quarta-feira, janeiro 17

Destino, acaso, ou acaso condicionado?

Segundo os antigos gregos, o homem comum denominava o poder causal responsável por aquilo que lhe acontecia de modo imprevisível, por «daímon».
«Daímon» era assim algo como o “destino”, e o indivíduo teria de estar de bem com o seu «daímon», porque ser feliz ou infeliz não era algo que dependesse dele. Feliz era quem tinha um «daímon» bom, «eudaímon», em contraste com o infeliz, que teria um «kakodaímon».
A ideia de um “ser determinado” fazer de guardião de cada homem, um «daímon» que lhe “saiu na rifa” durante o seu nascimento, encontramo-la formulada em Platão, mas provém sem dúvida de uma tradição mais antiga. Temos aqui um “ser” que protege o homem, tal como nos nossos dias algumas pessoas poderiam falar em “anjo da guarda”.

Suponhamos um ateniense caminhando na sua cidade e que inesperadamente leva com um vaso de flores na cabeça, ficando gravemente ferido. Irá atribuir as culpas do acontecimento ao seu «daímon». Ele não estaria de bem com o seu «daímon», porque este não o protegeu.
Fazendo uma aproximação à teoria da “predestinação”, seria na altura do nascimento que o nosso ateniense ficava sob a tutela de um bom ou mau «daímon». Por mais que ele fizesse, seria sempre feliz ou infeliz. Se lhe calhou um «kakodaímon» não havia nada que lhe valesse. Seria sempre infeliz.

Heráclito considerava o “carácter” como o «daímon» do homem.
Penso que não. O levar com o vaso na cabeça, nada tem a ver com o seu “carácter”. Este poderá fazer com que o homem seja feliz ou infeliz, consoante o seu modo de actuar, mas não o livra de levar com o vaso de flores na cabeça ...

Tal como o genoma poderá conter em si os genes susceptíveis de condicionar a personalidade humana, também (e isto é um dos maiores mistérios) a “vida” e o “pensamento” estariam já inscritos nas potencialidades do universo primitivo?

Se eu tiver uma caixa cheia de átomos de oxigénio e outra de átomos de hidrogénio, há uma lei que me diz que 2 átomos deste, mais 1 de oxigénio, levam à formação de uma molécula de água.
Mas quais? Quais os átomos de hidrogénio que se vão associar com um determinado átomo de oxigénio? Puro acaso, ou um “acaso condicionado” à lei que leva à formação da molécula de água?

5 Comentários:

Às 17 janeiro, 2007 09:30 , Blogger Maria Carvalho disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
Às 17 janeiro, 2007 16:16 , Anonymous Anónimo disse...

Peter:
O genoma pode explicar o carácter e será que as memórias de épocas passadas os "déjà vus" são também marcas condicionadas pelos genes? Obra do acaso?
Beijo

 
Às 17 janeiro, 2007 16:21 , Anonymous Anónimo disse...

este blog continua a transbordar textos de excelente qualidade.

mas que bem:)

abraço*

 
Às 17 janeiro, 2007 18:57 , Blogger Peter disse...

"Papoila", cada um no seu "métier" e eu contigo, apenas me interrogo.
Há um livro muito interessante que por certo conheces: "Sombras de antepassados esquecidos", de Carl Sagan e Ann Druyan, no qual "algumas das nossas características-chave (consciência, laços familiares, submissão à autoridade, desconfiança em relação ao diferente, razão e ética) têm a sua raiz no mais profundo passado e podem ser explicadas à luz do nosso parentesco com outros animais."

 
Às 18 janeiro, 2007 15:24 , Blogger António disse...

O que tu sabes, Peter!
E como filosofas bem!
ah ah ah
Gostei de ler!
(como de costume)

Abraço

 

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