A vertigem do delírio
Todos os frios me vieram vestir. Ouço o uivar dos ventos e as bátegas de água, a baterem nas vidraças que me costumam dar luz. Tirito. Estou gelado. Não apenas dos fortes ventos feitos frios, mas sobretudo da ausência de Sóis, e das lágrimas vertidas por este céu, sempre azul, hoje vestido de negro. Continuo gelado. Vestido de frios, ventos e gotas de chuvas, feitas bátegas e tempestades. Entre mentes. Não entrementes. Como são traiçoeiras as palavras que se pronunciam da mesma forma e têm significados tão diferentes! Começo inusitadamente a aquecer. Uma surpresa! Deste-te conta de todos os meus frios e vestiste-me de ti. Sinto o teu corpo tapando o meu, escorregando lentamente, como se de uma camada de chocolate se tratasse, dando-me calor, deixando-me adivinhar os Sóis escondidos de vergonhas e impudências! Deslizas. Sinto cada pedaço teu, fazendo-me pedaços de ti, no aconchego dos teus seios, dos teus braços que me rodeiam, dos teus cabelos que me fazem cócegas e prazeres indescritíveis. Já não estou vestido com todos os frios. Estou vestido de ti, coberto de ti, protegido por ti! As negras nuvens caminham tranquilamente no firmamento. Traçam figuras grotescas umas e outras deixam-nos adivinhar paisagens belas, ou um veleiro que passa, sem náufragos, mesmo por cima daquelas montanhas. Que estranho, um Veleiro por sobre as montanhas! O grande navio, de velas ao vento, aproxima-se rapidamente. E é então que te vejo, lá bem no alto, no cesto da gávea, acenando-me sorrisos, lágrimas de pura alegria, beijos que voam nas asas de todos os ventos. Entendo agora, porque aqueci. Senti-te. Mas antes disso, pressenti-te! Como conseguiste que esse enorme veleiro vogasse por sobre as montanhas? – O calado está esverdeado, molhado de ti e de mares calmos. Apenas um véu te cobre o corpo, tão leve que me pareces uma deusa diáfana. O vento empurra o longo tecido contra ti. Que divina imagem! Todas as formas, moldadas por um longo véu , azulado etéreo, onde consigo antever todos os prazeres. Veste-te tu agora de mim; e deixa-me ficar vestido de ti. Assim: parados algures num veleiro inventado, sem frios, que voga por sobre montanhas, empurrado aqui e ali, por hercúleos braços de ébano, colossais, belos, mas suas vestes brancas. Vou subir ao cesto da gávea. Não, não precisas de descer. Faremos amor no chão, no mastro da gávea, olhando todos os frios que se vão a reboque duma nuvem……
8 Comentários:
letrasaoacaso, mais um excelente texto, que irá certamente, fazer as delícias das tuas leitoras, duplamente satisfeitas:
- pelo texto em si;
- pela possibilidade de o poderem comentar.
É sempre bom reler-te, embora o tenha lido com outro título.
É um texto muito bonito sem dúvida.
Não podia de deixar comentar este belíssimo texto:)
Um fantástico pintor de palavras mágicas. Bem hajas.
Um abracito para todos*
Lúcia:)
Bom dia!!!
Letras, palavras para que? Sao os TEUS textos!... Um prazer sempre renovado...
Abracicos!
Olá Zé
Que dizer deste texto! É sublime a “forma das tuas letras”
“Sóis escondidos de vergonhas
e imprudências! Deslizas”.
Na doçura dum “olhar”
basta-lhes o horizonte
um leve vestígios de mãos
quietude reflectida
na lenta memórias
dos segundos
Experimental desenho
De uma “vírgula”
E o veleiro
habita no cimo
das montanhas
são as sonatas
que ficam no vento
que o leva
a navegar
Todos os “desenhos”
são presúria
na arte
D´amar
Um beijo
bluegift, pronto, já fechei a "caixa de verificação de palavras". Agora fica a teu cargo apagares o spam ...
bluegift, andas desactualizada. O que o Zé disse foi:
"todos os meus textos de opinião terão direito ao contraditório. Ou seja, terão os comentários abertos. Apenas os que considero de indole literária, terão comentários fechados."
ana, isso é um assunto que terá de ser ele a responder-te.
Deixei-te um longo comentário, de resposta ao teu, sobre "O Ensino".
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