Em busca da dignidade
“Tudo o que o homem procura no mundo: alguém diante de quem se possa curvar, alguém a quem confiar a sua consciência e um modo de finalmente unir todos num formigueiro, geral e consensual, pois a necessidade de união universal é o terceiro e derradeiro momento dos seres humanos”.
Fiódor Dostoiévski in “Os Irmãos Karamazov
O egoísmo atroz a que nos vamos subjugando é um fenómeno relativamente recente. As grandes urbes, o sistema criado em torno do homem que não lhe permite ter tempo para si mesmo, o conceito de competição desenfreado atravessa transversalmente uma sociedade doente. Definitivamente moribunda que se consome a si própria, dando lugar ao previsível apocalipse.
Tal como o conhecemos, o sistema Ocidental tem os dias contados. A História mostra-nos que não existem conceitos eternos. Todos acabam inevitavelmente por se
autodestruírem, vítimas das suas próprias contradições.
Um sistema que cria riqueza e não consegue distribui-la equitativamente, gerando cada vez mais o fenómeno dispensável da pobreza extrema, está condenado inexoravelmente ao aniquilamento.
Ciclicamente assistimos a fortes convulsões sociais que vão corroendo cada vez mais a ordem dominante. Desesperadamente o sistema vai reformando as formas de exploração, travestindo-as com aparentes liberdades. A verdade porém, é que o fim é inevitável.
É justo que assim seja. A dignidade humana não se pode compadecer com esquemas obscuros que permitem a poucos usufruírem do trabalho de todos.
A França atravessa um período difícil e de fortíssima contestação social que tem já contornos de revolução. A exclusão, a marginalização e a pobreza estão na origem destas convulsões que relembram as grandes manifestações de Maio de 68.
Enquanto a vizinha Espanha se debate com os Nacionalismos e com a vontade de independência de alguns dos povos ainda sujeitos ao jugo castelhano e os franceses enfrentam a violência dos bairros periféricos das grandes metrópoles, na Argentina, aquando da cimeira das Américas, grupos anti globalização protestaram de forma categórica contra o jugo dos países ricos.
Tenta o Ocidente ver na Revolução norte-americana um sinal de liberdade, esquecendo-se que em 1823 James Monroe delineou uma teoria que denominou “a América para os norte-americanos”, segundo a qual os estados Unidos se reservavam o direito de terem a última palavra a dizer em tudo o que dissesse respeito ao Continente Americano.
Não é portanto de agora a ideia desta amálgama de raças, querer dominar o mundo.
Por cá, vamos assistindo a uma Governação feita à medida de poucos, pedindo a todos que façam sacrifícios em nome de estabilidades inexistentes.
A contestação está nas ruas, o que não deixa de ser mais um claro sinal de que também nós estamos fartos da marginalização a que somos submetidos.
O mundo espera a mudança. Os humilhados e oprimidos sentem a necessidade compulsiva de lutarem pelo seu direito à dignidade.
Cada manifestação contra os poderes instituídos é um acto de descontentamento. O Ocidente está definitivamente em crise e os seus valores contestados por uma maioria da população farta de ser explorada e ignorada. Não está longe o dia em que o cenário artificial que nos foi criado acabará por ruir.
Curiosamente é também um fenómeno à escala mundial. Pode mesmo falar-se de globalização dos menos favorecidos; todos sentem na pele a necessidade de alterar este estado de coisas e pugnar por um mundo justo, onde cada um seja um homem sem necessidade de se curvar perante um semelhante.
Busca-se a dignidade. Só com ela é possível construir a felicidade.
2 Comentários:
É melhor Lisboa começar a pensar muito seriamente em pôr as suas barbas de molho ...
P.S.- Tinha acabado de publicar um pequeno post sobre este assunto. Resovi apagá-lo, por este ser mais abangente.
Interessante a coincidência do tema deste artigo (revolução de Maio de 68)ter sido hoje focado e debatido (não tão profundamente) na noite de poesia de Vermoim de que acabo de vir. Atravessamos um ciclo deveras preocupante. O Poder devia analisar a História e evitar que tais situaçõe se repetissem. Um bjo e uma boa noite
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