrado pelo que li, vos aguce o apetite (será publicidade?). Talvez apareçam contributos para o tema, se por acaso lerem o artigo, o que poderá parecer pretensiosismo da minha parte, mas não é, acreditem que não é:
"Donde viemos nós? Quem somos nós? Aonde vamos nós? Estas são bem as únicas perguntas que vale a pena formular. Muitos, a seu modo, têm procurado a resposta, quer no cintilar das estrelas, no vaivém dos oceanos, no olhar de uma mulher ou no sorriso de um recém-nascido ... Porque vivemos nós? Porque existe um mundo? Porque estamos aqui?
Até há pouco tempo, só a religião, a fé, a crença ofereciam uma solução, mas hoje também a ciência tem sobre o assunto uma opinião.(...)
Descobriremos nesta narrativa uma surpreendente coerência, pois iremos ver os elementos da matéria associarem-se em estruturas mais complexas, as quais vão combinar-se em conjuntos ainda mais elaborados, que, por sua vez … É o mesmo fenómeno, o da selecção natural, que dirige cada andamento desta grandiosa partitura, a organização da matéria no universo, o jogo da vida sobre a Terra e até a formação dos neurónios nos nossos próprios cérebros. Tudo como se houvesse uma “lógica” de evolução.
Haverá Deus nisto tudo? Certas descobertas vão por vezes ao encontro de íntimas convicções. (...) A ciência e a religião não reinam nos mesmos domínios. A primeira aprende, a segunda ensina. A dúvida é o motor da ciência, a religião tem a fé como fundamento. O que não quer dizer que elas sejam totalmente alheias uma em relação à outra (...) Que cada um faça a sua escolha.
(…)"
(Dominique Simonnet, prólogo do livro “A mais bela história do mundo”, publ Gradiva)
6 Comentários:
Concordo com a última frase "Que cada um faça a sua escolha"...
porque o tema é realmente complicado.
Tenho estado ausente, eu sei, mas agora é questão de me organizar.
Obrigada pela visita, Peter.
Beijos e abraços
Marta
"Que cada um faça a sua escolha..." e por aqui me fico!
(o livro é excelente. tens razão.)
abraços
Não há contradição nenhuma, trata-se de um falso problema como muitos que a humanidade tem inventado. Pode-se ser, ao mesmo tempo, cientista e profundamente crente.
Olá Peter
Mais um tema para debater, quem sabe uma nova série de posts.
São realmente as perguntas que mais inquietam o homem, e na minha opinião não o deviam. São prova evidente de o homem procurar “evidenciar-se” da Mãe Natureza, não querendo aceitar como irremediável o seu papel na arquitectura Universal. Por agora fico-me por aqui.
Ciência e religião. Duas perspectivas de tentar responder à inquietude. A da ciência de uma certa forma, estamos a discutir no meu blog, quanto à religião fia mais fino. No âmbito da religião, teremos de retirar o conceito de Deus, pois a religião em si é uma organização feita pelo homem e para o homem, que se tenta justificar utilizando o seu nome e normalmente o de um personagem terreno que diviniza para lhe servir de elo de ligação. Todo e qualquer conceito religioso a este respeito, não merece credibilidade, a História assim o demonstra.
Vou pensar no assunto, talvez o venha a bordar.
Um abraço. Augusto
"h.sousa", o que está escrito é: "a ciência e a religião não reinam nos mesmos domínios (...) o que não quer dizer que elas sejam totalmente alheias uma em relação à outra."
Um cientista pode perfeitamente ser profundamente crente e trabalhar com todo o seu saber no CERN (p.e.).
Augusto, todas essas perguntas eu faço a mim mesmo há longos anos.
Como transcrevi:
"a dúvida é o motor da ciência"
e como diz o Reeves:
"O Big Bang é verdadeiramente a origem das origens? Disso nada sabemos (...) num caldo de matéria informe, levado a temperaturas da ordem de milhares de biliões de graus. É o que se chamou de Big Bang (...) naquelas temperaturas tão elevadas, as nossas noções de tempo, de espaço, de energia, de temperatura já não são aplicáveis. As nossas leis não funcionam, estamos totalmente desprovidos."
Como te disse, acredito na fiabilidade da teoria, embora esteja longe de ser inteiramente satisfatória, pois comporta ainda muitas fraquezas e pontos obscuros, e admiro o Hubert Reeves.
Claro que concordo a 100%, quando escreves:
"a religião em si é uma organização feita pelo homem e para o homem"
Abraço
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