quinta-feira, maio 28

Partido Socialista deixa cair Vítor Constâncio

“Face à acumulação de indícios na comissão de inquérito apontando para uma actuação negligente do banco central face ao Banco Português de Negócios, a direcção da bancada parlamentar socialista já percebeu que é impossível ilibar Constâncio. Isto por mais importante que seja a ligação histórica do governador ao PS (foi secretário-geral do partido de 1986 a 1989). "É impossível não criticarmos", admitiu ontem ao DN um membro da direcção parlamentar socialista.

Resta agora saber as consequências políticas que terá sobre a continuidade de Constâncio como governador a aprovação de um relatório crítico da comissão de inquérito.
Por lei, um processo de exoneração forçada é muito complexo, tendo que passar pelo Banco Central Europeu, que nos seus estatutos garante a independência dos chefes dos bancos centrais face aos respectivos governos. A nomeação ocorre por proposta do ministro das Finanças, em resolução do Conselho de Ministros.

Falhando o apoio do PS na comissão parlamentar de inquérito, isso significa que deixa de existir o apoio do respectivo Governo.
Foi um governo do PS que nomeou Constâncio governador pela primeira vez (Fevereiro de 2000) e foi um Governo do PS (o actual) que o reconduziu (Maio de 2006). O consulado do ex-secretário-geral do PS à frente do banco central "apanhou" todo o processo de degradação do BPN, que levou à necessidade, inédita desde o período revolucionário, de o Governo nacionalizar o banco, para evitar a sua falência. O "buraco" no BPN está avaliado em 1800 milhões de euros.

A constatação, pelo PS, de que é impossível ilibar o governador de responsabilidades no caso, será, no conjunto das pressões para que Constâncio se demita, uma espécie de cereja no topo do bolo.”

(“Diário de Notícias”, por João Pedro Henriques, hoje)

13 Comentários:

Às 28 maio, 2009 19:55 , Blogger vbm disse...

Não acho mal o opróbio a que Victor Constâncio está submetido. Ser verdadeiramente independente de fracções partidárias e da opinião pública requer certas condições de possibilidade de base e, depois, um grande carácter.

Orgulho-me do pensamento crítico e independente de um Adriano Moreira, um Mário Soares, um Medina Carreira, um Marinho Pinto, um Luís Campos e Cunha e outros, que os há. Victor Constâncio não se inclui nesta Assembleia de espíritos críticos e corajosos. É justo que seja desvalorizado social e politicamente.

Contudo, é imprescindível que a Justiça seja, mais do que a supervisão, vigiada e desconsiderada pois não percebe nada de economia e de finanças e não consegue mandar prender e acusar todos os administradores do BPN, que esses foram os responsáveis da falência fraudulenta do banco.

Há dias vi de um jovem cronista do DN a pergunta mais inteligente acerca do caso BPN - válida também para o caso Freeport - a saber: «Quem ficou com o dinheiro!?». Ora, é certo que não foi o Victor Constâncio.


E mesmo que se censure o seu alto vencimento - realmente superior ao do Governador do FED, o antigo Alan Greenspan cuja responsabilidade e complexidade do cargo não sofre comparação com a do Banco de Portugal!

- embora se deva dizer que as situações devem comparar-se com cuidado pois, por exemplo, o Greenspan tinha antes e manteve durante a sua estada no FED, uma firma de consultadoria cuja facturação deveria ser bem generosa... -

o certo é que esse vencimento - ilíquido, fora o imposto, que retem cerca de 1/3 a 2/5 do bruto - sempre me repugna a demagogia de comparar ordenados brutos a ordenados baixos de 500 ou 600 euros que são quase inteiramente líquidos! -

deve corresponder para aí a uns quinze dias ou três semanas de chutos na bola do Cristiano Ronaldo, além de que, na minha hierarquia de valores, não são só "os Champalimaud's" que têm direito a ser ricos.

 
Às 28 maio, 2009 20:30 , Anonymous Anónimo disse...

Portugal deve ser o único país em que um presidente de um banco central é acusado de "negligência" na presente crise internacional.
É, no mínimo, extremamente exótico! Isto para não lhe chamar outra coisa...

 
Às 28 maio, 2009 21:03 , Blogger antonio ganhão disse...

Mas... mas... será mesmo verdade? O Vitalício Constâncio vai mesmo à vida?

 
Às 28 maio, 2009 21:53 , Blogger Meg disse...

Peter,

Eles falam, falam - não têm feito outra coisa esta noite - mas não acontece nada. E se o VC sair, o mais certo é levar uma
"recompensa" como o Miguel Cadilhe!
Ó gente, este pessoal só se move a milhões!!! E o ZÉ cá está para ir pagando...

Estou a gostar dos comentários.

Um abraço

 
Às 28 maio, 2009 22:17 , Blogger Peter disse...

António - o implume

O que vem no DN foi o que trancrevi:

"É impossível não criticarmos", admitiu ontem ao DN um membro da direcção parlamentar socialista.

Resta agora saber as consequências políticas que terá sobre a continuidade de Constâncio como governador a aprovação de um relatório crítico da comissão de inquérito.

Falhando o apoio do PS na comissão parlamentar de inquérito, isso significa que deixa de existir o apoio do respectivo Governo."

Mas é uma verdade que não vi o assunto abordado com tanta clareza em mais nenhum jornal e o facto a suceder, será sempre notícia de 1ª página.

 
Às 28 maio, 2009 22:28 , Blogger Peter disse...

vbm

"Victor Constâncio não se inclui nesta Assembleia de espíritos críticos e corajosos. É justo que seja desvalorizado social e politicamente."

O que ele ganha, e este facto só o abordo por não ser comportável com a situação económica do País, obriga-o a ser o mais eficiente e exigente possível.

 
Às 28 maio, 2009 22:29 , Blogger Peter disse...

vbm

"Victor Constâncio não se inclui nesta Assembleia de espíritos críticos e corajosos. É justo que seja desvalorizado social e politicamente."

O que ele ganha, e este facto só o abordo por não ser comportável com a situação económica do País, obriga-o a ser o mais eficiente e exigente possível.

 
Às 28 maio, 2009 22:32 , Blogger Peter disse...

anónimo

Nalguma coisa havíamos de ser os únicos...

 
Às 28 maio, 2009 22:43 , Blogger Peter disse...

antonio - o implume
(Última hora)

A deputada relatora das conclusões da Comissão de Inquérito ao “caso BPN” não tem dúvidas quanto à existência de falhas no processo que levou à crise e posterior nacionalização do Banco Português de Negócios. Sónia Sanfona não rejeita que ao Banco de Portugal e ao Governador Vítor Constâncio possam ser atribuídas responsabilidades pela situação a que se chegou no BPN. Em entrevista à Renascença, a deputada socialista classifica, contudo, de “opinião pessoal” a declaração de um membro da direcção parlamentar do PS ao “Diário de Notícias” em que são deixadas críticas ao Governador do Banco de Portugal.

 
Às 28 maio, 2009 22:46 , Blogger Peter disse...

Meg

O Miguel Cadilhe foi bem recompensado. É como dizes: "este pessoal só se move a milhões!!! E o ZÉ cá está para ir pagando..."

 
Às 29 maio, 2009 09:07 , Blogger UFO disse...

Portugal é um país de escândalos surdos. Os escandalizados são sempre poucos e não existem nunca consequências.
Os raios e os coriscos nunca acompanham os escândalos.
Os 'bifes' debatem-se com imoralidades entra os seus deputados, que nem ilegalidades foram note-se. Escandalizam-se, demitem-se, são demitidos. Fora de Portugal é assim.
Por cá os deputados nunca se demitem, nunca são demitidos. O escândalo por cá é tradicionalmente inconsequente.

 
Às 29 maio, 2009 09:21 , Blogger UFO disse...

agora, que o Vitor Constâncio, que pela incompetência não aprecio, foi referido conjuntamente com o Mário SoAres, que enfim também não aprecio pelas amizades que cultiva, vou referir um episódio de que tive conhecimento pessoal.
No dia em que o VC foi eleito secretário geral do PS (e o MS foi derrotado) desapareceram os ficheiros da Fundação de Relações Internacionais, sob as ordens do Rui Mateus. Essa instituição representava a ligação do PS a todo o Mundo e os seus ficheiros eram fundamentais.
As conclusões são fáceis de tirar e diz bem do carácter dos envolvidos nestes actos de sabotagem.
O escândalo era interior ao PS, pequeno, mas diz tudo sobre o carácter dessas figuras.

 
Às 29 maio, 2009 09:52 , Blogger Peter disse...

UFO

Concordo inteiramente consigo: "não só o escândalo por cá é tradicionalmente inconsequente", como nunca chegamos a saber o resultado de tantos e tantos inquéritos que "prontamente" mandam fazer e que depois "cristalizam" no tempo.

No segundo ponto que foca, é muito estranho (ou não será) o desaparecimento de ficheiros, bem como o assalto a tribunais em que os ladrões estão mais interessados em documentos de processos e até em processos em fase adiantada, do que em dinheiro, ou outros valores.

É um País esquisito, mas como o País somos todos nós, não sei como distinguir "o trigo do joio".

 

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