Ricos, remediados e pobres 4
A grande maioria dos considerados "pobres" eram os trabalhadores rurais e é sobre eles que vou falar.
Trabalhavam "de sol a sol", isto é, pegavam ao nascer do sol e largavam ao pôr. Ao meio dia era o intervalo para jantarem e, quando regressavam a casa ceavam. Levavam sempre consigo um quarto de pão com algumas azeitonas, por vezes um pedaço de toucinho, que iam petiscando quando a fome apertava. Normalmente usavam uma samarra feita de pele de borrego, ou um gabão de serapilheira.
Eram contratados e serviam até o patrão os mandar embora por já não renderem, ou por qualquer outro motivo. Se estavam doentes iam para o hospital, não tinham férias, como não tinham qualquer reforma. Por vezes os filhos conseguiam ficar no lugar do pai e as filhas iam servir como criadas em casa dos patrões, onde comiam e dormiam, mas para elas todos os dias eram iguais: não havia sábados nem domingos. Como é óbvio, quando casavam iam-se embora.
Durante as ceifas surgiam os chamados “ratinhos”, pessoal oriundo das Beiras e que vinha trabalhar em situações degradantes e por jornas mais baixas, o que agradava aos patrões e desagradava aos trabalhadores locais, àqueles que não se encontravam ao serviço de um lavrador, mas iam oferecendo os seus serviços à jorna a quem deles precisava.
Os lavradores mais ricos tinham uma pessoa que lhes fazia as contas e que acumulava com outro emprego de escritório, ou na Fábrica de Moagem, ou na Câmara Municipal. Os trabalhadores dirigiam-se a essa pessoa quando precisavam de dinheiro, ou para levantarem um porco, um borrego pela Páscoa, ou farinha. As contas eram feitas pela Feira da Luz, onde poderia haver despedimentos, ou novas contratações.
E assim cheguei ao fim das minhas recordações de infância, com as quais pretendi dar uma ideia do antigamente, por quem o viveu. Depois do 25 de Abril de 1974 a vida melhorou substancialmente, bem como a vila progrediu e se expandiu.
Fico satisfeito por isso. Fico satisfeito por ter dado a minha pequena contribuição para que tal fosse possível.
8 Comentários:
Fico também feliz pela nossa geração ter assim influenciado. As condições de vida modificaram-se mas estamos de novo na cauda da Europa!
Beijo
Quanto à estadia no Toto é realmente estranho Peter! Podes avaliar se as minhas sensações dizem com a stuas :) Nunca fui à lagoa... Tinha pavor de andar em carros militares depois que fui ao Loge e a coluna esteve para ser atacada.
Coincidências...
Beijo
"papoila", não sei se vou parar definitivamente, se só por um tempo.
Quanto ao que me dizes "é preciso bom senso". E não o estou a ver...
Vejo sim é uma avestruz a esconder a cabeça na areia.
P.S.- E "não sabes tu da missa a metade".
Gostei das tuas recordações. Muitos beijos para ti.
Paula, era para terminar o blog aqui.
As recordações ficam escritas e assim os meus netos terão oportunidade de ler como foi a infância do avô.
Peter:
Não sei da "missa"... nem metade nem inteira...eu não sou de "missas"... mas o que sinto, sinto mesmo e é inesquecível...
A história no Toto vai continuar... sem avestruzes.
A cabeça debaixo da areia delas é temporária... espero que a "borrasca" passe sem as ferir.
Beijo
Magnífico, Peter!
Estas tuas memórias da infância estão excelentemente escritas o que torna a sua leitura fácil e agradável.
A forma como descreves a vida no Alentejo, nomeadamente durante a 2ª Grande Guerra, é muito pormenorizada e rica de informações.
Estes teus quatro posts que acabo de ler foram do melhor que tenho visto em blogs.
Li por aí que ías deixar o blog.
Isso seria muito mau!
Acho que tens ainda muito para escrever e contar.
Não precisas de o fazer com muita assiduidade. Basta um post semanal para manteres as ligações com quem gosta das "Conversas de xaxa".
Obrigado pelo teu comentário ao texto rememorativo dos Natais da minha infância.
E podes jogar a bola com a bexiga que eu também o fazia...ah ah ah
Um abraço
Olá Peter
Hoje é só para desejar as Boas Festas.
Um abraço. Augusto
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