Pescadores
Sob o título “Morrer de sede em frente ao mar”, vi ontem na TVI, após o noticiário, uma reportagem sobre a vida e morte dos nossos pescadores, que me deixou extremamente chocado. Julgo que foi filmada em Sesimbra, pelo menos foi-o na maior parte.
Impedidos de pescar durante grande parte do ano, devido ao mau tempo e com um horário condicionado no Verão, devido à utilização das praias pelos turistas, para conseguirem sobreviver, arriscam a vida enfrentando o mar. Uma das entrevistadas leva toda a vida vestida de preto: primeiro o mar roubou-lhe o pai, depois o filho e por último o marido.
Os mais velhos, na casa dos 70/80 continuam em pequenos grupos a pescar por conta própria, pois é o que sempre fizeram.
Os outros trabalham em traineiras, mas o peixe escasseia, muitas vezes não conseguem apanhar nada que valha a pena e quando conseguem e a reportagem mostrava a captura de cerca de 2 toneladas de sardinha, o que devido a uma legislação caduca, com preços que vigoram nas lotas desde a década de 80, se iria a traduzir em 70/80€ para cada pescador. Arriscar a vida por uma miséria. Essa sardinha foi vendida na lota por 0,70/0,80€ o quilo e arrematada pelos intermediários que breve a colocam no mercado a cerca de 4/4,5€, ou nos hiper, onde o preço ronda os 5€/kg. E é este facto que revoltou uma das miúdas e que a entrevistadora põe em contacto com o min Agricultura e Pescas. Este acaba por debitar umas banalidades, diz que tem mais de 200 milhões de Euros para gastar, mas não percebi como, nem onde e acaba por sugerir que os pescadores poderiam fazer dinheiro, abrindo apoios de praia para venda de sandes, bebidas e gelados.
Mas como? Essa miúda tinha pedido à mãe dinheiro para ir comprar um bolo ao café e a resposta que teve foi a de que “não podia ser”, pois apenas tinha 17€ para o dia seguinte. A família era o pai, a mãe e duas filhas.
Como sobrevivem? Os mais idosos, ou as viúvas recebem e nem sempre, uma esmola dada pela igreja e que vem dos peditórios feitos nas missas dominicais. Há também uma organização que entrega mensalmente um pequeno cabaz de alimentos aos mais necessitados. Não me apercebi se era a Junta de Freguesia que o fazia.
O PCP “defende a sua dama”, os agricultores do Alentejo; mas eu que ali passei parte da minha vida e que ali continuo a ir, vejo que o seu nível de vida é muito superior ao que tinham antes do 25/ABR/74 e que, para sobreviver, não precisam de arriscar a vida, como fazem os pescadores.
(imagem GOOGLE, “pescadores da Nazaré”)
6 Comentários:
Um bom artigo, caro PETER sobre uma classe profissional nem sempre compreendida ou lembrada.
Costumo ir para Vila Praia de Âncora a banhos e vejo a actividade que o seu pequeno porto de mar tem; gente calejada, generosa e que ali arriba com delicioso peixe. Em redor existem bastantes restaurantes e tabernas. O simples facto de, nalguns casos, o peixe atravessar a rua é logo motivo para o preço subir em flecha!
Aqui, como em muitos outros sectores de actividade, sempre em favor de intermediários e afins e nunca de quem dá o corpo ao manifesto.
Aliás, é escandaloso o preço que por aí vai em matéria de peixe.
Julgo, não tenho a certeza, que os pescadores estão mais próximos do PS. Talvez seja altura de modificarem os preços na lota, em vigor desde 1983 (?) e de acabarem com a praga dos intermediários, que nada fazem e exploram miseravelmente o trabalho dos outros, até os levarem à morte, como é o caso.
P... façam algo em defesa dos pescadores. É inadmissível que com uma costa enorme, os n/pescadores morram à fome.
Vida dura, cuja insignia é o luto e a dor.
Vida triste e amargurada em cada partida e a eterna dúvida se voltarão.
Vida de desilusão, quando nada se pesca e pão falta para os filhos.
A minha simpatia para as familias que no mar perderam os seus entes queridos e a minha revolta para os que nada fazem para apoiarem aqueles que arriscam a vida para garantir o seu sustento e o dos seus.
Um abraço
Vi bocados desta reportagem e pelos vistos avaliei mal, fiquei com a impressão de que se tratava da habitual exploração do coitadinho e confesso não prestei atenção.
Nos EUA a pesca é a profissão de maior risco seguida da de polícia e trabalhos em altura.
R. Rudoisxis
A nossa simpatia.
Para que quer o ministro os 200 milhões de euros que tem à disposição?
Porque se mantêm na lota os preços de venda de 1983, que só servem para beneficiar intermediários?
Porque os pescadores não são merecedores da atenção que o PCP dispensa aos trabalhadores alentejanos? Na minha terra o presidente da Câmara, que sempre tem sido do PCP, conseguiu, com um sistema de rotatividade, manter toda a gente a trabalhar. É uma terra pequena, daí essa possibilidade.
antonio - o implume
Não é um problema de "risco" tão só, é um total abandono a que este Governo e os antecedentes, têm votado os pescadores.
É MISERÁVEL!
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