Lâmpada fundida
“Fundiu-se a lâmpada do meu gabinete, e começa uma longa viagem pela burocracia interna da administração Pública.
Tenho que avisar o chefe de divisão, que por sua vez fala com o director de serviços, que comunica o facto ao seu homólogo responsável pelos aprovisionamentos; este último dá instruções ao chefe de divisão, que se dirige ao chefe de secção.
O Chefe de secção constata que não há lâmpadas em stock e sendo urgente conclui que não se justifica uma consulta; informa do facto o chefe de divisão, que vai de imediato informar o director de serviços.
É necessário comunicar com o director de serviços financeiros, que terá que recorrer ao fundo de maneio para disponibilizar a quantia exacta necessária para adquirir a lâmpada numa qualquer loja. Questiona o seu colega sobre quanto é que a lâmpada efectivamente custa e este não sabe; terá que perguntar ao seu chefe de divisão, que dará instruções ao chefe de secção para telefonar para a loja.
Telefonema feito, o chefe de divisão já sabe quanto custa a lâmpada, e de seguida é o director de serviços a saber e a comunicar a quantia ao seu colega, que dará conhecimento ao seu chefe de divisão. Colocada no respectivo envelope a quantia necessária para adquirir a lâmpada, este faz o percurso até chegar ao director dos serviços de aprovisionamento.
Agora é só mandar comprar, nada mais fácil?
Não, a loja fica a quinhentos metros, e a auxiliar tem bicos de papagaio, não pode andar tanto e o motorista invoca que é motorista, não tem que andar a comprar lâmpadas, além de que pode ser multado enquanto pára o carro e vai à loja. A solução foi encontrada, foram comprar a lâmpada o motorista e a auxiliar dos bicos de papagaio.
A lâmpada é comprada num instantinho, só resta colocá-la, mas o serviço não dispõe de electricista, o motorista não sai do carro e a auxiliar tem bicos de papagaio. Trazem-me a lâmpada, eu que a coloque; entretanto eu próprio já lá tinha colocado uma lâmpada que comprei já há alguns dias atrás.
Assunto encerrado? Nem pensar.
Um ano depois o auditor da Direcção-Geral do Orçamento estranha que tenha sido comprada uma única lâmpada, que ainda por cima se encontra em stock. Passa dias a investigar toda a papelada e conclui que “não consegui apurar se a lâmpada adquirida seria mesmo necessária, tanto mais que estando em stock a lâmpada nova, lá não encontrei a lâmpada fundida, pelo que concluo que o dirigente deve repor a quantia do custo da lâmpada por se tratar de uma aquisição indevida”.
Seis meses mais tarde é uma Auditoria do Tribunal de Contas a preocupar-se com a já famosa lâmpada e o seu auditor conclui no seu relatório, após aturadas investigações: “é má prática a aquisição de uma única lâmpada para constituição de existências”.
Julgava eu que o tema estava acabado, quando aparece um inspector da Inspeção Geral de Finanças, pois alguém escrevera uma carta anónima insinuando favorecimento da loja onde a lâmpada foi comprada. Quanto a esta última investigação desconheço o resultado, o inspector ainda por lá anda….”
(autor desconhecido, mas está com piada)
12 Comentários:
Olá Peter! Com a falta de tempo não tenho passado por aqui, mas mereceu! Está muito bem retratado. Embora o autor seja desconhecido, fizeste bem lembrar da forma como se funcionava ( e ainda?). Eu vi esse filme várias vezes... Um beijo
"Joaninha", a falta de tempo é um mal geral.
Agora que o 1º Min está a "tentar" acabar com a burocracia, mas que não acaba, porque cada funcionário não quer abdicar do poder que tem atrás do guichet, fui buscar este post aos meus arquivos.
Quando puderes, lembra-te de nós e aparece.
É sempre um prazer renovado.
Vou pôr "Lylia", gosto mais e é menos vulgar.
Mas não agora, pois não tenho vagar. Não posso é deixar de fora uma presença constante desde a primeira hora.
Beijinho*
...não é só a lâmpada que está fundida... está tudo Fundido!...
FORÇ'AÍ!
js de http://politicatsf.blogs.sapo.pt e..
Que imbróglio!!!! Funcionalismo público!!!
Beijos.
Está mesmo com muita piada... avariou o rato do meu computador que não é considerado material perecível logo é um bem patrimonial... Fui "roubar" o rato do gabinete do director, que é gestor...
A odisseia desta lâmpada trouxe-me à memória certas coisas muito parecidas.( ou não tivesse sido eu funcionária pública...). O texto é muito bom e ri com gosto! Já actualizei o link. Obrigada.
será burocracia....ou o buraco negro :)))))))))))
jocas maradas
"js", oportuna e inédita a tua defesa dos "ostomizados". O teu blog continua nos n/links.
Dulce, respeito o funcionalismo, onde, como em todas as profissões, há de tudo.
Combato a máquina burocrática erguida pelo Estado como uma barreira entre nós e o Poder.
"nokinhas", também fui funcionário público e a minha crítica é contra o "sistema", que emperra o nosso desenvolvimento.
Obrigado por teres actualizado o n/link.
"marakoka", a burocracia é um cancro que corrói o país. Para mudar para outro sistema de pagamento numa rede de telemóvel, exigiram-me fotocópia do BI, do nº fiscal, da última factura da luz e de um cheque.
Mudei de rede ...
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