domingo, janeiro 18

Sim, este ano celebra-se a Astronomia entre as nações!

E o que os astrónomos têm observado com os seus radio-telescópios
deixa-nos a todos atónitos com a imensidão do universo.


Já as explicações de como ele terá e estará a evoluir
deixam muito a desejar e são francamente
questionáveis: 96% do universo
ser matéria não-estelar,
não-atómica

é de bradar aos céus!
- passe a ironia :)

Mas eu gosto é de contrapor à grandeza do cosmos
a in-finita questionabilidade da res cogitans, nela

incluida a imensidão da 'res desiderandum',
à qual o universo pode mostrar
a sua olímpica indiferença

em todo caso, comparável ao nosso recíproco
alheamento pelo seu destino,
desde que inconforme
à nossa felicidade.


Exemplifico esse duelo

com
Um verso

Um verso. Nada mais que um verso cintinlante
contra o equilíbrio cósmico e a expansão do universo
na cauda do cometa mais errante
no coração do espaço e seu avesso
uma sílaba cantante
um verso.

Para além dos buracos negros e das linhas interestelares
um som no espaço
um eco pelos ares
um timbre um risco um traço.

Um som de um som: alquimia
de signos e sinais
não mais do que outra forma de energia
imagens espectrais
de um sol inverso
um ponto luminoso dos fractais
um verso.


Manuel Alegre
in Senhora das Tempestades
Ed. D. Quixote, 1998


Imagem e poema in aluaflutua

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8 Comentários:

Às 18 janeiro, 2009 09:46 , Blogger vbm disse...

Desgosta-me um pouco o dualismo cartesiano deste 'post', mas não sei como exprimir doutro modo a resposta humana à indiferença do cosmos pelo nosso destino mortal.

E, já agora, um enunciado destemido, pois, — ensinaram-me —, «um homem deixa o medo na barriga da mãe, ao nascer», :)): — mesmo que o universo, insofismável, nos condicione e até determine
— nada fazemos que a natureza não permita! —

o ponto é que a singular individuação do universo no que eu sou permite-lhe a autoconsciência da sua própria existência, acedendo assim a um acosmismo libertário :)

 
Às 18 janeiro, 2009 16:35 , Blogger Manoel Carlos disse...

Sinto-me minúsculo.
Manoel Carlos

 
Às 18 janeiro, 2009 17:00 , Blogger Manuel Veiga disse...

a olímpica indiferença do Universo. e perante ela - um verso!

gostei da ideia.

abraços

 
Às 18 janeiro, 2009 18:38 , Blogger Peter disse...

Matéria negra

Usando as equações de Einstein com os dados fornecidos pelo satélite WMAP (Wilkinson Microwave Anisotropy Probe) fez-se uma notável descoberta: podemos “pesar” partes diferentes do universo e chegarmos à perturbante conclusão de que é feito praticamente de coisas estranhas:
- uma esmagadora quantidade de “energia negra” (73%) que fará o universo expandir-se sem fronteiras e cada vez mais depressa;
- uma quantidade mensurável de “matéria negra” de origem desconhecida, representando quase 23% da energia do universo;
- uns míseros 4% da matéria de que somos feitos… mas, pelo menos, nós estamos ali, nem que seja na medida do estritamente necessário!

As conclusões são difíceis de engolir, mas há formas de verificar os resultados do WMAP. A “matéria negra”, se existir, tem de estar ligada às galáxias. Logo, deste ponto de vista, cada galáxia tem de ter um halo de energia que é inerte (já falei nisto por duas vezes e apresentei duas fotos feitas pelo Hubble). Ou seja, não interage directamente com a matéria vulgar através das forças forte, fraca ou electromagnética. Porém, a “matéria negra” é sensível à gravitação. Irá, por exemplo, deflectir a luz. Podemos olhar para fontes luminosas muito longínquas, como os quasares, e observar a deflexão da sua luz por galáxias mais próximas. Esta experiência já foi realizada e a deflexão da luz foi observada na forma dos anéis de Einstein no enxame galáctico Abell 2248. Espantosamente, a quantidade de “matéria negra” encontrada desta forma é compatível com os dados do WMAP.
(“Factos e ficção sobre teoria de cordas e o fim da Ciência”, Luis Alvarez-Gaumé)

Uma vez que estou farto de abordar o assunto, dou por encerrado o diálogo. Cada um é livre de expor os seus pontos de vista fundamentando-os e acreditar no que quiser. Também tive o cuidado de fornecer elementos que permitem através do GOOGLE, da NASA, do “Astronomy Picture of the day” ou de bibliografia à v/escolha, possibilitar a quem estiver interessado, uma melhor e mais completa elucidação.

 
Às 18 janeiro, 2009 19:53 , Blogger vbm disse...

Claro, Peter que a matéria negra pode muito bem ser real, existir e chegarmos a conhecê-la e aos seus efeitos.

E claro que pouco nos importa que 96% do universo nos seja de todo alheio enquanto composto de matéria distinta da que nos forma!

A ser tudo isso assim, algo se mantém verdade: as duas naturezas, a atómica e a outra, coexistem pelo que formam um só mundo: aquele que existe!

Mesmo que não haja uma explicação mais semelhante ao nosso mundo conhecido, nenhuma objecção levanto ao que se avere ser a realidade que observamos e inteligimos.

O que me deixa abismado é outra questão: o facto histórico das civilizações terrestres que têm povoado o nosso planeta, que transitam e perecem como tudo o que nele se desenvolve e manifesta, incluindo, na nossa idade contemporânea, tudo o que almejamos conhecer do vasto mundo, acaba por ser reduzido a «cinzas, pó e nada»;

com o universo, impávido, a evoluir na sua indiferença cósmica, alheio à infinita vontade de viver das espécies que nele emergem e deseperadamente buscam preservar na sua própria existência num plano acósmico de felicidade codenada.

 
Às 18 janeiro, 2009 20:04 , Blogger vbm disse...

Oi, herético!

Foi também esse contraste
que me deixou fascinado! :))

Por muito impotentes que sejamos
face ao universo que nos condiciona,
é imensa a vontade de viver
dos seres animados e sensientes
que nele emergem, pelo que

somos a autoconsciência
do próprio universo,

que de outro modo existiria,
realmente, em si e por si,

mas nilpotente de desejar
o que quer que fosse!


Assim o verso do poeta,
uma outra forma de energia,

um sol inverso do universo.

:)

 
Às 18 janeiro, 2009 20:12 , Blogger vbm disse...

Pois é, manoel carlos!

Realmente, não somos muito grandes...

De qualquer modo, já somos dois,
tu e eu, que também sou manoel,
manoel com "o", vasco manoel! :)

E por muito indiferente que o universo seja ao que eu faço ou deixo de fazer, tal não é indiferente aos que me amam! E de uma tal sensibilidade, o universo só se pode gabar enquanto a sua natureza também é a do meu próprio ser.

 
Às 21 janeiro, 2009 11:35 , Blogger belakbrilha disse...

Peter adorei o seu gato, até faz ron-ron...brinca com o rato...ou ele não fosse gato! ;)


Quanto ao duelo

...com um verso...


...e que verso!

DE Manuel Alegre!


gostei de estar por aqui!

Li, ri, reflecti...

...e ainda escrevi!

Foi bom, vou voltar aqui!

 

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