Nobel da Paz 2006
A Academia Sueca distinguiu o economista Muhammad Yunus com o Nobel da Paz 2006, salientando que:
“conceder empréstimos a pessoas pobres sem qualquer garantia financeira parecera uma ideia impossível (…) Yunus desenvolveu, principalmente através do Grameen Bank, o conceito de micro-crédito como um instrumento cada vez mais importante na luta contra a pobreza. (…) Todos os indivíduos têm o potencial e o direito de viver uma vida decente.”
Yunus nasceu no Bangladesh, em 1940, é professor universitário de Economia e foi o fundador do Banco Grameen, vocacionado exclusivamente para o micro – crédito, do qual beneficiam 500 milhões de pessoas em todo o mundo. O valor médio dos empréstimos é de 247€ e 97% dos clientes são mulheres, praticamente excluídas do sistema bancário tradicional islâmico, o que justifica a hostilidade dos fundamentalistas contra Yunus.
A atribuição deste Premio Nobel da Paz, fez-me pensar nos lucros das instituições bancárias portuguesas e não só, o que teria apressado o Min Trabalho a vir prometer que em Janeiro iria “alterar o enquadramento fiscal”, para introduzir estímulos ao micro-crédito.
Promessas, promessas …
Em meu modesto entender, penso que foi um Prémio da Paz bem atribuído, porque os problemas que afligem o planeta devem resolver-se através da solidariedade humana e não com o recurso à violência.
Aliás o próprio laureado sempre acreditou que:
“o fim da pobreza conduz ao fim dos conflitos”
Sonhos utópicos?
Transcrevo seguidamente um extracto duma entrevista concedida já há tempo pelo laureado, que nos dá uma melhor ideia do seu pensamento e da sua obra:
“ (…)
P. - Como lhe ocorreu a ideia de emprestar dinheiro às pessoas?
M.Y. - Eu não tinha qualquer intenção de conceder empréstimos, foram as circunstâncias que me levaram a isso. Estava a leccionar Economia, na Universidade de Chittagong, nos anos que se seguiram à independência do Bangladesh e havia muitas dificuldades. O país, em vez de progredir, estava a definhar e, em 1974, enfrentámos um terrível período de fome. Via pessoas a morrer à fome e estava frustrado, sem saber o que fazer para ajudar. Afinal, todas as grandes teorias de desenvolvimento económico que eu ensinava não contribuiam para nós.
Era preciso não olhar para o mundo como um ser abstracto, mas como se de uma pessoa se tratasse e tentar ser útil. Nem que fosse para uma só pessoa. Fui à aldeia mais próxima do "campus" universitário visitar os pobres e... foi assim que tudo começou. Vi como as pessoas sofriam, como estavam dependentes dos usurários que lhes emprestavam dinheiro, quase sempre montantes muito pequenos. Porque não fazer uma lista destas pessoas e tentar ajudá-las? Com a colaboração de alguns alunos, fizemos uma lista de 42 pessoas e chegámos à conclusão que o total de dinheiro necessário era de 27 dólares! Meu Deus! Andamos nós a falar de milhões e milhões de dólares para investir e desenvolver a economia do país e há pessoas que, apenas, precisam de um dólar.
P. - Quando fez essa lista, foi à procura de pessoas que já tinham alguma habilidade ou vocação para trabalhar?
M.Y. - Não me preocupei com isso. O objectivo era saber quem estava dependente dos usurários. Todos os que tinham dívidas estavam na minha lista e, à data, não sabia o que ia fazer com essa lista.
Quando vi o total fiquei chocado e o meu primeiro impulso, foi o de agarrar no dinheiro e dá-lo às pessoas. Não imagina como uma quantia tão pequena provocou tanta excitação e deixou tanta gente feliz. Então, porque não ir mais longe e emprestar mais dinheiro às pessoas? E isso levou-me ao banco, que recusou emprestar dinheiro a pobres sob o pretexto de que eles o gastariam todo em bens de primeira necessidade e seriam incapazes de reembolsá-lo. Além disso, não tinham garantias reais e as quantias eram tão insignificantes que o negócio não tinha interesse.
Após seis meses de negociações, concordaram finalmente em emprestar-lhes dinheiro, mas tendo-me a mim como fiador. E funcionou! As pessoas pagavam regularmente os seus reembolsos e isso entusiasmou-me e encorajou-me a estender estes empréstimos a outras aldeias. Ao fim de algum tempo, pensei em criar um banco independente e propus a ideia ao Governo. Só obtive a autorização para criar o Grameen Bank dois anos depois, em 1983. Hoje, trabalhamos em 40 mil aldeias (de um total de 68 mil existentes no Bangladesh), temos 12 mil funcionários, emprestámos 2,4 milhões de dólares e 94% dos nossos clientes são mulheres. E o banco pertence-lhes...
P. - Como é que funciona essa estrutura de capital?
M.Y. - Não queremos ganhar dinheiro, não é esse o nosso objectivo. Existe um plano de poupanças que atribui uma acção por cada dois dólares. Por isso, os nossos 2,4 milhões de clientes são os donos do banco.
(…)”
13 Comentários:
"Sonhos utópicos?"
......................"MAYBE"!!!!!!!
EXCELENTE POST! Espero que o principio basico nao seja alterado com as mudancas de ventos e de vontades...
....................
. - "Como é que funciona essa estrutura de capital?
M.Y. - Não queremos ganhar dinheiro, não é esse o nosso objectivo. Existe um plano de poupanças que atribui uma acção por cada dois dólares. Por isso, os nossos 2,4 milhões de clientes são os donos do banco.
(…)”"
..........................Pertinente a Sua POSTAGEM!
****************Meu Amigo, perdoe minha longa ausencia aqui se SUA CASA!...
Deixo um ABRACO* para SI* e restantes "HABITANTES" da mesma(CASINHA ou... MANSAO!???...)
************************VOLTAREI!!Tentarei andar depressa!..........
Heloisa
**********
Sabes Peter, é por existirem pessoas que se esforçam por um desenvolvimento social e econômico que favoreça os mais pobres, que a minha esperança grita que ainda temos hipoteses de mudar o rumo das coisas neste planeta.
A paz só será conseguida quando conseguirmos abrir um caminho para o fim da miséria... Muhammad Yunus
apenas colocou em prática a solidariedade humana.
Estou plenamente de acordo com o prémio seja dele...
Um beijo muito especial para ti Peter.
Novo espaço cultural em http://senhoradas aguas.blogspot.com. Abraço
Heloisa
Estive visitando o seu blog e através da Menina Marota já tomara conhecimento do caso, para o qual desejo um final feliz.
Quanto ao Prémio da Paz, destaco as seguintes palavras de Yuri:
"Com a colaboração de alguns alunos, fizemos uma lista de 42 pessoas e chegámos à conclusão que o total de dinheiro necessário era de 27 dólares!"
Desculpe o desabafo:
- "Que m.... de Mundo!
ana luar, destaco estas palavras de Yuri:
"Andamos nós a falar de milhões e milhões de dólares para investir e desenvolver a economia do país e há pessoas que, apenas, precisam de um dólar."
Um dólar, para que a cesteira possa comprar vime, para prosseguir, com o seu trabalho, o negócio que lhe permite sobreviver.
senhora das águas, obrigado pela visita.
Visitei o blog indicado, que é um óptimo roteiro cultural de indiscutível utilidade.
"Com a colaboração de alguns alunos, fizemos uma lista de 42 pessoas e chegámos à conclusão que o total de dinheiro necessário era de 27 dólares!"
Desculpe o desabafo:
- "Que m.... de Mundo!"
****************************NADA PARA PEDIR DESCULPA, *PETER*!!! E..tem toda a razao de ser o *SEU DESABAFO*!!!
................................
Grata por Sua visita a meu blogue!
Tenhamos FE' que a Situacao daquela menina de cuja TIA* sou MUITO AMIGA*, evolua no sentido da *VIDA*!!!!!!
.................................E... com VIDA SERENA E SAUDAVEL, fique o meu CARISSIMO AMIGO!
Por ca' voltarei mal tenha oportunidade!
ate' LA', fica o meu amigo ABRACO!
Heloisa
**********
Olá Peter, foi uma agradável surpresa o nosso encontro, tive muito gosto em te conhecer pessoalmente, espero outros reencontros.
Quanto ao teu texto, o que mais me impressiona, não são os empréstimos em si, nem serem as mulheres quem mais deles beneficia, mas as garantias exigidas pelo emprestador, A PALAVRA, e o compromisso colectivo, é o crédito no crédito do homem.
Um abraço. Augusto
Augusto, tens razão, é outro elemento importantíssimo neste belo processo que me leva ainda a acreditar nos seres humanos, neste momento exacto em que acabo de comentar os horrores narrados pela Betty.
"A PALAVRA, e o compromisso colectivo, é o crédito no crédito do homem."
São estes pormenores do texto que, pouco a pouco vamos descobrindo, que me levaram a optar por transcrever as palavras do Yuri.
Abraço
Peter:
Foi com satisfação que vi atribuir o Nobel da Paz a Muhammad Yunus! Acredito no sonho!
Está aqui a resposta nas palavras do próprio "Não queremos ganhar dinheiro, nao é esse o nosso objectivo. Existe um plano de poupanças que atribui uma acção por cada dois dólares. Por isso os nossos 2,4 milhões de clientes sao os donos do banco"
Beijo
Papoila, nunca um Premio Nobel da Paz reuniu em torno de si tamanho consenso, exceptuando os "fundamentalistas islâmicos", como é óbvio, mas estes são uma minoria que não representa o verdadeiro Islão.
Quando este premio foi atribuido a Kissinger e outros que tais ...
Beijo
Olá!
Pelo que tenho lido, ouvido e visto nos últimos dias, parece-me que a atribuição do Nobel da Paz ao Yunus foi muito justa.
E tanto mais porque, como alguém disse e eu reproduzo de cor:
"O caminho para a Paz passa inevitavelmente pela luta contra a pobreza".
Obrigado pela visita.
Lá mais para o fim de semana sai a parte VI.
Um abraço
António, entretanto diverte-te com o bum-bum ...
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