segunda-feira, setembro 14

SUPERNOVAS

Uma estrela com uma massa pelo menos 8 vezes superior à do nosso Sol pode durar apenas alguns milhões de anos, pois gasta o seu combustível (hidrogénio) muito mais rapidamente que este, agora na “meia idade” dos seus 10 mil milhões anos de vida.

Assim que todo o hidrogénio do núcleo estelar se tiver fundido em hélio, a estrela começa a transformar-se numa “super-gigante vermelha”, isto é, um núcleo de hélio rodeado por uma camada de gás em expansão e assim irá ser durante o milhão de anos seguinte, com o núcleo a encolher à medida que as reacções nucleares vão criando elementos mais pesados, numa estrutura que faz lembrar as camadas de uma cebola. Estas camadas são constituídas por carbono, oxigénio, azoto e silício, tudo componentes essenciais de mundos como o nosso e da própria vida.

Simplificando: o núcleo da estrela terá um centro de ferro com um tamanho aproximado ao da Terra e uma temperatura da ordem dos 5 milhões de graus, com a atracção sobre si própria da gravidade da estrela, equilibrada pela repulsão quântica dos electrões, até que, prevalecendo sobre estes, aperta-os até ao núcleo dos átomos, formando neutrões.

Deixa assim de haver oposição à pressão no sentido interno e a gravidade faz colapsar o núcleo, reduzindo-o a uma esfera de 10 a 20kms de diâmetro, fase em que a repulsão quântica entre os neutrões resiste a mais compressões.

O colapso quase instantâneo do núcleo desencadeia uma onda de choque inversa pelas camadas em colapso, seguida de uma explosão de uma magnitude, brilho e energia inacreditáveis.

Estas explosões estelares designadas por “supernovas” são acontecimentos vitais para o desenvolvimento do nosso universo. As ondas de choque que viajam desde o núcleo da estrela colapsada a velocidades da ordem dos 50 mil kms/segundo, passam através das camadas de gás que rodeiam o núcleo, gerando as temperaturas e as pressões necessárias para forjar a criação de elementos mais pesados que o ferro. Os elementos projectados para o espaço pela explosão juntam-se a outros restos estelares para formarem nuvens gigantes de gás molecular, maternidades de novos sistemas solares. É possível que o nascimento do nosso sistema Solar tenha sido iniciado pelas perturbações criadas quando a onda de choque de uma supernova próxima passou pelas faixas de gás e poeira da nossa galáxia.

Provavelmente devemos as nossas vidas à explosão de uma estrela. Pode verdadeiramente ser dito que as explosões das supernovas semeiam o universo com o potencial para criar formas de matéria complexas, como montanhas, árvores e pessoas.
A supernova Kepler, que explodiu em Outubro de 1604. Esta é uma imagem compósita criada pela sobreposição de fotografias tiradas na região do espectro entre os raios – X e a radiação de infravermelhos. Este tipo de supernova não tem nada no seu centro. Mais nenhuma foi observada na nossa galáxia desde então. Contudo, ocorrências recentes de supernovas escondidas pelo gás e poeira da Via Láctea, são agora observáveis através de raios – X e imagens de rádio.

18 Comentários:

Às 14 setembro, 2009 20:03 , Blogger vbm disse...

É impressionante! Em boa verdade, o texto é uma narrativa humana; contudo, almeja ser uma realidade que independe do narrador, uma verdade objectiva quer antes quer depois da humanidade e o narrador existir. Em filosofia, isto tem um nome: realismo - o mundo independe da mente que o percepciona, a qual é um efeito explicável pelo próprio mundo.

 
Às 14 setembro, 2009 21:22 , Blogger Peter disse...

Demasiado filosófico.

 
Às 14 setembro, 2009 23:39 , Blogger Unknown disse...

As supernovas espalham átomos de todos os elementos, é bem possível; que esses átomos se possam depois condensar em planetas num processo de formação de nova estrela é que é mais problemático. Nunca uma emulação numérica da condensação de uma nuvem de matéria originou nada que se parecesse com um sistema planetário. Será que a origem dos planetas é outra?

 
Às 15 setembro, 2009 01:24 , Blogger Peter disse...

Será?

 
Às 15 setembro, 2009 21:04 , Blogger Papoila disse...

Querido Peter:
Fascinam-me sempre estes textos. Ando numa roda viva com a pandemia da gripe A.
Beijinhos

 
Às 15 setembro, 2009 23:48 , Blogger Peter disse...

Papoila

Eu calculo. Gostei bastante do último texto que publicaste.

Aproveito para deixar bem claro o seguinte:
1 - Não ataco ninguém, mas tenho o direito a ter as minhas convicções cimentadas em astrofísicos mundialmente conhecidos, alguns já falecidos: Carl Sagan, Hubert Reeves, Trinh Xuan Thuan, Stephen W. Hawking, Fred Hoyle, Richard P Feynman, Brian Greene ("O Universo elegante"), Steven Weinberg ("Os três primeiros minutos"), Robert B. Laughlin (Nobel da Física)...

2. O artigo surgiu depois de ter devorado num dia Mani Bhaumik, autor do livro oficial do Ano Internacional de Astronomia 2009.

3. Nunca, em nenhum assunto, me considerei como detentor da "verdade única".

Desculpa, foi um desabafo.

 
Às 16 setembro, 2009 10:59 , Blogger Quint disse...

Nestas matérias, como presuma que já saibas, sou um mero leigo. Mas sempre gostei de ler sobre estas questões.

 
Às 16 setembro, 2009 12:53 , Blogger Peter disse...

FP

Tu serás, segundo dizes, um leigo e eu sou um curioso, nunca me considerei mais do que isso.

Gosto de ler e do mesmo modo que algumas pessoas fazem dos livros policiais um complemento de leitura, eu comecei a interessar-me por estes assuntos em 1983 com "Um pouco mais de azul - A evolução cósmica", do astrofísico canadiano, Hubert Reeves.

Com algumas cadeiras em Física e em Matemática, também passei pela FDL, mas os meus estudos superiores, que completei, acabaram por seguir outros dois destinos.

É óbvio que, se me interesso por um assunto, vou procurar autores credenciados e olho para qualquer autor desconhecido, com curiosidade, mas sem sentido crítico.

 
Às 16 setembro, 2009 12:58 , Blogger vbm disse...

Peter,

Sempre achei curioso que te incomodasses brava, seriamente, com 'apartes' críticos, mais mal do que bem fundamentados, aos teus textos de astronomia!

Pessoalmente, tu sabes, abri-me ao mundo maravilhoso do conhecimento dos astros com Carl Sagan, a Gradiva, os albuns de Astronomia e, agora, a net, a Nasa, e tu próprio. Mas evidentemente, nada sei de Física a sério e é por alto que leio, ouço explicar as teorias da física e da evolução do cosmos.

A minha inclinação vai, claro, para a compreensão da própria actividade de observar e conhecer o mundo a par de vigiar a lógica do pensamento dedutivo e probabilístico.

Sucede que me deparei com um pequeno texto de Lyotard - citado num estudo sobre Clarisse Lispector! :) - que admiravelmente faz eco à observação que fiz e que achas demasiado (!?) filosófica :).

Vou transcrever-lo; não é que eu seja relativista, - detesto o relativismo -, mas é muito interessante e diz o mesmo que eu digo na minha opção de realismo científico. Vê:

"No momento em que se quer converter o mundo num texto, surge a tentação de insinuar no texto um pouco do mundo."

 
Às 16 setembro, 2009 13:09 , Blogger Quint disse...

Agradeço a gentileza da resposta mas vejo-me forçado a insistir ... quando disse leigo estava a ser generoso comigo próprio. À beira do amigo, nada sei.

 
Às 16 setembro, 2009 15:04 , Blogger Joaquim Alves disse...

Meu caro Peter

O único comentário que me é sugerido quando leio estas grandezas, é que ao lê-las cada vez acredito mais em Deus.

Abraço amigo

 
Às 16 setembro, 2009 16:08 , Blogger Peter disse...

vbm

Incomodo-me porque põem em causa tudo o que li sobre o assunto durante 26 anos e ainda me incomodo mais quando quem o faz até nem escrever português sabe:

"idéias que já deveriam ter passado há história há muito tempo"

Bebeste grande parte dos teus conhecimentos nas mesmas fontes do que eu.

É natural que abordes o tema sobre o ângulo filosófico, mas eu não tenho pejo nenhum em voltar
a repetir que me é difícil entender a tua citação:

"No momento em que se quer converter o mundo num texto, surge a tentação de insinuar no texto um pouco do mundo."

 
Às 16 setembro, 2009 16:42 , Blogger vbm disse...

:) Não é difícil; é um eco do ideal racionalista de Leibniz, 300 anos depois: «Não só o mundo há-de poder explicar-se numa fórmula, como essa fórmula será o próprio mundo.»

Claro, isto é tão inverosímil que, a dar-se tal ser possível, esse princípio demiúrgico do mundo, haveria de ser, em si, o próprio mundo!

E a teoria do big-bang não inicia a narrativa do mundo por uma singularidade inicial tão específica, original e complexa

que,
desde então,
no tempo,
constituindo-o
na sua irreversibilidade
,

vigora o princípio da entropia, a desorganização crescente, a dissipação caótica da energia, que só localmente propicia a emergência da complexidade, que dessa energia se aproveita!?

Mas, no fundo, como também Marx denunciou, não é a Teoria que explica a História, mas sim a História que explica a Teoria, pelo que é o próprio mundo que possibilita a narrativa que de si próprio faz.

 
Às 16 setembro, 2009 22:30 , Blogger Unknown disse...

Peter

Imagine agora o que sentirá um cientista que há 25 anos se dedica à teoria do Big Bang, com artigos publicados, uma carreira feita, um prestigio baseado no seu domínio das complexas matemáticas da teoria, ao ser confrontado com uma nova teoria que torna em lixo todo o seu trabalho; com que cara irá ele agora enfrentar os seus alunos, quando qualquer idiota pode agora ver que o Big Bang é um equívoco?

é tramado, não é? E injusto.

E pense também nos problemas que se colocam a esse autor bem sabendo as consequências que da sua teoria podem resultar, se ela estiver tão certa como ele pensará.

Claro que esta questão que estou a pôr é meramente académica, a possibilidade de alguém aparecer com uma teoria que derrube o Big Bang é nula, e certamente que não estou a falar do meu caso, eu só escrevo umas coisas por pura diversão intelectual. Num blogue.

 
Às 17 setembro, 2009 01:35 , Blogger Peter disse...

Alfredo

“O universo não é apenas mais estranho do que imaginamos, é ainda mais estranho do que podemos imaginar” (Sir Arthur Eddingtton).

Portanto, não será “qualquer idiota” que poderá ver que o BB é um equívoco, como “a possibilidade de alguém aparecer com uma teoria que derrube o Big Bang é nula”, como o "Alf" diz.

Citando John Barrow:
“qualquer ideia nova atravessa três etapas aos olhos da comunidade científica:
1ª – É uma grande merda.
2ª – Não está errada, mas não tem certamente qualquer relevância.
3ª – É a maior descoberta de todos os tempos e nós chegámos lá primeiro.”

Atingida esta fase e se a teoria estiver correcta, não faltarão adversários actuais a reclamar prioridade na sua descoberta e, se eu ainda for vivo, lá estarei na fila para aplaudir, mesmo não sendo cientista, nem idiota (LOL).

 
Às 17 setembro, 2009 02:00 , Blogger Peter disse...

vbm

E se, em vez de anedotas de chacha, tivesse publicado no blogue textos como este comentário?

Isso sim, teria sido um contributo positivo.

O porquê do universo é a pergunta mais enigmática que existe. Felizmente para nós, a natureza deixou muitas provas "escondidas bem à vista" em todo o Cosmos. O rasto destas tem levado (até hoje) até muito perto do verdadeiro começo, o momento em que a Ciência nos diz que tudo o que vemos no céu estrelado e tudo o que está para além disso veio de uma "semente" assustadoramente muito, muito mais pequena que o ponto no final desta frase.

 
Às 17 setembro, 2009 09:12 , Blogger vbm disse...

Não sei. Por grandioso que o universo seja, a minha existência é-lhe indiferente. Como tal, não vejo nenhuma especial razão para o amar, antes diverte-me descobrir-lhe a vacuidade da existência a qual não tem propósito que a justifique e determine. Deste modo, e sigo aquele velho conselho das Selecções do Reader's Digest, «Rir é o melhor remédio!»

 
Às 20 setembro, 2009 19:15 , Blogger Peter disse...

lusitano

Einstein disse que "o facto mais incompreensível sobre a natureza é o de ser compreensível". Estava a referir-se ao facto de o universo, apesar de todos os seus mistérios, se reger por algumas leis distintamente fundamentais. Graças à Ciência, a nossa consciência é capaz de observar estas leis a actuar através do Cosmos.

Será que a nossa consciência está de facto ligada de forma intrínseca aos planos do Universo?

 

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