segunda-feira, outubro 17

MUTISMO

[O tiritar de frio não de temperaturas mas de solidões que a noite traz no negro cinza rodopiando cabeças agitando almas quebrando os sonos que se não têm]
Ainda a inutilidade do útil sobrepondo-se à utilidade da inutilidade.
(…) O aproximar da sombra imensa do meio rosto num perfil atípico caracterizado contudo pelas marcas inconfundíveis dos labiares também eles sombra assumindo contornos de desejo escorrendo salivares e o rubro de línguas que se buscam sabendo presença constatando ausência numa conjunção feliz de ilusões ópticas e sensitivas.
Na convexidade da imagem difusa e no esbater do cinza contra o negro azeviche o realce do perfil numa apoteótica antevisão do todo.
[A voz que não reconhece fronteiras fazendo a ponte entre dois pontos equidistantes fazendo a diferença de um dia que seria negro]
A explosão de raiva pela existência do espaço físico mero estorvo ao desejo nem tanto de corpos mas dos mergulhos nos olhares e/ou na descoberta de novos mundos nesses azuis incomensuráveis a perder de vista e vítreos olhos verdes/aço belos, belos.
O apaziguar de tudo no mergulho da voz ou das letras que se vão digitando e que fazem a ponte entre essas duas equidistâncias.
Sem a inoperância do óbvio, o beijo.Com a subtileza, o beijo.
A audiometria:
O saber que ocupas todas as ondas hertzianas e todos os espaços corporais.A voz omnipresente.A ponderabilidade – mais: a inevitabilidade – de sentires preenchendo por inteiro o outro.
[Lá fora noite dentro apenas o nada do silêncio quebra o mutismo da solidão]
O sorriso que continua a povoar as noites e todas as ausências.
Sem a inoperância do óbvio, o beijo.Com a subtileza, o beijo.
Os passos que se afastam e nos afastam. Ao longe apenas um leve sussurrar de passos perdidos no vácuo do espaço e do tempo. Para sempre – até à infinitude – essa cadência terrível marcada a fogo na alma de duas longas pernas a afastarem-se.Para sempre?!
Sem a arte de usar a garrafa bem rolhada e a mensagem dentro o beijo – o último – ainda com sabor a lábios quentes também ele a afastar-se ingloriamente na noite cinza/negra.Fica a tortura da memória que se não apaga.
[Lá fora noite dentro apenas o nada do silêncio quebra o mutismo da solidão]

3 Comentários:

Às 17 outubro, 2005 23:27 , Anonymous Anónimo disse...

Acabei de ler, tem intensidade.
Beijinhos.

 
Às 17 outubro, 2005 23:53 , Blogger margusta disse...

"Lá fora noite dentro apenas o nada do silêncio quebra o mutismo da solidão"

Um beijinho e uma boa noite para ti.

Obrigada pela tua gentileza lá no meu cantinho. Agora já sei onde te encontrar.

 
Às 18 outubro, 2005 10:24 , Blogger Rosario Andrade disse...

Lindo, lindo, lindo! Adorei. Fez-me lembar Virgilio Ferreira, que eu amo!

Abracicos!

 

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