domingo, abril 23

Estudo de mulher


Na cama, onde o teu corpo de costas, se abandona
aos meus olhos, e os cabelos se espalham pela almofada,
és a mais bela das mulheres nuas. Os pés, sobre
os lençóis que o amor amarrotou, cruzam-se,
num breve descanso; e o rosto, de olhos
fechados, esconde o desejo que a tua brancura
me oferece, contra a parede que inscreve
o único limite do nosso amor. O braço direito,
caído para o chão, agarra um vazio que encho
de palavras; e o braço esquerdo, sob os seios,
indica-me o caminho em que cada repetição
é uma descoberta. Se te voltares, abrindo os braços,
e mostrando o peito, saberei o rumo a seguir,
nesta viagem em que és a proa e o vento; mas
se ficares assim, secreto retrato no atelier
do coração, apenas te peço que entreabras
os lábios, para que um murmúrio nasça
de dentro da tela. Então, cobrir-te-ei as pernas
com o lençol; espalhar-te-ei pela almofada
os cabelos, escondendo a nuca e o ombro; e
deixarei que este poema se derrame sobre ti,
ateando este fogo com que a tua nudez
me incendeia.

(Nuno Júdice, in “Geometria Variável”)

Pintura - Velasquez, "Venus ao espelho", 1649-51

4 Comentários:

Às 23 abril, 2006 18:02 , Blogger Papoila disse...

Belíssimo poema de Nuno Júdice. Muito bem escolhida a Vénus de Velasquez... "Vénus ao espelho" retrata-se no poema. Beijo

 
Às 23 abril, 2006 20:36 , Blogger Su disse...

belo texto, bela escolha a do quadro
jocas maradas

 
Às 24 abril, 2006 11:10 , Blogger Marta Vinhais disse...

Bela escolha, Peter!
Adorei o poema e o quadro de Velasquez é..........
uma beleza.
Um abraço
Marta

 
Às 24 abril, 2006 20:24 , Anonymous Anónimo disse...

poema de judice.. sempre sublime

um abraço para voces**
ate um dia

Lúcia

 

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial