quarta-feira, novembro 2

INDO(LO)RES

Já nem o silêncio dói. Espartilhou-se em prostração e vácuo.
As insonoridades voláteis de um apito suburbano não passam agora de pequenas interrupções no nada.
O corre-corre quase acéfalo, direccionado por apelos mais do estômago que do coração a obrigar o rebanho a deslocar-se massivamente sabendo cada uma das ovelhas qual é o local de sacrifício. Em troca, cada uma delas recebe misérias, troças, falsas atenções e a certeza da humilhação.
[O julgamento precipitado de uma quimérica existência foi agora substituído pela certeza impoluta – e absoluta – da inexistência.]
Recorrente, esta inexistência que se pauta por letras perdidas em alvas folhas.
Pequenas bátegas de água molham um solo seco, coberto de penugens também elas secas. A falsa sensação de terra molhada. Quase à superfície tudo agoniza. Solos, pessoas e sonhos.
[Jamais foi permitido sonhar], e eu sei que sim. Os homens já não nascem meninos.
Já nem o silêncio me dói. Desfez-se na confrontação com o espelho. Ambos se estilhaçaram em pedaços mil. Sobrevém o nada.
Do vazio, a certeza.
Do nada, o esquecimento.
Do esquecimento a certeza da inexistência.
Da inexistência o fim que nunca o foi, pois jamais houve princípio. Tudo não passou de miragem.

17 Comentários:

Às 02 novembro, 2005 21:44 , Blogger Peter disse...

"Da inexistência o fim que nunca o foi, pois jamais houve princípio. Tudo não passou de miragem."

Existimos?

 
Às 02 novembro, 2005 21:45 , Blogger Peter disse...

Eu já lhes tratei da saúde! Era o que faltava virem pr'aqui conspurcar este teu belo texto.

 
Às 02 novembro, 2005 22:27 , Anonymous Anónimo disse...

" Ás vezes podemos passar anos sem viver em absoluto, e de repente toda a nossa vida se concentra num só instante." Oscar Wilde

Sou da opinião que uma grande parte das pessoas não vive, apenas existe...

 
Às 02 novembro, 2005 22:28 , Blogger LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Cá estou de novo, de regresso ao cantinho dos amigos e amigas, a agradecer as palavras deixadas no "Beja". Foram uns dias maravilhosos onde só faltou a tua presença. Espero que possas arranjar uma oportunidade e fazer uma visita a Alvito onde tanto há para ver.

 
Às 02 novembro, 2005 23:54 , Anonymous Anónimo disse...

Confunde-nos um olhar (como se fosse) somente houve o sentir!
Como um reflexo que nos consumisse a essência das vozes, ritmadas com a melancolia de outros "mundos" a urgência da existência do sonho. Para que o brilho da vida não se estilhasse a nossos pés, como um simples vidro.


Um beijo

 
Às 03 novembro, 2005 00:06 , Blogger Fragmentos Betty Martins disse...

Bom não sei como é que estou em Anonymous!!? por isso vou repetir o post :)

Confunde-nos um olhar (como se fosse) somente houve o sentir!
Como um reflexo que nos consumisse a essência das vozes, ritmadas com a melancolia de outros "mundos" a urgência da existência do sonho. Para que o brilho da vida não se estilhasse a nossos pés, como um simples vidro.


Um beijo

 
Às 03 novembro, 2005 00:43 , Anonymous Anónimo disse...

insonoridades, inexistências, vazios, esquecimentos, nadas, miragens. As palavras que sempre relemos na tua prosa, para não variar.
ana

 
Às 03 novembro, 2005 09:35 , Anonymous Anónimo disse...

Temos apaixonada (s)

rsrsrsrs

 
Às 03 novembro, 2005 20:17 , Anonymous Anónimo disse...

Sr anónimo, se se está a referir a mim, digo que não pode estar mais enganado, limitei-me a comentar com as palavras que leio sempre nos textos do autor: são quase sempre as mesmas, vire de um lado ou do outro.

ana

 
Às 03 novembro, 2005 20:39 , Blogger Su disse...

gostei de ler-te
jocas maradas, sempre

 
Às 03 novembro, 2005 22:11 , Anonymous Anónimo disse...

Não, anónima ana. A cara é que enfiou a carapuça. Mas não era para si. Era mais para cima e para baixo.

 
Às 03 novembro, 2005 22:42 , Anonymous Anónimo disse...

Talvez porque estou mais atento do que o/a(?) anónimo (a?) questiono-me se a vida não será exactamente tudo isso que escrevo. É um tema recorrente, sem dúvida. Porém, se houver alguma atenção à leitura talvez - se tiver cpacidade para isso - consiga ler para além daquilo que agora consegue apreender. Ou será falta de capacidade para ir além do óbvio?

 
Às 03 novembro, 2005 22:45 , Anonymous Anónimo disse...

Caríssimo "zezinho"/"letrasaoacaso":

não fui eu que questionei a sua escrita. Muito pelo contrário. Elogiei-a num outro comentário.
Se reflecte a vida? Reflecte, pois!
Eu apenas tenho comentado o óbvio... e esse óbvio não está na sua escrita...

 
Às 03 novembro, 2005 22:47 , Anonymous Anónimo disse...

Grato pelo esclarecimento.

 
Às 03 novembro, 2005 22:49 , Anonymous Anónimo disse...

Estou cá para o esclarecer

 
Às 04 novembro, 2005 01:47 , Anonymous Anónimo disse...

zé, parece que essa sua resposta seria então para mim, mas eu não questionei a sua escrita, apenas li as palavras que sempre utiliza e eu sou atenta à sua escrita e não apenas a ela. a vida é muito mais do que palavras que iludem, mas estou como o Sr anónimo, eu vejo o óbvio e esse está para além da escrita.

Sr anónimo, eu respondi porque o seu comentário veio logo após o meu.

ana

 
Às 05 novembro, 2005 01:41 , Anonymous Anónimo disse...

Eu havia feito um comentário aqui. Onde terá ido parar?

 

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