domingo, outubro 16

DAS REFLEXÕES E OUTRAS HISTÓRIAS.

O crepúsculo vai-me vestindo de noite e de estrelas. A Lua é a tua Lua. Pontos distantes unidos por um ponto comum prateado esbatido nas águas de um lago agora lunar.
O alvo da tela tem marca d´água [a tua imagem] e sobre ela rendilharei as letras que te oferto. [Sou eu desnudada] dizes-me e eu sei que és porque captei a tua imagem além - da - lenda num lago druídico de leves ondulações.
[O pensar simbólico que ultrapassa a inércia do homem e o dota de um constante reforçar do seu universo não deixa de ser ele mesmo um pensamento inerte.] Da teoria das luzes retenho a teoria.
Recebi hoje em casa, Martin Luther King que me propôs ir em demanda de – pasme-se – mulheres de vida fácil. Como recusei, por achar indigno o comportamento de um homem que é referência, aliciou-me a comprar armas para que a batalha final tenha início. Esta última proposta pareceu-me razoável. Tão razoável que aceitei. Sou agora legítimo proprietário de um funda temível. “Guerra aos brancos” grito num primeiro impulso de alegria. Depois paro incrédulo. Eu sou branco e o Martin olha-me de forma estranha. Entendo que serei a primeira vítima do “pacifismo”.
A Lua lança sobre o planeta agora negro salpicado de pequenos pontos luminosos, verdadeiros enigmas de formas. Entre todas busco a tua numa tentativa de te possuir.
Aparecem-te os seios na proporção directa do cair das alças da camisa que te servirá de manto durante a noite. Deslumbro-me com o triângulo formado num vértice traçado por duas linhas rectas perpendiculares coberta de uma fina penugem que me desperta todos os sentidos.Ouço o restolhar de ervas secas pelo calor do Verão e de um Outono bafiento e nostálgico serem pisados pelos teus pés [Assustei-me. Passou junto a mim um animal que não sei definir.] descalços ao mesmo tempo que a Voz parece vir da além-lenda num tempo sem tempo.
Decididamente hoje é dia mau para permanecer em casa. Alguém bate à porta e me convida a assistir “Aos prodígios do fisco” pelo que fico aterrado. Não acredito que seja uma peça de teatro. É sim, uma artimanha para me saquearem os bolsos quando chegar à rua. Claro que passarão recibo, que isto de finanças é coisa séria. Depois pondero e acabo por aceitar. Já me tiraram tudo o que havia para tirar. Dentro dos bolsos acharão o vazio que mais não é que o produto do roubo a que estou/amos sujeito/s todos os dias.
Ansioso aguardo o momento em que te devorarei seios, lábios e tudo o mais que tiveres para devorar.

7 Comentários:

Às 16 outubro, 2005 17:18 , Blogger Su disse...

adoro ler-te...sempre
"O crepúsculo vai-me vestindo de noite e de estrelas"
jocas maradas

 
Às 16 outubro, 2005 18:39 , Blogger Manuela B. disse...

claro que a foto no é da minha pessoa,,,
obrigada na mesma..
keep smiling

 
Às 16 outubro, 2005 19:01 , Blogger lique disse...

Reler-te é uma forma agradável de finalizar este domingo. Tem uma boa semana, Zé! Beijos

 
Às 16 outubro, 2005 19:17 , Anonymous Anónimo disse...

Aqui sempre vale a pena a visita. Lindo texto.

 
Às 16 outubro, 2005 23:22 , Blogger Fragmentos Betty Martins disse...

Olá Zé

Está soberbo o teu texto.

A paisagem
sendo
um piano
solto no ar
notas
que bailam
levadas no vento
aves coloridas
com presságios
no seu canto
e
as garras do tempo
correndo... correndo
impaciência
de saber
de
vento não ser...


Um beijo

 
Às 16 outubro, 2005 23:26 , Anonymous Anónimo disse...

Acabei de fazer uma agradavel leitura deste texto que está bem construido.

 
Às 16 outubro, 2005 23:54 , Blogger Menina Marota disse...

É sempre um prazer renovado a leitura atenta dos teus textos. Gostei. Gosto de ler-te assim...
Um abraço e uma boa semana :)

 

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