24 de Maio de 2006
Hoje andei vagueando sem rumo pelas ruas de Lisboa. Meti a digital no bolso e por aí errei sem destino, envolto nos meus pensamentos. Não sei o que é ser feliz, nem sei o que é a felicidade. Talvez uma borboleta colorida e fugídia, que se nos escapa, porque ela é tão frágil que quando a apanhamos acabamos por a destruir.
Nessa altura já nada há a fazer. Nos nossos dedos ficaram as cores das suas asas que desajeitadamente danificámos, impedindo-a de continuar o seu voo por entre as flores ali, no jardim do Campo Pequeno.
É um local de estranhas recordações: festa para uns, protesto para outros, sofrimento e morte, onde o bicho-homem se diverte com o animal, dando vazão aos seus instintos mais primitivos.
Mas nos jardins voam borboletas e nos bancos há pares de namorados, que olhamos com inveja duma mocidade perdida.
Depois, depois subi a Av da República, até ao Saldanha para a tradicional visita à FNAC, onde acabaria por comprar o último livro de Mia Couto. Mais um para a fila de espera ...
Foi então que o vi e a digital captou a imagem de um homem, incongruentemente deitado sobre a riqueza da CGD e profundamente adormecido. E eu invejei-o. Invejei a serenidade do seu rosto, invejei o abandono físico de quem se deita onde e quando lhe apetece fazê-lo, de quem não tem contas para dar a ninguém porque não finge aquilo que não é, porque não é Janus.
(Foto de Peter)
Muitas vezes me tenho interrogado se a cultura e o saber, porque são duas coisas bem distintas, serão compatíveis? Talvez aquele homem, de aspecto que se convencionou chamar de "miserável", por não seguir as normas certinhas dum formalismo convencional, não teria atingido a "paz de espírito" e a serenidade do seu rosto não fosse a de um poeta?
12 Comentários:
Ao ver este homem deitado no chão, deu me vontade de lhe dar um abraço. Muitos destes pobres são ricos de espirito, verdadeiros poetas. Tenho pena daqueles que pasam ao lado e desprezam, tenho pena daqueles que estão nesta situação de pobreza por culpa deles próprios e tenho pena do Guverno que nada faz.
um ser que habita as ruas, que veste-se com o silêncio do olhar perturbador da sociedade, alguns são verdadeiros homens e pouca oportunidade de terem um lar digno por estupidez humana.
estupidez banal e egoista dos humanos. animais que se tornaram, animais frios e sem sentimentos.
Recorda-me as palavras que editem no blog há uns dias:
Som...
1 2 3 som...
Resta o silêncio.
No fim, sempre o silêncio.
As águas aconchega os pés num
rebuliço de silêncios cansados,
os grãos de areia agrupam-se
numa série de calendários amarrotados
através dos milénios,
sou embalada pela melodia das ondas.
embalada pelas ondas
que me fazem adormecer
com a inocência de uma criancinha sem pai ou mãe
Adormeço como um mendigo
num banco de jardim
a ouvir o pulsar das ruas
as gargalhadas de bebados sem eira nem beira
o desencontrar dos olhares
o silêncio das prostitutas cansadas
Som (?)
1,2,3
Expiro
Inspiro
liberto todo o ar
adormeço
um beijo carinhoso, Lúcia*
*editei, perdão
"Ao ver este homem deitado no chão, deu me vontade de lhe dar um abraço."
Não davas Lúcia, porque ele estava profundamente adormecido e não imaginas a tranquilidade e a paz de espírito que dele emanava.
Por isso eu não utilizei o flash, para não a perturbar.
Mas não estava bêbedo, não.
Li os versos no teu blog, que visito diariamente. Umas vezes deixo comentário, outras não.
"Blue", feriado, qual feriado?
Talvez, talvez passe, não tenho de que me queixar.
Não, vê-se bem que já não conheces Lisboa. No Saldanha apanha-se o Metro para a FNAC do Chiado, da qual sou "un habitué".
P.S. - Quando substitues "os violinos" do Chopin? Já não os posso ouvir! O que vale é que vou ouvindo e vendo ;) a Madonna.
errata: escrevi mal o nome da "menina".
Corrijo: Maddona.
Como ela não é das minhas relações ...
Curioso, o meu post no meu canto tem um espírito algo parec~ido.
Abraço
Fernanda
”As pessoas não poderão ser felizes enquanto não perceberem que a felicidade não é algo a que se aspira mas algo que se sente, que se partilha, que se respira como o ar que nos envolve. Não perceberem que a felicidade não é uma meta no fim do caminho mas o próprio caminho em si mesmo. Ser feliz ou não depende da nossa capacidade de construir esse caminho e, acima de tudo, de apreciar a paisagem.”
(“A euforia perpétua: ou a obrigatoriedade de ser feliz” - Página Pessoal de Armando Vieira - http://www.defi.isep.ipp.pt/~asv/ )
Que tenhas um bom fds.
Beijinho*
Tens toda a razão, Peter.
Só passei por aqui para te dizer que há bolo no meu blog.
Acho melhor apressares, pois não quero receber reclamações de que não provaste nada.
Um abraço
Marta
"bluegift"
Por aqui a 5ª F da Ascenção não é feriado. Aliás eu nem me lembrava da data.
Quanto à música, não te preocupes.
Tentei pôr:
"http://pwp.netcabo.pt/samples/01"
unbreak my heart (regresa a mi).mp3
Mas não consegui.
Há uma leitora (Lídia Amorim), que comentou o artigo do António (ANT) e que diz que gostaria que lhe enviássemos o vídeo da Maddona, "i'm crazy for you".
Bom fds. Por cá está um tempo maravilhoso.
"marta", há bolo no teu blog?
Vou ver o que se passa.
muito bom este post.
Obrigado "wind". Tentei escrever um texto que vai além do que está escrito e que permite várias abordagens.
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