Mais rápido que a luz (a biografia de uma especulação científica)
É um livro escrito por João Magueijo, nascido em Évora em 1967, licenciado em Física na FC da UL e que, perante as limitações ao estudo da Cosmologia em Portugal, mudou-se para Cambridge nos anos 90, para o Trinity College, onde assegurou uma bolsa de estudo que lhe permitiu fazer o mestrado e o doutoramento. Foi investigador no St John’s College e actualmente lecciona Física Teórica no Imperador College, em Londres.
Ontem, na FC da UL proferiu uma palestra sobre o seu livro, com o título em epigrafe, o qual tem sido fortemente contestado:
- “Quando comecei a chamar à minha ideia VSL (variable speed of light), alguém sugeriu que as iniciais queriam dizer very silly (disparate)”.
É diferente dos livros de divulgação científica que tenho lido, os quais, normalmente seguem um determinado rumo essencialmente explicativo.
Tal não acontece aqui, onde encontramos duas partes:
A primeira é:
– A história de “c”
É a parte científica, em que o autor fala da relatividade, do big bang e da forma como o americano Alan Guth procurou, através da Teoria Inflacionária, resolver os enigmas postos pelo big bang.
Na segunda:
– “Anos - luz “
O Magueijo tem a ideia de que ”se conseguisse demonstrar que no universo primordial a luz se tivesse propagado mais depressa do que hoje, talvez conseguisse resolver alguns dos enigmas.”
É a parte pessoal: a luta contra o “statu quo” e os “monstros sagrados”, o ambiente universitário em Inglaterra, a necessidade de encontrar alguém que colabore com ele numa ideia “maluca”em que, por vezes, tem de escrever 50 páginas de fórmulas matemáticas para resolver um aspecto do problema, a colaboração de físicos experimentais capazes de verificarem as suas previsões, a “batalha Gutenberg” ( luta para conseguir a publicação do artigo numa das revistas científicas) e o seu dia-a-dia como pessoa.
Um seu colaborador, John Barrow (“O mundo dentro do mundo”, nº 99 da Gradiva, col. Ciência Aberta), “fez certa vez notar que qualquer ideia nova atravessa três etapas aos olhos da comunidade científica:
Etapa 1: é uma “grande merda”, não queremos sequer ouvir falar nela.
Etapa 2: não está errada, mas não tem certamente qualquer relevância.
Etapa 3: é a maior descoberta de todos os tempos e nós chegámos lá primeiro.”
E se a VSL estiver errada?
Aí o Magueijo diz:
“Diverte-me que alguns dos meus colegas – justiça seja feita, uma minoria de entre eles – estejam “desesperados” por ver a VSL ir por água abaixo. São pessoas que “nunca tiveram tomates” de tentar algo verdadeiramente novo. É triste que alguns cientistas nunca se afastem do que já é conhecido, quer em teoria das cordas, quer em cosmologia inflacionária, quer na teoria e prática da radiação cósmica. É óbvio que uma ideia tão doida como a VSL lhes ofende o amor-próprio: “têm” de a ver falhar para sentir o ego composto. Mas não me parece que entendam. Se a VSL falhar, tentarei outra ideia ainda mais radical:
”a ciência só vale a pena na medida em que nos é permitido perder-nos na selva do desconhecido.”
Ou como ele proferiu ontem na sua palestra:
“as leis mudam, mesmo as leis que regem o Universo”.
Etiquetas: Universo Fantástico
11 Comentários:
Este comentário foi removido pelo autor.
Olá, Peter!
Bom artigo!
Achei particularmente significativa a parte que agora reproduzo:
"Um seu colaborador, John Barrow...fez certa vez notar que qualquer ideia nova atravessa três etapas aos olhos da comunidade científica:
Etapa 1: é uma “grande merda”, não queremos sequer ouvir falar nela.
Etapa 2: não está errada, mas não tem certamente qualquer relevância.
Etapa 3: é a maior descoberta de todos os tempos e nós chegámos lá primeiro."
É mesmo assim...
E agora o meu obrigado pelo comentário à minha história do Jaquim da GNR:
Mas outras haverá se a tanto me ajudar o engenho e a arte...ah ah ah.
Abraço
"bluegift", olha só:
“A inflacção é como speedar o universo bebé. A união sobrearrefecida dos dois deuses outrora inimigos* estava abençoada com anfetaminas, conduzindo a um universo em inflacção, e não apenas em expansão. Esta primitiva orgia de expansão termina abruptamente quando a matéria sobrearrefecida congela por fim. Regressa-se então à normalidade respeitável; o universo volta ser o do big bang quente e a expansão passa a perder velocidade”.
* (a física das partículas e a cosmologia)
Um texto interessante...
Um barço ;)
Oh Peter!
Agora envergonhaste-me!!
Estou aqui no pc, meia às escuras e já com os olhos cansados! Nem detectei o erro!
Claro que é um ABRAÇO!!!
Mas fizeste-me rir!!
Bj ;)
Peter:
Mais um post de ler e deixar-me alguma inveja por não ouvir ao vivo e a cores o investigador Magueijo
Realço
”a ciência só vale a pena na medida em que nos é permitido perder-nos na selva do desconhecido.”
“as leis mudam, mesmo as leis que regem o Universo”.
Beijo
"bluegift", a palestra proferida por João Magueijo na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa sobre as leis da física, na passada 5ª feira, dia 11, intitulava-se: "A Física da Inconstância" e nela o cientista português discutiu a possibilidade das leis da Física evoluírem no tempo, contrariando a ideia de que são eternas. Em particular, João Magueijo debruçou-se sobre teorias de "constantes variáveis", as suas implicações para a Cosmologia e teorias de gravidade quântica e a sua viabilidade observacional, utilizando sempre uma linguagem, tanto quanto possível, acessível .
não há tabús. apenas há "transgressão" na natureza... e na ciência!
gosto em ler. pena ter perdido a conferência.
“as leis mudam, mesmo as leis que regem o Universo”
E não é k ele tem razão?
Beijo Peter... com aromas de luar
João Magueijo transmite-nos a esperança numa nova forma de estar em ciência. Admiro imenso a coragem dele em colocar monstros sagrados em dúvida.
Abraços
Peter,
Bluegift!
Aos dois, um Bom Ano Novo é o meu voto. :)
Nunca li o Magueijo e, dele sei só o que dizem: propõe a velocidade variável da luz
para se entender a distribuição das galáxias no espaço...
O ponto que me suscita curiosidade, porém, é o de ele se inclinar ou não para a hipótese do Big-Bang. É que, se entendi bem, esta hipótese requer a presença da matéria e da energia negra, substãncias que não têm nada a ver com os átomos que nos constiuem. Ora isto parece tão inacreditável que alguns preferem declinar o Big-Bang e e buscar outra explicação para a densidade requerida da matéria...
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