Teoria da expansão do Universo tem dois descobridores
“Uma das maiores descobertas científicas do século XX, há mais de 80 anos, foi a da expansão do universo, ou seja, a teoria de que as galáxias se estão afastar umas das outras. A teoria desconcertou o próprio Einstein e foi o primeiro pilar do que seria a teoria do Big Bang. A descoberta foi atribuída ao americano Edwin Hubble, que não foi galardoado com um Prémio Nobel, mas foi homenageado ao dar o nome ao primeiro telescópio espacial, lançado em 1990. Hubble determinou uma taxa de expansão do universo. Para tal baseou-se nas observações que fez do céu, bem como nas do colega Vesto Slipher, que mediu pela primeira vez a velocidade radial, isto é a velocidade com que um objecto celeste se aproxima ou afasta do observador, enquanto que a velocidade angular desse afastamento é medida em graus por um terceiro observador, posicionado transversalmente. Hubble mediu a distância das galáxias, em cooperação com Milton Humason, e encontrou algo revolucionário:
- quanto maior a distância de uma galáxia, maior é a velocidade aparente com que se afasta do observador, estabelecendo assim a Lei de Hubble".
O americano publicou a descoberta em 1929, no artigo "Proceedings of the National Academy of Sciences", que causou enorme impacto, tendo sido muito criticada por não dar o devido reconhecimento ao trabalho de um cientista belga, Georges Lamaitre, que tinha feito a mesma descoberta dois anos antes de Hubble. De facto, em 1927, Lamaitre chegou à mesma conclusão a que Hubble chegaria dois anos depois sobre a expansão do universo, mas a descoberta publicada em francês, na revista "Annales de la Société Scientifique de Bruxelles", passou despercebida. Em 1931, o artigo do belga foi traduzido para inglês e publicado na revista britânica "Monthly Notices of the Royal Astronomical Society", no entanto foram omitidos parágrafos em que o belga falava sobre o crescimento das galáxias.
Posteriormente, quando o artigo original de Lamaitre foi comparado com a tradução inglesa surgiram as dúvidas. Porquê foi o artigo original censurado e quem foi o responsável por tal acto? "Lamaitre foi eclipsado enquanto vários textos proclamaram Hubble como o descobridor da expansão do universo" escreveu David L. Block sobre o assunto. "O artigo francês foi meticulosamente censurado quando publicado em inglês", disse ainda Block.
Mário Lívio, empenhado em desvendar o mistério, recorreu aos artigos da "Royal Astronomical Society" e deparou-se com a correspondência de Lamaitre em 1931, sobre a tradução do artigo, concluindo que foi o próprio Lamaitre o responsável pela edição que o artigo sofreu na tradução para inglês.
"Envio-lhe a tradução do artigo (de 1927). Não me parece aconselhável republicar a discussão sobre as velocidades radiais (e a recessão das galáxias) nem tampouco a anotação geométrica que carece claramente de interesse agora", escreveu Lamaitre. Segundo o astrónomo, esta carta "termina claramente com as especulações sobre quem traduziu e eliminou os parágrafos chave".
O que teria levado Lamaitre à renúncia da glória não é possível saber. Livio escreveu que Lamaitre "não estava interessado no reconhecimento do seu trabalho. Estava mais preocupado por parecer antiquado, pois os dados em que o seu estudo se baseava melhoraram desde 1927". Lamaitre dificilmente conseguirá a fama de Hubble agora que o americano está livre de suspeitas neste caso de censura. No entanto há vozes que clamam que um telescópio espacial deveria ser baptizado com o nome de Lamaitre.”
(Resumo do artigo publicado em 17 NOV 11 no Jornal de Notícias)
5 Comentários:
Interessante história...
No fundo, a descoberta da recessão das galáxias é uma consequência inevitável dos desenvolvimentos tecnológicos, não vejo nela grande mérito e talvez seja por isso que o Lemaitre não lhe deu grande importância. Muito mais importante era fazer uma teoria que a explicasse.
Claro que os anglo-saxónicos, dominando a opinião publica, tornaram importante o que na realidade era pouco importante e tornaram irrelevante o que era mais importante: quem é o pai da teoria do Big Bang.
Um tema muito interessante e que tantas vezes nos passa ao lado!
Grata por o partilhares.
Um grande Abraço, Peter.
Ah, ja tinha saudades de ler estes artigos!! A ver se agora nao desapareco outra vez.
Bem hajam por ainda continuares por aqui. Beijo, Lucia
alf
Enquanto não dá à estampa a teoria em que anda a trabalhar, vou-me entretendo com leituras de divulgação científica. Neste momento estou interessado na teoria do "Big Bounce". Qq dia ponho aqui um post sobre o assunto, para prazer da Lylia.
Lylia
Não consigo colocar um comentário no teu blog.
Concordo contigo:
"a única coisa que nos salva é precisamente a mentira"
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