quinta-feira, outubro 6

Reminiscências

No leitor de cd´s, Beatles. Uma velha colectânea com alguns dos seus – muitos – êxitos.

O que me transporta para uma geração generosa, idealista, em certa medida utópica. Mas sempre uma geração com causas.

As razões insondáveis do Tempo e forças ocultas habituadas a um status quo pré-programado, mataram quase tudo o que havia de bom na vontade de mudança.
Hoje a maior parte dessa gente generosa e utópica, que em lugar de Deuses propunha profundas alterações na forma de encarar o mundo, amor entre os seres humanos em lugar de subserviência, que colocava a flor à lapela em vez de símbolos religiosos ou outros, é uma geração amargurada, quase anti-social.
Da revolução pacífica que sonharam, resta uma sociedade ainda mais decadente do que a encontraram, enquanto a Paz que desejaram se transformou em guerras sucessivas e localizadas, a avidez do lucro, substituiu a ideia de partilha.

Portugal não passou ao lado desta verdadeira fé. Em plena época de sessenta, estudantes desafiaram o poder instituído, os jovens começaram a ter consciência de uma guerra que se travava nas antigas colónias, injusta. Incapazes de reconhecerem as razões que leva um homem a apontar e a disparar uma arma contra um semelhante, alguns – muitos – optaram pela fuga para outros países também eles com profundas convulsões sociais, mas ainda assim onde se respiravam arremedos de democracia.

“Let it be” faz-se ouvir em acordes harmoniosos. Sonhos de uma geração plena da vontade de executar a dádiva. Surpreende-me hoje a simplicidade dos sons. Nada elaborados, quase primitivos, prenhes no entanto de uma rara beleza que só as coisas simples possuem.

Dizimada pela crueldade de uma guerra de interesses obscuros, uma grande parte da geração de sessenta portuguesa, perdeu-se algures entre o sangue vertido ingloriamente, drogas e desapontamentos. Os que sobraram constituem uma franja significativa de gente inadaptada, em que não mora a derrota, mas o desapontamento.

Do sonho de Gedeão, às baladas tristes de Zeca, passando pela poesia de Alegre, interventiva, possante e bela, à épica de Fausto, à clarividência de Adriano, restam hoje apenas resquícios memoriais, registados em folhas de papel, ou em velhos discos de vinil.

Abril foi o renascer de todos esses sonhos.

Deles restam “o sonho comanda a vida”, ou “venham mais cinco”.
Tudo o resto se esfumou na neblina de tempos e vontades.

Ontem como agora, espera-se outra geração generosa. Capaz do acto supremo da dádiva.

E porque “cada vez que um homem sonha, o mundo pula e avança”, também eu quero acreditar que os jovens com a generosidade que os caracteriza serão capazes de se juntar – ainda que com outros sonhos – aquela geração que desafiou preconceitos, derrubou verdades “absolutas” e deixou todo um manancial de esperança que não se esgotou em sessenta, nem num Abril já longínquo quiçá toldado por gentes que preferiam Março e os anos de obscurantismo.

“Eles não sabem que o sonho, é uma constante da vida…”

14 Comentários:

Às 06 outubro, 2005 12:03 , Anonymous Anónimo disse...

E quais são os exemplos que nós dámos às novas gerações???

 
Às 06 outubro, 2005 12:30 , Anonymous Anónimo disse...

Maria Taveira: aplaudido!!!!!!

 
Às 06 outubro, 2005 12:41 , Anonymous Anónimo disse...

Temo que tenhas razão Maria.
Não tenho muito a certeza de que deixaremos um mundo melhor do que o que herdámos. Ao contrário, pesem mebora alguns bem intencionados.
Pessoalmente continuo a sonhar com um Mundo melhor e mais justo. Se cada um de nós fizer um pequeno esforço...
Rose, não te esticaste coisa nenhuma. É bom ter leitores participativos.
A. Lázaro: tb eu te aplaudo.

 
Às 06 outubro, 2005 12:59 , Anonymous Anónimo disse...

POr favor, não me aplauda a mim. Eu já desisti do mesmo sonho várias vezes, em favor de um outro sonho que considero maior. Sonho ainda com o último... Aplaudamos, isso sim, a consciência, que verifico no comentário de maria taveira. Não me vou esticar em justificações porque já as dei inúmeras vezes neste local acerca do mesmo assunto. Tornar-me-ia ainda + maçadora.

 
Às 06 outubro, 2005 13:53 , Anonymous Anónimo disse...

A Maria têm razão ...falar é muito fácil e que raio fazemos nós????? pois......a hipocrisia e o comodismo tomou conta do ser humano...e parece que não há volta a dar, as coisas pioram a cada dia.Não adianta justificarmo-nos porque o tribunal divino se é que o há nunca nos daria a absolvição.

 
Às 06 outubro, 2005 14:40 , Blogger Nilson Barcelli disse...

Lamento dizer mas a análise que fazes dos anos sessenta é injusta e, por vezes, contraditória.
Por exemplo, quem fez o 25 de Abril foi a geração de 60. Só esse facto deveria pesar na tua apreciação.
Ou então deverias compará-la a geração de 50, de 70, de 80...
Não te devias ter esquecido, também, do clima político que se vivia, onde ninguém podia ser do contra.
Claro que a geração de 60 não foi perfeita(nem é actualmente), mas até nos exemplos que dás entras em contradição (Zeca Afonso, etc.), pois são ou foram do melhor que se fez em todo o século XX.
Para além disso gostava que comparasses o nível de vida de hoje com o dos anos 60. É certo que grande parte veio da adesão à CE. Mas quem a construiu? Quem a induziu?
Uma análise em absoluto de uma década, sem a comparar com outras, é sempre muito subjectiva, isto é, pode-se dizer o que se quiser acerca dela que está sempre certo ou errado, dependendo apenas do ponto de vista.
Na minha modesta opinião a década de 60 foi a que mais contribuiu para as mudanças operadas no século passado. E não só em Portugal.

Abraço.

 
Às 06 outubro, 2005 15:45 , Blogger Eva Lima disse...

Criticar a juventude é criticar os seus pais e educadores. Eu vejo as bibliotecas com jovens, eu vejo jovens nas manifestações por causas - contra a invasão do Iraque, pex, pelo meio ambiente, etc.
Pelo contrário, vejo os "jovens" de meia idade só a esgravatarem para si, a verem reality shows, telenovelas e afins, a atirarem lixo para o chão, a elegerem os &%&$#$#"políticos que nos têm governado a serem indiferentes...o pior de tudo.

Eu acredito no futuro, logo acredito nos jovens!!!

 
Às 06 outubro, 2005 17:12 , Anonymous Anónimo disse...

Intervenho de novo apenas porque alguns interpretaram incorrectamente o texto, pois o autor defende a geração de 60 e admira-a; apenas reflecte algum desânimo por as gerações seguintes se terem desvirtuado assim como a própria geração de 60 se ter corrompido.
Volto, no entanto, a aplaudir aqueles que realçam e muito bem que as gerações presentes são fruto da educação dada e da falta de crença nestas. Antes de perdermos o sonho já os mais velhos deixaram de acreditar nele. Volto também a afirmar que não somos uma geração rasca... somos uma geração à rasca...

 
Às 06 outubro, 2005 17:18 , Blogger vero disse...

Olá, passei num instantinho só para deixar um beijinho*

 
Às 06 outubro, 2005 19:35 , Blogger lique disse...

Já muito se falou. Só quero dizer em relação ao final do teu texto: "Assim seja, Zé, assim seja!" Mas não estou lá muito segura disso. beijos

 
Às 06 outubro, 2005 19:55 , Blogger mfc disse...

Lembras-te que a Rádio Renascença proibiu durante uma série de anos a passagem de músicas dos Beates porque o George Harrison disse que eram mais conhecidos que Cristo??!

 
Às 06 outubro, 2005 20:29 , Anonymous Anónimo disse...

Como alguém já aqui sublinhou, o texto não foi bem entendido por todos.
Na verdade sou ainda um fã incondicional de todos e de todas aqueles e aquelas que na geração de sessnta souberam sonhar e na verdade provocar imensas alterações no mundo.
Tb eu acredito no futuro. Também eu acredito nos jovens. Mau será qd os filhos não contestarem os pais.
Ninguém me pode acusar de nada fazer para alimentar o sonho. Basta que passem pelo jornal onde trabalho e verão que tento sempre alertar as consciências e despertá-las para causas.
Foi porém muito bom, ter provocado uma salutar discussão em torno do texto. Parece-me que cumpriu a sua missão.

 
Às 06 outubro, 2005 20:41 , Anonymous Anónimo disse...

seja-nos dada identidade... lol.

 
Às 06 outubro, 2005 21:04 , Anonymous Anónimo disse...

blue: o peter? está novamente de férias?

 

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