quarta-feira, setembro 13

Gerir a raiva


“Por vezes, quando se tem um mau dia e precisamos de o descarregar em alguém, não o faça em alguém seu conhecido. Descarregue em alguém que NÃO conheça.
Estava sentado à minha secretária, quando me lembrei de um telefonema que tinha de fazer. Encontrei o número e marquei-o. Respondeu um homem que disse:
"Está?"
Educadamente respondi-lhe: "Estou! Sou o Luís Alves. Posso falar com a Sra. Ana Marques, por favor?"
Ficou com uma voz transtornada e gritou-me aos ouvidos: "Vê lá se arranjas a m**** do número certo, ó filho da p***!" e desligou o telefone.
Nem queria acreditar que alguém pudesse ser tão mal educado por causa de uma coisa destas. Quando consegui ligar à Ana, reparei que tinha acidentalmente transposto os dois últimos dígitos.
Decidi voltar a ligar para o número "errado" e, quando o mesmo tipo atendeu, gritei-lhe: "És um grande parvalhão!" e desliguei. Escrevi o número dele juntamente com a palavra "parvalhão" e guardei-o.

De vez em quando, sempre que tinha umas contas chatas para pagar ou um dia mesmo mau, telefonava-lhe e gritava-lhe: "És um parvalhão!" e isso animava-me.
Quando surgiu a identificação de chamadas, pensei que o meu terapêutico telefonema do "parvalhão" iria acabar. Por isso, liguei-lhe e disse: "Boa tarde. Daqui fala da PT. Estamos a ligar-lhe para saber se conhece o nosso serviço de identificação de chamadas!"
Ele disse "NÃO!" e bateu o telefone.
De seguida liguei-lhe, e disse: "É porque és um parvalhão!"

Uma vez, estava no parque do Centro Comercial e, quando me preparava para estacionar num lugar livre, um tipo num BMW cortou-me o caminho e estacionou no lugar que eu tinha estado à espera que vagasse. Buzinei e disse-lhe que estava ali primeiro à espera daquele lugar, mas ele ignorou-me.
Reparei que tinha um letreiro "Vende-se" no vidro de trás do carro, e tomei nota do número de telefone que lá estava.

Uns dias mais tarde, depois de ligar ao primeiro parvalhão, pensei que era melhor telefonar também para o parvalhão do BMW.
Perguntei-lhe: "É o senhor que tem um BMW preto à venda?"
"Sim", disse ele.
"E onde é que o posso ver?", perguntei.
"Pode vir vê-lo a minha casa, aqui na Rua das Descobertas, Nº 36. É uma casa amarela e o carro está estacionado mesmo à frente."
"E o senhor chama-se?..." perguntei.
"O meu nome é Alberto Palma", disse ele.
"E a que horas está disponível para mostrar o carro?"
"Estou em casa todos os dias depois das cinco."
"Ouça, Alberto, posso dizer-lhe uma coisa?"
"Diga!"
"És um grande parvalhão!", e desliguei o telefone. Agora, sempre que tinha um problema, tinha dois "parvalhões" a quem telefonar.

Tive, então, uma ideia. Telefonei ao parvalhão Nº 1.
"Está?"
"És um parvalhão!" (mas não desliguei)
"Ainda estás aí?" perguntou ele.
"Sim", disse-lhe.
"Deixa de me telefonar!" gritou.
"Impede-me", disse eu.
"Quem és tu?" perguntou.
"Chamo-me Alberto Palma", respondi.
"Ah sim? E onde é que moras?"
"Moro na Rua da Descobertas, Nº 36, tenho o meu BM preto mesmo em frente, meu parvalhão. Porquê?
"Vou já aí, Alberto. É melhor começares a rezar", disse ele.
"Estou mesmo cheio de medo de ti, ó parvalhão!" e desliguei.

A seguir, liguei ao parvalhão Nº 2.
"Está?"
"Olá, parvalhão!", disse eu.
Ele gritou-me: "Se descubro quem tu és..."
"Fazes o quê?" perguntei-lhe.
"Parto-te a tromba!" disse ele.
E eu disse-lhe: "Olha, parvalhão, vais ter essa oportunidade. Vou agora aí a tua casa, e já vais ver."

Desliguei e telefonei à Polícia, dizendo que morava na Rua da Descobertas, Nº 36 e que ia agora para casa matar o meu namorado gay.
Depois liguei para as cadeias de TV e falei-lhes sobre a guerra de gangs que se estava a desenrolar nesse momento na Rua da Descobertas.
Peguei no meu carro e fui para a Rua da Descobertas. Cheguei a tempo de ver dois parvalhões a matarem-se à pancada em frente de seis viaturas da polícia e uma série de repórteres de TV.

Já me sinto muito melhor.
Gerir a raiva sempre funciona.”

(recebido por e-mail)

8 Comentários:

Às 13 setembro, 2006 23:59 , Anonymous Anónimo disse...

ok mo minimo ja deu pra rir:)
vou pensar em arranjar um parvalhao a kem telefonar e despejar a frustração do dia a dia...

 
Às 14 setembro, 2006 00:06 , Blogger Peter disse...

Fazes bem. Eu não conhecia o texto, acabei de o receber e achei ser um bom modo de acabar com as minhas frustrações. Daí o tê-lo publicado de imediato.

 
Às 14 setembro, 2006 10:29 , Blogger Amita disse...

Bom dia Peter & Cª.
"Gerir a raiva..." lol Depois de lr este texto, certamente o dia 13 será mais leve...
Vou passear um pouco por aqui enquanto as obrigações do dia não me chamam. :)
Bjinhos

 
Às 14 setembro, 2006 14:54 , Blogger Peter disse...

Sê bem-vinda. Já tínhamos um abaixo-assinado a protestar contra a música e o fundo.

"Ça marche bien?"

 
Às 14 setembro, 2006 17:17 , Blogger Ant disse...

Bem, a blue regressou e vamos mudar o som. Digo eu...
Peter estive a ler o teu texto de 18 de Janeiro e parece-me pertinente, claro.
E de certo modo cabe no espírito do Fado...
Sim, é verdade que a vida existe para lá da net.
Se assim não fosse era lixado, claro.
Mas existe a tendência para nos sentarmos ao pc e blogar, blogar.
É um texto que deverias repôr.
Porque é directo e intemporal. Aliás, este é um momento em que muita gente das que conhecemos daqui anda a repensar fechar blogues.
Faz sentido. Para muita gente o blogue preenche vazios que felizmente acabam por ser preenchidos de forma mais agradável.
Ficam os que ainda não passaram a essa fase ou que entendem estar a escrever coisas com interesse, o que é sempre relativo, claro.

Siga a discussão

 
Às 14 setembro, 2006 19:47 , Blogger Peter disse...

ANT, tens toda a razão:

"este é um momento em que muita gente, das que conhecemos daqui, anda a repensar fechar blogues"

Não és o primeiro a dizê-lo. Já várias pessoas mo disseram. Aqui nos blogs parece haver um certo desencanto.

Aguardemos.

 
Às 14 setembro, 2006 20:23 , Blogger Manuel Veiga disse...

mente "perversa" e divertida...

abraços

 
Às 15 setembro, 2006 09:54 , Blogger Maria Carvalho disse...

Realmente este post está magnífico!! Uma bela ideia!! Beijos.

 

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial