terça-feira, julho 11

Monólogo

Por cima da minha cabeça o ribombar dos trovões, num dia de praia de calor sufocante.
Pouco me importa.
Se chover, meto-me no mar, o "elemento-mãe".

Em Lisboa ando a ler um livro de difícil leitura, pelo menos para mim. Frase a frase, vou avançando nas páginas. Frase a frase tenho de voltar atrás, por vezes mais que uma vez.
Mas li uma ideia interessante que me permitiu tentar compreender a Experiência EPR:

- "tudo" está dentro de "tudo".

Se duas partículas entram em contacto, este não se desfaz mesmo que elas se separem, como sucede na referida experiência.
Por analogia, se eu beijar uma mulher, passo a "habitar" o seu corpo e ela o meu, mesmo que nos separemos, que nunca mais nos vejamos, que nos fiquemos a odiar, ou apenas "amigos para sempre", expressão tradicional do "adeus até ao meu regresso", que herdámos da Guerra Colonial, da qual muitos regressaram num caixão de pinho, como cantava o então proibido Zeca Afonso.

Estou só, ou melhor, estou no meio de tudo o que me rodeia. Adoro o mar, estar longas horas a olhá-lo, a escutar o marulhar das ondas.

Mas o livro ficou em Lisboa e o telemóvel no apartamento.

Paz e tranquilidade, nada de deveres, laços, relações, ou obrigações. Como quando quero, durmo quando quero, faço o que quero. Não tenho horários.
Ninguém me "cobra" nada.
Sou um solitário?
Talvez.
Nasci duas gerações à frente e porque recuei no tempo, tenho dificuldade em me integrar naquela a que pertenço.

Começou a chover ...

13 Comentários:

Às 11 julho, 2006 17:09 , Blogger Marta Vinhais disse...

Manda a chuva para cá - agradecemos!
Quanto a sermos solitários, há vários tipos - depende como se está na vida. É a minha opinião.
Bom ler-te, Peter e boas férias!
As minhas só em Agosto!
Beijos e abraços
Marta

 
Às 11 julho, 2006 21:46 , Blogger Peter disse...

Olá Marta, é um prazer falar livremente contigo.
O meu problema é ter nascido duas gerações à frente e, por ter recuado no tempo, ter dificuldades em me integrar na geração a que eu pertenço, que não é a mesma que a tua, porque és de uma mais avançada.

Estou sempre em férias. Desta vez fiz o que andava a pensar fazer há muito tempo: meti-me no carro e saí de Lisboa. Estava a precisar de isolamento, pois passava a vida stressado.

Vou espreitar o teu blog.
Beijos

 
Às 11 julho, 2006 22:30 , Blogger augustoM disse...

Pois eu nasci duas gerações atrás, e Deus me livre da tentação de querer pertencer á que vem duas vezes mais tarde.
Um abraço. Augusto

 
Às 11 julho, 2006 23:21 , Blogger Peter disse...

Augusto, há quem pense, talvez a maioria, que a nossa geração é que está certa. Eu não penso assim. A nossa geração está manietada por uma série de instituições caducas, geradoras de frustrações e constrangimentos e que coartam a liberdade individual.
É difícil, senão impossível, rebelarmo-nos contra o sistema, como é o meu caso, em que já ultrapassei "the point of no return".

Um abraço do "rebelde frustrado".

 
Às 11 julho, 2006 23:38 , Blogger Peter disse...

Lazuli, não estou de férias, ou melhor, de férias estou eu sempre.
Passando por uma situação difícil, criada por mim, mas que se traduz na minha maneira de estar na vida, que não se coaduna, eu sei, com a da maior parte das pessoas e por isso estou constantemente a criar problemas, resolvi "evadir-me".
Aqui em frente ao mar, olhando as ondas no seu "eterno retorno", vou reflectindo e pensando em quem "habita" o meu corpo.

Desculpa não ter comentado o belíssimo texto que publicaste no teu blog, mas não tenho capacidade para tanto, até porque o acho demasiado "intimista" e como poderia eu comentar a tua alma?

Beijinhos e bom trabalho.
Peter

P.S. - Tenho de ir tirar a roupa da máquina e estendê-la na varanda.

 
Às 12 julho, 2006 15:22 , Blogger Ant disse...

Ora isso é que é. Tirar a roupa da máquina é uma boa terapia. e ainda podes esfregar o chão e tal.
E de um modo bem simples sintetizaste uma série de ideias que outros complicam até à exaustão

 
Às 12 julho, 2006 19:05 , Blogger Manuel Veiga disse...

a solidão é um estado de espírito, que se cultiva. apreciei o teu texto

 
Às 12 julho, 2006 22:00 , Blogger Peter disse...

"herético", ainda bem que apreciaste e que o fizeste aqui, em "su sítio".

 
Às 12 julho, 2006 22:13 , Blogger Papoila disse...

Olá Peter:
Fixei ese excerto. "Se duas partículas entram em contacto, este não se desfaz mesmo que elas se separem, como sucede na referida experiência.
Por analogia, se eu beijar uma mulher, passo a "habitar" o seu corpo e ela o meu, mesmo que nos separemos, que nunca mais nos vejamos..."
E quem reflecte assim pode viver só, mas nunca é um solitário.
Beijo

 
Às 12 julho, 2006 22:47 , Blogger Peter disse...

"papoila", nessa célebre experiência EPR, que o E (Einsten), não aceitou, mas que foi posterirmente confirmada e faz parte do que hoje se aprende em Física Quântica, se se actua sobre uma partícula e a outra se situa a 12m (o que é uma distância "astronómica", atendendo às dimensões das mesmas) e cito essa distância por ter sido a utilizada na referida verificação, a outra partícula modifica INSTANTÂNEAMENTE a sua posição de acordo com a actuação exercida sobre a primeira.Ora como a velocidade da luz é uma constante e a modificação sofrida pela 2ª partícula é um facto, a justificação só pode ser a de elas terem continuado unidas, o que é difícil de aceitar pela Física Clássica.

Daí podermos concluir que a separação de dois corpos é um facto em termos macrocóspicos, mas não se verifica na realidade, pois os corpos, que contactaram, continuam unidos, nos domínios do infinitamente pequeno. Há átomos do H que passaram a habitar o corpo da M e vice-versa.

 
Às 12 julho, 2006 23:48 , Anonymous Anónimo disse...

Gostei de estar aqui. Vou mergulhar...profundamente.

 
Às 13 julho, 2006 23:26 , Blogger Peter disse...

Olá "padeirinha"! De Aljubarrota? Certamente que não.
Sê bem-vinda e mergulha à vontade.

 
Às 16 julho, 2006 11:09 , Blogger Amita disse...

Não me referia a este texto que não tinha lido. Cada vez escreves melhor, Peter, e com um estilo muito pessoal. Não é surpresa para mim, meu amigo, contudo começa a ser viciante (ler-te).
Não és de forma nenhuma um ser solitário, mas sim alguém, como tantos outros, que "ama" os seus momentos de silêncio.
E essa questão de gerações... permite-me que a coloque entre aspas... looool
Um bjo

 

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