Só.
Leio a Marquesa de Alorna carpindo amores “A Godofredo”: «Como sopra de Oeste rijo o vento! Que sussurro medonho as folhas fazem entre a floresta que reveste o monte! (…)» e faço analogias entre o estado de espírito dela e o meu agora triste e perdido nos silêncios medonhos e ruidosos.
Tento ler Pope, Lamartine, Horácio. Sem êxito!
O pensamento perde-se em ti e nada fica a não ser uma visão clara e uma vontade louca de te ouvir.
Ao menos isso: ouvir-te!
[Franz talvez seja um escritor. Vou prestar mais atenção nele. Porque alguém como Franz leria Tolstoi ou Genet? Uma coisa, Cordélia, não contarei mais nada sobre João Pater] vou lendo distraidamente Hilda Hilst e as suas “cartas de um sedutor” de novo em vão.
Hoje não consigo concentrar-me em letras, mas em ti!
Só em ti!
Nesta solidão abrupta que sobre mim se abateu, aniquilando-me, peço que deixe de respirar a esse Deus tão inclemente que teima em me obrigar a suportar a tua ausência.
Fora eu Deus e todos os amantes estariam juntos. Mas não sou. Sou apenas vítima dele.
Onde está a bondade afinal?
Que se dane Deus mais os seus conceitos. Que se dane a Igreja hipócrita, pregadora de mentiras, tão senil quanto o próprio Príncipe que dizem eles representa Deus na terra. Acham-nos idiotas, por certo!
Num acesso de Anarquismo grito furiosamente “Papa ao Poder” mas o cretino já o tem.
Subjuga milhões de pessoas fomentando a ignorância a e subserviência.
Não me curvo. Nem a Deus.
Pelos sacrifícios a que nos obriga devia ele andar vergado pelo peso de uma consciência, que está mais do que visto, é coisa que não tem.
Rio-me dele. Pode impedir-me de tudo. Mas não me pode impedir de amar.
Mesmo que num acesso de fúria me tire a vida, o amor, esse vai comigo, por ser além de eterno.
[Senhora Pearce – Tenho de a pôr aqui. Este é que será o seu quarto] – leio no “Pigmalião” de George B. Shaw, livro popularizado pela versão cinematográfica de “My Fair Lady”. Arrumo-o contra uma parede pese embora o seu sentido cáustico, as frases de uma tremenda agudeza e os aforismos.
A impossibilidade de contacto, de qualquer contacto põe-me louco.
Nem as letras nos podem unir porque as não vejo.
Quando sonho com esse corpo divino de promessas, contornos que desafiam todos os conceitos estéticos, por estares para além deles, sei que um tremendo tesão se apossa de mim e que te perfuraria mil vezes se agora te pudesse ter.
Ante a impossibilidade vou tentar concentrar-me na longa espera. Ficando com Marguerite Duras e “Os insolentes”.
10 Comentários:
Os silêncios são mesmo a forma mais ruidosa de se saber alguém presente. Tranquiliza e aproveita o sol do fim de semana, verás que não estás tão "só" assim.
É através das letras que a solidão se desfaz! E tu nunca estarás só!
Gostei de te ler.
Um beijo.
Depois de inúmeras tentativas de te ler e comentar, finalmente consigo fazê-lo.
Que se passa com o reivindicativo InApto?
Belo texto! Nem sempre a literatura consola, verdade?
Enorme beijo!
venho retrobuir a visita e assim descobrir eu própria também mais um espaço interessante.
Bom fim de semana.
Ana
retribuir...
Os teus textos transmitem os mais diversos sentimentos dependentes de quem os lê. A isso eu chamo sabedoria em cantar a beleza das letras. No silêncio da noite são mais distintas as vozes que o ruído abafa. Um belo texto, Zé, pleno de sentires. Um bjo
Peter parece que sabes exactamente como me sinto em relação a Deus...esse ser que chamam de benigno e que nos faz ajoelhar na humilhação de uma vida sem sentido...sim pk a vida só faria sentido se tivessemos opção de escolha quando ao viver ou morrer...e já todos nascemos com uma sentença de morte apenas pk nos foi dada a chance de respirar.
E que pai(Deus) pode ser tão ausente que permita a seus filhos uma guerra sem sentido algum ?? com um pai assim eu prefiro ser orfã...espiritualmente falando...pk adoro o meu pai terreno pk esse sim fica do meu lado sempre que preciso de um abraço de um carinho. beijo para ti...para Deus o meu baixar de cabeça em sinal de desilusão.
O prazer de te (re)ler é sempre grande. Beijos e bom fim de semana, Zé.
Deus é um títere... no caso de existir!
e eu quero ler-te...sempre
jocas maradas
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