NÓS NÃO
Hoje qualquer criança
Quando resolve nascer
Tem à sua disposição
Tudo o que possa parecer
Necessário p´ra ocasião
Mas nós não!
Na hora de procriar
Qualquer mãe informada
Diz quando quer engravidar
Tem médico, ginecologista
Psicólogo pediatra
Todo um mundo que lhe trata
De tudo p´ra data prevista
P´ra preparar a função.
Mas a nossa mãe não!
Se a criança quer nascer
Tem hospital maternidade
Tudo próximo logo à mão
E com médico enfermeira
Ele parteiro ela parteira
E tem de ser assim senão
Alguma coisa pode enguiçar.
Mas nós não!
E não tem que ir a pé
Mesmo p´ra curta distância
Porque tem carro ou ambulância
Ou barco ou avião
Lá ir a pé é que não.
Mas nós não!
Era mesmo a pé, por que não?
Logo desde o princípio
Sabe-se se tudo corre bem
Tudo verificado desde início
Ao milímetro como convém
Mas assim neste processo
Não há surpresas p´ra ninguém
Mas nós não!
Nós nunca sabíamos nada
Até tinha mais piada.
Nós quando quisemos nascer
Avisámos a nossa mãe
Porque nesse tempo ninguém
Nos sabia bem dizer
Quando é que podia ser.
A iniciativa era nossa
Quando a mãe percebia
Procurava quem sabia
E dizia o que sentia.
Toda a gente se mobilizava
Quando a notícia soava
Iam buscar a alcoviteira
Que fazia de parteira
E ela é que nos puxava
P´ra vermos a luz do dia
E era ela que dizia
Se era um lindo menino
Ou uma linda menina
E se a gente não gritava
Era ela que nos batia.
Ficávamos logo à partida
Preparados para a vida.
Estas são as razões
Porque ainda estamos vivos
Habituados a aguentar
Sempre ocupados e ativos
Prontos para continuar
Enquanto a vida durar.
25.05.2013
Vítor C. Gonçalves
Lido no encontro dos professores do Curso de 1954 da Escola do Magistério de Évora
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