quarta-feira, janeiro 14

As esmeraldas...

Aviso que isto ficou enorme, o que é contrário à lógica da escrita para a NET. Logo se verá quem aguenta isto e se a coisa desperta ou não interesse.


No emaranhado de assuntos que apetece dissertar; guerra, crise económica, aumento despropositado dos combustíveis, etc., há um que desde a semana passada (tenho que respeitar o momento dos posts porque assim é que deve ser – até porque isto é intemporal e transversal ao quotidiano), escolho o “caso” Esmeralda, se é que é este o nome que deram à miúda.


Psicólogos e juristas conjecturam sobre o “caso” e opinam segundo as suas concepções e escolas.
Todos avaliam o que é o interesse soberano da criança.

Há dias assisti a um debate interessante em que participou o Nuno Lobo Antunes que se esgrimiu com um outro pedopsicólogo que, aparentemente, estava demasiado envolvido emocionalmente com o “caso”, e do qual, aparentemente, pouco sabia de facto.
Ou seja, tinha algum conhecimento mas não estava envolvido directamente.

E, entre tudo o que foi dito ficou-me a frase final deste médico (do qual não me recordo o nome, como sempre): “… espero que a criança consiga superar este trauma e não venha a fazer parte daquelas que encontram uma solução mais radical, como o suicídio...”. Não é textual mas o que realmente ele entende é que a Esmeralda pode vir a substituir o insuportável peso do ser pela queda livre para um abismo qualquer.
Lobo Antunes, que assumidamente não conhece em termos clínicos este “caso”, dizia que era direito do pai e da própria criança terem uma oportunidade de estarem juntos, conhecerem-se. Mais: que a Esmeralda já tinha até pedido na escola para aprender a escrever o apelido do progenitor.

Mas realmente o que é que se passa com a justiça e toda esta gente?
Que sabemos nós deste assunto?
Sabemos que uma mulher engravidou de um homem e que, sozinha, decidiu ter a criança. Sabemos que o homem duvidou da paternidade e que só a confirmou quando coagido a isso.
Sabemos que a mulher deu (?) para adopção a miúda a um casal que lhe poderia (e assim o fez), proporcionar uma vida equilibrada.
Sabemos que o pai resolveu assumir a paternidade e que levou o caso a tribunal.
Sabemos que o tribunal lhe atribuiu o poder paternal há anos e que só agora a ordem foi executado. Sabemos que ganhou uma indemnização.
Sabemos mais umas coisas.

O que não sabemos é o que realmente a criança quer.
Não sabemos o que está por detrás de tudo isto. Porque é que o pai decidiu de repente assumir a paternidade.
Será porque, ao confirmar essa realidade e ao tomar contacto directo com a criança, não resistiu à ideia de criá-la segundo os seus valores?
Será que ele se aproximou como progenitor e com o carinho que uma criança merece, ou melhor exige?
Se assim foi, porque é que os pais adoptivos desapareceram com a criança? Porque negaram essa realidade à Esmeralda que, certamente, um dia iria reclamar?

E a justiça? Alguém se lembrou de entender o que se passa de facto na cabeça desta miúda que, todos os dias, tem que enfrentar uma legião de outros miúdos. Mais os jornalistas, os psicólogos, os advogados. Ouvir as conversas, ser alvo de estratégias emocionais de ambos os lados.

A Esmeralda, ou lá como resolveram chamar-lhe, acaba por se constituir uma espécie de paradigma de todas as crianças que vivenciam estes duelos.

Sim, porque estas lutas egocêntricas acontecem todos os dias com miúdos cujos pais, nos seus divórcios, os envolvem nas quezílias próprias de quem não pensa neles e que só os teve por um mero acaso.
Acontecem sobretudo quando os pais chegam a casa das mães e são impedidos de os levarem para as suas visitas quinzenais.
Acontecem quando são compelidos a não querer ir. “Porque a mãe fica triste”, porque vai a uma festa, porque isto ou aquilo.

Agora digam, vocês que aqui chegaram: Acreditam realmente que é possível haver paz no mundo?
Se estas pessoas não se entendem o suficiente para dar alguma tranquilidade às SUAS crianças, como é que os povos se podem entender minimamente?

É que os países também são feitos destes “pequenos nadas”!


(Foto: Luiz Filipe Navarro)

7 Comentários:

Às 14 janeiro, 2009 12:00 , Anonymous Anónimo disse...

Neste caso não faltam comportamentos abjectos ... começando pelo pai biológico que renega a filha e pelos ditos pais afectivos (na realidade, sequestradores) que mais pareciam e parecem uns foragidos!

Quanto à criança, a quem torpemente até o nome se trocou, de facto, são contraditórias as versões sobre o que a mesma realmente quer e deseja!

 
Às 14 janeiro, 2009 12:34 , Blogger vbm disse...

O meu partido é o de a criança dever ser entregue ao pai biológico e o "sequestrador afectivo" punido por não ter devolvido a criança quando o tribunal decidiu.

O facto de o pai ter inicialmente duvidado de ser ou não o pai biológico do nascituro é um direito seu, pois não teria tido razões para crer cegamente nessa paternidade.

 
Às 14 janeiro, 2009 12:45 , Blogger Carol disse...

Este é um caso muito complexo...

Ao que sei, a progenitora teve um relacionamento de uma noite com o pai biológico. Penso que, a ser verdade, não será de condenar a atitude do mesmo em duvidar da paternidade da criança. Realço, no entanto, o facto de, após ver confirmado a mesma, ter imediatamente pedido a guarda da criança. O que acontece é que, entretanto, a progenitora já teria entregue a menina ao casal que não fez o registo legal da adopção e que, quando interpelado pela justiça, decidiu fugir com a menina prolongando algo que deveria e poderia ter sido resolvido enquanto ela ainda era uma bebé.
Há aqui algo que não consigo perceber (ou, se calhar, até consigo e chego a conclusões horripilantes): porquye carga d'água é que as autoridades policiais nunca conseguiram descobrir o paradeiro da menina e do dito casal?! Estranho, muito estranho...

Concluindo e resumindo, sou a favor da decisão tomada pela juíza e espero, sinceramente, que todos os envolvidos ponham de ladoo orgulho e percebam que uma convivência saudável entre todos é fundamental para o equilíbrio emocional da Esmeralda.

P.S.: Eu também tenho andado muito ausente, Peter. A falta de tempo e problemas com o meu portátil a isso obrigam. Desejo as rápidas melhoras desse seu ente querido.

 
Às 14 janeiro, 2009 16:27 , Blogger Manuel Veiga disse...

compreendo a tua angústia que diria melancólica...

vivemos um cultura de "poder" (ate a responsabilidade pelas crianças vem embrulhada na designação de "poder paternal") em que o "ter" e muitas vezes apenas o "parecer" são a matriz... a que tudo se submete.

que importará então o "ser", sobretudo quando ainda é apenas uma promessa?

gostei de ler.
excelente.

abraço

 
Às 14 janeiro, 2009 18:14 , Blogger Peter disse...

Gostei bastante do teu artigo até porque tenho dois netos que têm várias casas mas nenhuma é a deles.

Em Inglaterra e julgo por cá também, existe um movimento dos "Pais Batman" que reivindicam o direito de estarem com os filhos.
Felizmente que, embora seja raro na nossa jurisprudência que, por norma, entrega a custódia dos filhos à mãe, já existem juízes que decretam a "custódia partilhada".

 
Às 14 janeiro, 2009 21:52 , Blogger Papoila disse...

Gostei imenso deste artigo que li de fio a pavio, assisti ao tal debate e tenho exactamente o mesmo partido.
É natural que o pai biológico tenha duvidado da paternidade, é de louvar que logo que soube ser o pai quisesse a guarda da criança e o casal à guarda de quem ela estava, os tais "pais afectivos" deveriam ter cumprido a ordem do tribunal de imediato e ao não o terem feito devem ser punidos. A criança é ainda suficientemente "nova" para não correr o risco que o senhor doutor pedopsicólogo demasiado sectário apresentou como cenário. Estou certa que os técnicos sociais e psicólogos do Instituto de Reinserção Social que acompanham de perto o caso estão atentos ao bem estar e projecto de vida da Esmeralda.

 
Às 15 janeiro, 2009 15:39 , Blogger Ant disse...

A vossa contribuição foi excelente. Imaginem que ontem a RTP 1 deu uma reportagem sobre pais adoptivos monoparentais. Curioso, no mínimo.
E vejam que há homens que cuidam das crianças, sozinhos, com toda a tranquilidade (?) e com competência...
Quem diria.
Pena que os pais divorciados nem tenham a mínima hipótese de o fazerem com os proprios filhos.
Ir a tribunal? É só rir...
O melhor é deixá-los crescer...

Obrigado

 

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