A propósito de Pessoa ...
A mim que sou um ignorante e quase um analfabeto em termos de poesia, expliquem-me, por favor, o motivo porque Fernando Pessoa só começou a ser mais divulgado e conhecido, após o 25 de Abril de 1974. Ele, que até nem se pode considerar como tendo sido um opositor ao regime de então.
Vergílio Ferreira, no seu livro "conta corrente 1", diz a respeito dele, em 15 de Dezembro de 1969:
" ... seria interessante um confronto sistemático de Pessoa com Eça, de quem ele disse muito mal e em cujos bolsos meteu às vezes a mão. Por exemplo, é citada até à náusea a frase de Pessoa: “a minha pátria é a língua portuguesa”. Mas isto está na carta IV do “Fradique: Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade”. As graves questões da vida pode Pessoa propô-las, quando as propõe, sem o risco de “sentimentalidade”, porque a cabriola com que as propõe lhes retira a “seriedade”. Pessoa desune as coisas e situações mais simples, dando sempre uma volta imprevista quando avança para elas. O que é frequente nele é não dizer nada de novo, excepto no que há de imprevisto e desmultiplicado na maneira de dizer ..."
Pois, pois, eu sei que não gostam de Vergílio Ferreira, mas o que querem (?) foi ainda meu professor e não posso esquecer que ele nos lia nas aulas uma das suas primeiras obras “Vagão J”, então já apreendida pela censura.
Não era uma pessoa simpática, mas tal nunca obstou a que nos tratasse como alunos, com o maior profissionalismo e urbanidade. E foi, não podemos esquecer, um dos melhores cultores da língua portuguesa.
Teve a ousadia de naquele período louco pós - Abril 74, enfrentar a “rebaldaria” que se vivia nas aulas e que, pelos vistos, ainda continua …
Era o período em que dominava o PCP e aí temos um opositor ao regime a ser vítima de muitos “vira-casacas” da época.
Isto faz-me lembrar a atitude deste Partido agora vinda a público, em querer avocar os louros da manifestação dos professores, que verifico com satisfação estar a ser resolvida com “flexibilidade” e “bom senso”, que teve a participação de quase toda uma “classe”, pela primeira vez unida e em que muitos/as dos/as participantes, a pesar da sua idade e dos muitos anos de Ensino, ser a primeira vez que tomaram tal atitude que não foi, talvez na esmagadora maioria dos casos, ditada por motivos de ordem política.
6 Comentários:
"bluegift"
Eu o que não compreendo, porque não sei mesmo, até porque o meu interesse pela poesia foi tardio, é o porquê de Pessoa ser considerado um "génio da literatura".
Também o Saramago foi Premio Nobel e eu nunca consegui ler um livro dele até ao fim.
Insuficiência minha, reconheço.
Peter,
Não sei se conheces um livro de Mário Saraiva "O Caso Clínico de Fernando Pessoa". Sem querer levantar polémica (quem sou eu, cheia de dúvidas) aconselho-te a leitura. E mais não digo.
Quanto ao Saramago, nunca consegui entrar naquele universo de arame farpado... desde que descobriram os Cem Anos de Solidão, a moda pegou, mas em alguns casos, muito mal. E de Saramago, também não digo mais nada, porque respeito quem gosta.
Um abraço e desculpem-me a ausência.
Um abraço
Blue
E conheces algum génio que seja "normal", seja lá o que quer que isso queira dizer - a normalidade?
Eu não, graças a Deus! A "dita" normalidade assusta-me até.
Mas gosto de ler e depois dentro de mim tentar entender e tentar resposta às minhas dúvidas.
Porque, louco ou não, é com uma frase de Fernando Pessoa que descrevo o meu blogue. E foi com um poema de Álvaro de Campos que fiz a primeira postagem.
Um abraço
"bluegift"
Na resposta que deste à "Meg" vem aquilo que eu pretendia saber, mas que não sabia:
"Ele tinha uma personalidade neurótica de tendência esquizofrénica, uma sintomatologia que faz parte de muitos génios em vários campos da Arte e da Ciência"
Continuo é sem perceber o porquê do génio de FP só ter sido descoberto, louvado e incensado, depois do 25 de Abril 74.
Como te disse, tenho lido muito pouca poesia. Comecei a ler mais quando me virei para os blogs. Foi a partir daí que comecei a comprar livros de versos de autores contemporâneos portugueses e a interessar-me pelo tema.
Olá, Peter!
Eu não percebo do assunto, mas penso que a maior parte do espólio literário do Pessoa só foi descoberto nos anos 50 ou 60.
Antes praticamente só era conhecida a "Mensagem".
Mas se calhar estou a dizer uma grande asneira!
Abraço
António
Possivelmente será como dizes.
Abraço
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