quinta-feira, maio 7

O caso BPN

A Comissão Parlamentar de inquérito ao caso BPN tem-nos surpreendido pela positiva. O longo historial de inépcia a que estas Comissões nos habituaram fazia temer, no dizer de Graça Franco (“Página1” – 06/05/09) que ela fosse apenas mais uma: “opaca, inconclusiva e inútil como a maioria das anteriores.”

“Não tem sido. Pelo contrário. Ao longo das suas sessões o país tem assistido estupefacto ao desenrolar de uma série de confissões/declarações que tem tanto de surpreendente como de aterrador.
Nalguns casos, é óbvio que nos confrontamos com elementos de uma elite político-financeira que, levada pela ganância, parece ter vivido na maior impunidade, capazes de confessar um crime com a tranquilidade de quem descreve uma boa acção.
Não nos compete julgar caso a caso o comportamento dos envolvidos. Essa é missão da justiça, num caso de polícia. Mas há lições políticas que os políticos que por lá passam não podem deixar de tirar.”

É o caso da permanência, ou não permanência de Dias Loureiro como conselheiro de Estado. As suas respostas do tipo: “não me recordo” – “já não me lembro” – “não estou a ver…” – “acho que me esqueci” – “não faço a mínima ideia”, não são as de quem desempenhou altas funções dentro da instituição em causa.

Se se demitisse do cargo de conselheiro de Estado, seria admitir uma culpabilidade que pode não ter, mas não sei se é viável ele pedir a suspensão do mesmo até completo esclarecimento do assunto, o que, para nós cidadãos, que seguimos com interesse todo este complicado e gravíssimo assunto, pareceria mais avisado.

11 Comentários:

Às 07 maio, 2009 13:54 , Blogger vbm disse...

É uma questão difícil de resolver. Por um lado, é compreensível que o Presidente não possa demitir os Conselheiros de Estado que assim vêem garantida a sua independência. Por outro lado, essa mesma independência é garantida em relação à opinião pública. Eu, pessoalmente, considero inadmissível o papel de ingenuidade comercial que o Dias Loureiro tem desempenhado ao longo deste escândalo. Mas ele tem o direito de se opor à opinião pública com o seu próprio pensamento e personalidade. Se a Justiça conseguir prová-lo culpado de cumplicidade nas fraudes do banco vigarista, aí deve cumprir a pena que for sentenciada (e, não percebo porque não!, expropriado dos seus bens e/ou dos seus familiares chegados); enquanto isso não suceder, não admiro o 'personagem', mas gosto da oposição que move à opinião pública! Lembra-me a biografia de Bertrand Russell, um incansável adversário de toda a "ditadura da opinião pública"!

 
Às 07 maio, 2009 18:03 , Blogger Peter disse...

vbm

Neste caso, o que me choca mais é o facto de "estarmos a assistir estupefactos ao desenrolar de uma série de confissões/declarações que têm tanto de surpreendentes como de aterradoras."

Nitidamente um "caso de polícia", não de "política".

Como foi possível fazê-lo durante tanto tempo? No montante de mais de 2.000 milhões de euros? Ninguém deu por nada? Só existe um responsável?

 
Às 07 maio, 2009 18:09 , Blogger antonio ganhão disse...

Até uma comissão parlamentar funciona melhor que a nossa justiça, logo a culpa não pode ser só dos políticos!

 
Às 07 maio, 2009 18:23 , Blogger Peter disse...

antónio - o implume

Não queres dar o teu palpite às perguntinhas?

 
Às 07 maio, 2009 22:08 , Blogger Papoila disse...

Querido Peter:
Faço parte dos que têm seguido estupefacta o desenrolar dos acontecimentos... Não se compreende o tipo de respostas evasivas e seria sem duvida mais avisado que Dias Loureiro pedisse a suspensão do mandato tal como outros dos inquiridos, nomeadamente o presidente do Banco de Portugal...
Beijos

 
Às 07 maio, 2009 22:33 , Blogger vbm disse...

Parece evidente que não. O Oliveira e Costa pagou a imensas pessoas quantias inexplicáveis salvo por corrupção. Viste aqueloutra declaração de um dos administradores que ouvia falar «que era difícil por causa do BI» e então julgava que «o BI era o Bilhete de Identidade»! Isto brada aos céus e é fazerem de nós imbecis.

A regulação da actividade dos bancos de investimento vai ter de ser modificada e terá de acabar a propagandeada «desregulação» que vigorou desde os anos 90. Mas uma reflexão que me suscita a extensão da crise da área financeira para a da actividade produtiva e comercial é que as quedas abruptas de produção, ao fim e ao cabo, são de bens que não interessavam por aí além, posto que as pessoas os dispensam facilmente...

O desemprego em Espanha subiu para os 17%, em Portugal para os 9 a 10%. Isto, uma coisa que também significa é que os que compravam os bens que Espanha e Portugal produziam quando o desemprego rondava os 7%, dispensam nas calmas o que deixamos de produzir, que, se calhar, nem tinha interesse nenhum...

Uma coisa que a economia tem dificuldade em observar é a utilidade específica da produção: 300.000 carros/ano possivelmente são uma coisa útil; 600.000/ano é certamente menos útil; mas, para o PIB é +50% de produção!

Lembro-me sempre daquele concurso de televisão em que o 1º prémio era 1 semana no Algarve; o 2º prémio, 2 semanas no Algarve; o 3º prémio, 1 mês no Algarve! :)

A economia tem de levar uma grande volta e os países vão ter de ser mais cuidadosos com as suas indústrias.

 
Às 07 maio, 2009 22:36 , Anonymous Anónimo disse...

O Dias Loureiro é só mais um. Nada lhe acontecerá.

Abraços

 
Às 08 maio, 2009 09:19 , Anonymous Anónimo disse...

Não se entende - mas isso já vem de há muito tempo e não recentemente, como nos querem fazer crer - como é que é possível uma Comissão Parlamentar descobrir tanta pista e roupa suja e, aparentemente, a Justiça continuar a passo de caracol e sem dar mostras de querer sair da letargia em que ronceiramente parece andar. Neste caso, como noutros.

João Gobern, hoje na Antena 1, falava nos tribunais da opinião pública sempre céleres em formular juízos de valor e, neste caso, por muito que ache verdadeiramente lamentável e até vergonhosa a prestação de Dias Loureiro compreendo o possível dilema em que o mesmo se encontra.

Como bem dizes, pedir a demissão do cargo de conselheiro de Estado seria automaticamente entendida como assumir a culpabilidade que ele afirma não ter. No entanto, a ética aconselhava a que fosse essa a atitude.

O Presidente da República encontra-se manietado formalmente, mas também não creio que uma palavra certa no lugar certo não produziria os efeitos pretendidos.

 
Às 08 maio, 2009 15:55 , Blogger Peter disse...

Muito recentemente, no final de mais uma das inquirições, Oliveira e Costa teve uma conversa amena e informal com os inspectores que o tinham interrogado.
A dado passo, o ex-presidente do BPN, irónico, afirmou o seguinte:

"Todos os meus colaboradores foram escolhidos a dedo, por serem fiéis e competentes. Nos últimos tempos, tenho descoberto que, afinal, tinham outras características. São cegos, surdos e mudos. Não se lembram de nada, nunca viram nada."

 
Às 08 maio, 2009 17:19 , Blogger vbm disse...

RAG

 
Às 08 maio, 2009 22:20 , Blogger Manuel Veiga disse...

meu caro Peter, o cheiro tresanda no ares. é apertar o nariz e aguentar...

palpita-me que não se demite, nem suspende, nem vem a tal "palavrinha" do PR, que o obrigaria.

o "bloco central" de interesses não brinca em serviço. uma mão lava a outra...

abraços

 

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