quinta-feira, novembro 10

Construir um país


”Precisa-se de matéria prima para construir um País

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.
Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós.
Nós como povo.Nós como matéria prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro.
Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se defrauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito.
Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos.
Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.
Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.
Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame.
Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar.
Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.
Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.

Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.

Não. Não. Não. Já basta.

Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.
Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...

Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada...

Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier.

Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?

Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados!
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...

Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.
Nós temos que mudar.
Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer.
Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que nos anda a acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.

Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.

E você, o que pensa?...

MEDITE!"

(EDUARDO PRADO COELHO - in “Público”)

(autorizada a publicação da gravura pelo autor do blog "politcatsf", que consta dos n/links)

16 Comentários:

Às 10 novembro, 2005 11:11 , Blogger Peter disse...

bluegift, não lera o artigo, chamaram-me a atenção para ele e resolvi publicá-lo, mesmo sabendo que muitos já o leram. Mas há colaboradores que não estão cá e que, muito possivelmente, não tiveram acesso a ele.
É um testemunho que aí fica.
Não é o EPC que está em causa, mas o que ele escreveu. Haverá muitos que não gostam de se verem aí retratados.
Mas é o meu País, é aqui que eu vivo e, por isso, tenho de pugnar e procurar o melhor para ele.
Haverá muitos que não gostam do Governo, quanto a mim o único que até aqui soube ir contra certas mordomias e certos "direitos adquiridos" (cassete ...).
Quanto ao candidato presidencial do PS (escolhido, ou imposto), mesmo que não houvesse mais nenhum candidato, não votaria nele.
Teve o seu lugar na História, contente-se com isso.

 
Às 10 novembro, 2005 14:41 , Anonymous Anónimo disse...

...e já sabes porque é que Sampaio diz coisas que não parecem reais?...Resposta: não vivemos numa monarquia...como tal só podemos ter Presidentes Irreais!...
FORÇ'AÍ!
js de http://politicatsf.blogs.sapo.pt e http://mprcoiso.blogs.sapo.pt

 
Às 10 novembro, 2005 17:21 , Anonymous Anónimo disse...

Naturalmente que concordo em grande parte com o aqui está escrito. Porém, acho que a questão está abordada de forma algo simplista. Clara, mas simplista.
Os governantes continuam a ter culpa de não proporcionarem aos portugueses uma educação. A falha de Abril, foi essa mesma: faltou a revolução de mentalidades. Tal só é possível com melhor ensino, com devolver a dignidade ao professor, etc, etc.
Mas está obbviamente um artigo fenomenal.

 
Às 10 novembro, 2005 17:57 , Blogger Peter disse...

zezinho, estamos de acordo:
"A falha de Abril, foi essa mesma: faltou a revolução de mentalidades."
Como essa revolução não se verificou, o País está como está.

Quanto ao Ensino,lê no artigo abaixo o comentário que lá deixei.

 
Às 10 novembro, 2005 18:01 , Blogger Peter disse...

js, ainda hoje visitei o teu blog, pois aprecio a forma humorística e cáustica com que tratas problemas sérios.
Aquele apelo para que ajudemos a "Ana São de Portugal" ...

 
Às 10 novembro, 2005 18:58 , Blogger vero disse...

Excelente artigo Peter, permite-me destacar esta parte " Estou seguro que o encontrarei quando me olhar no espelho. Aí está. Não preciso procurá-lo em outro lado"...
Beijinhos para ti, outro para letras ao acaso e mais um para a bluegift.***

 
Às 10 novembro, 2005 21:55 , Anonymous Anónimo disse...

Um artigo bem selecionado, actual no contexto e conteudo e escrito por esse grande cronista Eduardo Prado Coelho. Beijinhos.

 
Às 10 novembro, 2005 23:07 , Blogger mfc disse...

Este governo até tem feito alguma coisita, mas há tanto a mudar, há tanta injustiça, que me parece sempre pouco...e é-o na realidade!

 
Às 11 novembro, 2005 00:56 , Blogger Peter disse...

mfc, é uma atitude sensata. Não foi descoberto petróleo no Beato, portanto não há dinheiro.
A agitação social, tem razão de ser, mas ainda hoje o que vi na TV foram sindicalistas gordos e anafados.
As medidas tomadas pelo governo vão-me afectar e bastante. Mas aceito-as, porque sei que estou a dar o meu contributo para a recuperação do País.
São insuficientes? São, mas são as possíveis. Não vi, em nenhum Governo anterior estarem a actuar como estão, junto dos 4 grandes bancos na questão das contas off-shore.
Utopias do PCP e do BE, não são mais que isso: utopias.

 
Às 11 novembro, 2005 02:30 , Blogger Fragmentos Betty Martins disse...

Olá Peter

Portugal não tem viabilidade como país autónomo se não for alvo de uma revolução cultural. E essa revolução cultural obrigatoriamente que passa pelo ensino. Penso que as medidas chamadas anti-populares devem ser tomadas de uma forma rápida e urgente consistente, em fazer saber aos portugueses que têm que trabalhar em bases sérias e que não têm direito a tudo dado!
Depois, será preciso que quem tiver o poder o use para tomar as decisões necessárias a tirar o país do subdesenvolvimento. Um exemplo:
Porque será que a instalação de novas farmácias não é livre? Porque será que há farmácias cujo trespasse vale mais de um milhão de contos? E ainda beneficiam de arrendamento obrigatório, eterno e grátis!...
De facto, o sistema de pilhagem do imobiliário a que por sinergia chamam arrendamento, é outro dos câncros nacionais, aliás, o que mais contribui para o atraso económico, social e cultural do país.
Um outro câncro nacional é uma justiça, que já não existe como tal.
Quem conseguirá enfrentar e vencer essas poderosas organizações, que definham e subjuga Portugal?
Nenhum país se pode desenvolver assim. Não se fale, pois, de macroeconomia nem de qualquer estratégia de governação, antes de se enfrentarem e superarem esses três focos malignos, pelo menos. Porque isto dá pano para mangas. É só puxar a ponta do véu.

Beijinhos

 
Às 11 novembro, 2005 10:56 , Blogger Peter disse...

Pois é Betty, sobre tudo isso posso falar-te por experiência própria: farmácias, imobiliário e justiça que não me tem satisfeito atempadamente quando dela necessito. Depois há ainda a saúde, o ensino, a insegurança.
Foi a insegurança que sentiam os cidadãos que levou à ascensão dos fascismos. Por vezes os nossos políticos esquecem-se disso, ou não esquecem, porque já conseguiram acabar com a classe média em Portugal.

Este Governo começou a levantar a ponta do véu e olha a "berraria" que aí vai ...

E não são só os sindicatos, são as oligarquias e as Ordens, sucessores das antigas "corporações"

Está um lindo dia de sol e é Dia de S.Martinho, há que aproveitar.

 
Às 11 novembro, 2005 12:03 , Blogger Peter disse...

Betty, ainda cá voltei para dar uma achega sobre a Justiça que temos ( ou que não temos). Trata-se de um artigo de António Marinho,publicado no Expresso, em 17 de Setembro e onde aborda os privilégios dos magistrados.
Recebi o artigo há pouco, não sei se é verídico ou não, porque não li o jornal e é esse o motivo porque não o publico.
Parece abordar as condições em que é atribuído aos juízes o subsídio de renda de casa no valor de 700€ mensais (1.400, se a esposa também for juíza), isento de IRS, após acórdão do STA e incorporação desse subsídio nas suas reformas, nas mesmas condições dos que se encontram no activo.

Os magistrados do STA, do STJ e do TC, que residam fora da área da Grande Lisboa recebem ajudas de custo por cada dia de sessão nos respectivos tribunais (iguais às dos membros do governo).
Usufruem ainda de viagens totalmente gratuitas em todos os transportes públicos terrestres e fluviais, incluindo os comboios Alfa.

 
Às 12 novembro, 2005 02:13 , Blogger JAP disse...

É natural que lhe tenha escapado esse artigo do EPC porque... simplesmente ele nunca o escreveu. Nem o Público o... publicou. O texto não passa de uma subespécie de spam, divulgado através da internet e do correio electrónico. E acreditado pelos néscios. Que nem se deram ao trabalho de verificar a sua autenticidade. Toda a história em no blog Blasfémias.

 
Às 12 novembro, 2005 10:58 , Blogger Peter disse...

jap:

Quer o artigo tenha sido escrito pelo Prof Eduardo Prado Coelho, ou por qualquer outa pessoa, o que ali está é o que eu penso. Só terei que pedir desculpas ao Prof, por lhe estar a atribuir uma paternidade ilegítima e ao PÚBLICO, por o ter considerado como veículo difusor, de um artigo, que segundo a sua afirmação:

"É natural que lhe tenha escapado esse artigo do EPC porque... simplesmente ele nunca o escreveu. Nem o Público o... publicou. O texto não passa de uma subespécie de spam, divulgado através da internet e do correio electrónico. E acreditado pelos néscios. Que nem se deram ao trabalho de verificar a sua autenticidade."

Procurei localizar o seu blog, mas não o encontrei.

P.S. - Não gostei de ter sido considerado "néscio". E quanto a verificar a autenticidade do artigo, não tenho tempo para isso. Aliás, merece-me mais credibilidade a pessoa que o enviou, do que o seu comentário, o que não implica que o mesmo não corresponda à verdade.

 
Às 14 novembro, 2005 15:18 , Blogger Menina Marota disse...

Olá, Peter... eu assumo as responsabilidades!
Enviei-te este texto, efectivamente, ciente de que ele era autêntico!
Porquer também eu, confio na pessoa que mo enviou.
Mas, apesar de não ser da autoria de EPC, (se calhar ele nem se importaria de o ter escrito)continuo a concordar com tudo o que ali está escrito! (que pena não ter sido eu a escrever este texto...)

Sinto-me solidária contigo e se existiu algum "néscio", aqui, fui eu!!

Um beijo ;)

 
Às 14 novembro, 2005 22:45 , Blogger Peter disse...

menina-marota, já num artigo acima respondi a outro comentário seu.
A minha opinião, volto a repetir, é idêntica à expressa pelo Zé:

"Independentemente de quem escreveu ou não o texto, retrata fielmente uma realidade que eu tenho vindo recorrentemente a denominar por "somos todos culpados, mesmo que por omissão".

Quanto à questão do "néscio", é uma questão de chá. Há quem não o tenha bebido em pequenino ...

 

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial