terça-feira, agosto 8

Choque de civilizações

S.Huntington aponta no seu livro com o mesmo nome, um conjunto de factores que têm feito endurecer o conflito entre certos sectores do Islão e o Ocidente:

- O crescimento da população muçulmana tem gerado desemprego, sobretudo entre os jovens, que se tornam fiéis à causa islamita, acabando por emigrar para os países ocidentais;
- o Fundamentalismo islâmico tem dado aos muçulmanos uma confiança renovada sobre o carácter diferente da sua civilização e sobre a superioridade dos seus valores (no seu entender) em relação ao Ocidente;
- os esforços do Ocidente (leia-se EUA) no sentido de universalizar os seus valores e instituições para manter a sua superioridade militar e económica e para intervir em conflitos no mundo islâmico, geram ressentimentos entre os muçulmanos;
- o colapso do comunismo fez desaparecer o inimigo comum do Ocidente e do Islão e originou que cada um visse no outro a sua principal ameaça;
- o contacto crescente entre muçulmanos e ocidentais estimula em cada parte um novo sentido da sua própria identidade e mostra melhor as suas diferenças sobre os direitos dos membros de uma civilização dominada pelos membros da outra.

“As causas do conflito renascido entre o Islão e o Ocidente assentam assim em questões fundamentais de poder e cultura”, afirma o referido escritor, na medida em que, no que respeita ao Islão, a religião unificada com a política surge como a mola impulsionadora.

A atitude dos órgãos de informação é essencialmente contrária à posição israelita. Por mim, entendo que Israel tem direito a existir como Estado.

Ora não é essa a opinião do Hezbollah que é uma organização sem reconhecimento internacional, nem do Irão cujo Presidente preconiza oficialmente o desaparecimento de Israel, com o regresso de todos os Israelitas aos seus países de origem.
Lamentamos que morram civis com os bombardeamentos israelitas, mas são eles os combatentes do Hezbollah, enquanto do lado israelita estão soldados devidamente fardados e identificáveis.
Infelizmente morrem menores, mas eram eles que levavam os cinturões de explosivos com que se suicidavam dentro dos autocarros, filas e supermercados em Israel, portanto é natural que vivam em prédios e não em quartéis. Os prédios são os quartéis do Hezbollah e mostrar prédios destruídos aos correspondentes de guerra ocidentais nada prova.
O Hezbollah quer o regresso de todos os israelitas aos países de onde vieram, porque quer o desaparecimento de Israel como Estado, apesar dele ser um "Estado" dentro de outro Estado.
Será que os países árabes vão receber de volta os seus compatriotas que viviam em Israel, nomeadamente em Haifa, onde havia uma perfeita integração entre árabes, israelitas e cristãos?

O médico presidente da AMI, ONG pela qual tenho o maior respeito e admiração, disse hoje à sua chegada a Lisboa, vindo do Líbano:

- É natural que a população esteja do lado do Hezbollah, que os apoia, os alimenta, lhes constrói escolas e hospitais (o que o Governo Libanês nunca fez) à semelhança do que fazem os “barões da droga” nas favelas do Rio de Janeiro (a ideia transmitida, julgo ter sido esta).

A guerra nunca foi solução: “violência gera violência”.

14 Comentários:

Às 08 agosto, 2006 16:06 , Blogger joaninha disse...

Eu diria: comportamento gera comportamento...
para entrar no joaninha será -
http://blogfrau.blogspot.com/
Gostei da foto anterior porque me fez recordar a minha passagem por lá.
Quanto a este texto , estou de acordo com as palavras proferidas pelo médico presidente da AMI.
Um abraço

 
Às 08 agosto, 2006 16:22 , Blogger Peter disse...

"joaninha", julgo que a palavra "comportamento" é demasiado "soft".

 
Às 08 agosto, 2006 18:34 , Blogger MEU DOCE AMOR disse...

Peter:O problema de Israel nunca mais terá fim.Este problema,não surge só de agora,mas perde-se no tempo, bem lá para trás...Israel nunca poderá existir como Estado,pois é uma região que sempre pertenceu a inúmeros povos,tribos...como queiras chamar.Existiu sim ,uma "terra prometida",que já era habitada,quando Abrão saiu de Ur ,na Caldeia,e levou o seu povo para esse local ,junto ao rio Jordão.Foi aí que começaram os conflitos que vão ser,na minha modesta opinião,agudizados com o nascimento de Ismael,filho de Abrão e de uma escrava.Ambos foram expulsos da tribo,devido ao nascimento de Isac(filho legítimo do patriarca).Isto accionou um ódio muito grande em Ismael,que encontou refúgio no deserto e,mais tarde irá fundar a tribo dos Ismaelitas,povo do deserto e do qual descendem os árabes.Os ismaelitas reivindicam a terra prometida,pois são descendentes de Abrão.E assim sucessivamente,o ódio foi crescendo entre uns e outros.Para além disso ainda havia os vários povos que já habitavam a região.O que se conclui?O médio oriente foi,é e sempre será um palco para ódios,porque do "seio de Abrão nasceram várias Nações".

E neste palco outros interesses,nomeadamente estrangeiros,se solidificaram e só complicaram mais a situação:o resultado está à vista.E isto ainda não é nada!

(não sou a favor de guerras(já vivi uma)sim pela Paz,e todos têm direito ao seu lugar.Mas ali ...ali é um sítio muito especial e delicado.Naõ há resolução possível.Para tal teríamos que "põr a mão" na história do homem...não podemos!

Doceando(desculpa o comentário longo)

 
Às 08 agosto, 2006 18:52 , Blogger Peter disse...

"vem sonhar comigo" o teu comentário foi um contributo útil. Não há comentários "longos", há "comentários".

Quando, depois da II Guerra Mundial, houve que encontrar um território para os judeus dispersos pelos vários países europeus, Salazar foi pressionado pelos ingleses para que os mesmos se instalassem nos Açores.
Salazar respondeu que não, pois os Açores já estavam super lotados (consta dos documentos oficiais que já podem ser consultados pelo público).

Mas o que interessa é a situação actual e não remexer no passado e a mesma é altamente "explosiva" e capaz de nos afectar directa, ou indirectamente, a todos nós.

 
Às 08 agosto, 2006 19:07 , Blogger augustoM disse...

Não posso deixar de respeitar a sua opinião à cercados dos israelitas e dos árabes, contudo, gostaria de lhe aconselhar ler a história recente, desde os finais do século XIX. Tudo tem um princípio, que naturalmente é esquecido face à agrura dos factos actuais, os que nos são mostrados, para os quais toda a gente parece ter a explicação adequada.
O Sr. Huntington, na apresentação das razões, no entender dele, para o actual choque civilizacional, não é na minha opinião suficientemente honesto, manipulando a causa-efeito, como ocidentalmente mais lhe convém.
Não vou expressar a minha opinião se o estado de Israel tem legitimidade para existir, ou se o Hezbollah deve ou não ser considerado um movimento terrorista, não querendo, contudo, deixar passar a lembrança de que Harafat, durante muito tempo, foi considerado o inimigo número do mundo, nessa altura a palavra terrorista ainda não estava na moda, e um pouco mais de lembrança leva-me a encontrar o Sr. Kadafi.
A política do Médio Oriente é um jogo viciado, em que só alguns têm trunfos. É preciso alguma cautela, na minha modesta opinião, em tomarmos partido neste conflito, que não é o que parece, mas aquilo que querem que pareça.
Um abraço. Augusto

 
Às 08 agosto, 2006 19:21 , Blogger António disse...

Olá!
A análise do Sr. Huntington parece-me correcta.
O teu texto está na linha de um que escrevi ontem com o título "Guerra de civilizações" e nele também procuras justificar porque tomas partido neste conflito.
Também eu o fiz!
E revolta-me ver a Comunicação Social tratar os israelitas como os vilões, os libaneses como os coitadinhos, e os terroristas como os defensores dos coitadinhos.
Eu, como ocidental, sou totalmentre a favor das posições de Israel (nem sou judeu, nem pró judeu...mas pertenço à civilização ocidental e não à islâmica).
Mas não é precisa muita treta.
O que é preciso é as pessoas assumirem de que lado estão.
Eu já o disse!

Um abraço

 
Às 08 agosto, 2006 19:25 , Blogger Heloisa B.P disse...

"A guerra nunca foi solução: “violência gera violência”."
**********************ABSOLUTAMENTE DE ACORDO!

Heloisa.
************

 
Às 08 agosto, 2006 19:58 , Blogger Peter disse...

"augustom"
Meu caro Augusto

Sou uma pessoa ordenada, por isso não leve a mal que ponha a minha resposta por alíneas:

1. Não emiti qualquer opinião sobre israelitas e árabes.
2. Profissionalmente tenho mesmo de conhecer a história recente. Se acha que a não conheço, é porque serei um mau profissional. Como sabe, nós, os historiadores, desde o aparecimento da Nova História, com Marc Bloch, que abandonámos o chamado "mito dos princípios", a que o meu amigo se refere.
3. A referência a Huntigton é feita "en passant". O texto é da minha autoria e inteira responsabilidade.
4. Qualquer Estado aceite pela Comunidade Internacional, tem legitimidade para existir.
5. Não designei o Hezbollah como "movimento terrorista", mas sim como "interlocutor não válido" para dialogar com Estados soberanos.
6. Tive o cuidado de não tomar partido.

Um abraço do
Peter

 
Às 09 agosto, 2006 03:33 , Blogger Ant disse...

De repente aqui estás tu a levantar uma questão muito interessante e importante.
Vou postar porque uns dias de férias talvez dificultem a actividade. Veremos.

 
Às 09 agosto, 2006 07:38 , Blogger Peter disse...

"ant", o texto é demasiado longo e tem de ser lido de acordo com o que está escrito e de acordo com o que é legal ou não, à luz do Direito Internacional e não segundo as convicções pessoais de cada um, ou segundo o que os media tentam fazer passar, que é sempre aquilo que pode gerar mais audiências.

O meu ponto de vista, está lá bem explícito e resume-se à seguinte frase:

POR MIM, ENTENDO QUE ISRAEL TEM DIREITO A EXISTIR COMO ESTADO

Tudo o resto que escrevi é discutível e, repito, depende das convicções pessoais de cada um.

P.S. - Não te esqueças de "dizer adeus", antes de ires de férias. Bem as mereces.

 
Às 10 agosto, 2006 21:35 , Blogger augustoM disse...

Olá Peter
Os blogs são isto mesmo, a troca salutar e amigável de ideias. Também, já somos dois, sou muito sistemático nas minhas ideias e opiniões, procuro sempre a causa/efeito, não me deixando influenciar pelos noticiários, que como sabemos nunca são isentos.
1. Se não emitiu uma opinião pessoal a respeito dos Israelitas e dos Árabes, peço desculpa, talvez eu tenha percebido mal o contexto do seu texto.
2. Não me pauto pelo chamado “mito dos princípio”, mas pela casualidade dos factos. Se os pretendemos reinventar, então não temos história mas a ficção que mais nos interessa.
3. Quanto a Hunting, se o texto é seu, desculpe, pensei que as causas apontadas eram do livro dele, mas sendo assim o meu desacordo passa a ser consigo.
4. Qualquer Estado aceite pela Comunidade Internacional, tem legitimidade para existir. Total desacordo. Isso é convencionar a legitimação dos interesses. Então porque os Israelitas não permitem a existência de um Estado Palestiniano de Direito, quando é aceite pela Comunidade Internacional? Neste ponto, teríamos pano para mangas para conversar, que não está no âmbito deste comentário.
5. Comparar o Hezbollah aos movimentos dos “barões da droga”, desculpe mas é uma comparação no mínimo infeliz, com a qual não posso concordar. Estes movimentos nacionalistas, que na sua opinião não podem ser considerados interlocutores válidos, é a prova evidente, não direi de desatenção, mas de falta de memória. Dois nomes apenas, penso serem suficientes para justificar, por um lado que a sua interlocução é válida ou não conforme os interesses, e que serem uns bandidos com a cabeça a prémio ou serem heróis, tudo depende uma vez mais dos interesses. Harafat e Kadafi.
Se o Hezbollah se sobrepõem às responsabilidades do governo do Líbano, é só de louvar, e não de condenar. Também sobre isto gostaria de dizer mais alguma coisa, mas o comentário já vai longo.
Sou contra a guerra, sou contra todas as soluções bélicas, sou contra a intolerância, sou contra o poder do mais forte, mas sou, mais do que tudo contra a qualquer confronto civilizacional, sobretudo quando o padrão de comparação é o Ocidente.
Quanto ao sexto ponto, não acrescento nada.
Se todos gostássemos do mesmo, o mundo não teria graça.
Um abraço. Augusto

 
Às 11 agosto, 2006 00:00 , Blogger Peter disse...

Olá Augusto

1. Emiti uma opinião pessoal sobre O DIREITO DE ISRAEL EXIXTIR COMO ESTADO.
2. A “causalidade dos factos” não é aceite hoje em dia. Nem em Física, da qual tenho umas “luzes”, nem em História, na qual sou Lic, existe uma relação directa “causa” » “efeito”.
3. A introdução ao meu texto, até às palavras: “surge como mola impulsionadora”, baseia-se no livro de Hunting, o que não significa que concorde inteiramente com ele. A partir daí, todo o texto é da minha exclusiva autoria.
4. Sugiro a consulta de qualquer manual da Cadeira de Direito Internacional, do Curso de Direito, por onde andei.
5. Deverá contactar com o Presidente da AMI, Dr Fernando Nobre, pois as palavras são dele, à sua chegada a Lisboa, vindo do Líbano, como aliás digo no meu texto.

O que foi descoberto em Londres, deve ser mais uma “inventona”, mas não deixa de me preocupar pois um filho meu faz parte do pessoal de voo de uma Companhia aérea. Será um ponto de vista egoísta, pois a morte de milhares de “infiéis” é irrelevante para os pacíficos fundamentalistas islâmicos.

“Os blogs são isto mesmo, a troca salutar e amigável de ideias.”

Um abraço,
Peter

 
Às 11 agosto, 2006 14:25 , Blogger augustoM disse...

Olá Peter
Nem sempre temos a oportunidade de trocarmos ideias e opiniões na blogsesfera, e quando ela surge e com um interlocutor que nos merece admiração, não a perco.
Claro, que este espaço não é o ideal para debates, ou os textos teriam um tamanho desajustado, mas, ainda assim, permite trocar algumas ideias e pontos de vista.
Não sou licenciado em História, como em nada, não passo de um mero curioso, que dedica todo o seu tempo livre ao estudo da História e da Filosofia, de há cerca de 30 anos para cá. Em relação à História, tudo estudei desde as origens até hoje o mais aprofundado, que a documentação existente permite. Penso que me não escapou nada, mas nunca se tem a certeza, por isso continuo e continuarei a estudar. Na Filosofia, procurei compreender a evolução do pensamento do homem, e encontrar nela a justificação para os seus actos. Começando em Tales, percorri mais de 100 dos principais e marcantes filósofos até aos nossos dias.
Também, sempre na busca dos porquês, aprofundei o mais que pude, o estudo das religiões, fundamental para a compreensão das civilizações.
Tem sido um longo caminho, mas como quem corre por gosto não cansa, vou continuando, enquanto for possível, enriquecendo os meus conhecimentos, à sombra dos quais vou ajuizando o Homem.

O direito de Israel existir como Estado, respeito a sua opinião, como respeito sempre as opiniões dos outros, seria um tolo se não o fizesse, a verdade absoluta não é pretensa de ninguém, embora não concorde inteiramente com ela, pois é uma evidência de dois pesos e duas medidas do Direito Internacional, que segundo me parece, e emende-se se não tiver razão, é produto do Ocidente e para o qual o Oriente não foi chamado a intervir.

Quanto a mais uma possibilidade de “inventona”, é aprova da necessidade de mobilizar a opinião pública, para apoiar as políticas “desajustadas” dos ingleses e americanos, opinião pública essa que começa a questionar os objectivos da parceria anglo/americana e dos meios utilizados para os alcançar. Vivemos num mundo onde o real é dissolvido na virtualidade, ficando a verdade fora de qualquer entendimento. Também tenho um filho, melhor, uma filha na aviação, e são estas manobras “sujas”, paradigma de quem não tem a razão, que me revoltam e me levam, não a enaltecer as virtudes do mundo Oriental, mas a condenar os defeitos do Ocidental.

Não sei a sua idade, eu tenho uns preciosos 65 anos de experiência de vida, na qual já muita coisa vi e ouvi, não precisando que mo recordem, a memória ainda vai dando para o dia a dia.

Talvez um dia, sentados num café, possamos esgrimir argumentos e saberes, até gostava, até lá um abraço
e obrigado por esta conversa blogueira. Augusto

 
Às 11 agosto, 2006 16:20 , Blogger Peter disse...

Augusto

Apreciei bastante o seu texto e permita-me que destaque, pela positiva, o seguinte excerto:

"são estas manobras “sujas”, paradigma de quem não tem a razão, que me revoltam e me levam, não a enaltecer as virtudes do mundo Oriental, mas a condenar os defeitos do Ocidental"

Terei o maior prazer em conversar consigo pessoalmente.

 

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