Afectos apressados
Eduardo Prado Coelho escreveu, já há tempos, na sua tira no Público, um artigo interessante e pertinente, reflexo dos dias apressados e desesperados (?) que vão passando a correr.
“Apressados mas felizes”, o título, deixa descortinar uma ironia amarga sobre a sexualidade dos portugueses. Diz ele que “a triste verdade é que nós, portugueses, temos uma sexualidade apressada e pouco atenta ao outro. Parece que um mínimo de continuidade afectiva nos está vedado”.
“One night stand”, conceito interessante nos relacionamentos, está a vulgarizar e a definir uma nova maneira de encarar os (des)investimentos nos afectos, conferindo-lhes uma leveza pseudo, ou não...
Falsos moralismos? Nem por isso.
O vazio criado pelas sucessivas aventuras sexuais, sem outra consequência que não seja o acto em si mesmo, é uma opção tão respeitável como a monogamia e o para sempre (enquanto durar). Aliás o negócio do fast sexo aumenta a olhos vistos, sinal de que poucos estão na disposição de perder tempo em seduções demoradas e de consequências imprevisíveis.
O que está implícito é que a entrega afectiva se perde nestes encontros “às cegas em demanda do melhor orgasmo” nos quais a cumplicidade se esvai depois de vestidas as calças.
A sexualidade não esgota, antes alimenta o afecto, confere-lhe um poder cúmplice e construtivo.
É interessante reflectir que a sexualidade pode “começar muito antes do arranque para um orgasmo e a obsessão do orgasmo pode acabar com o prazer da duração nestas coisas.”
15 Comentários:
"“Apressados mas felizes”, o título, deixa descortinar uma ironia amarga sobre a sexualidade dos portugueses. Diz ele que “a triste verdade é que nós, portugueses, temos uma sexualidade apressada e pouco atenta ao outro. Parece que um mínimo de continuidade afectiva nos está vedado”.
“One night stand”, conceito interessante nos relacionamentos, está a vulgarizar e a definir uma nova maneira de encarar os (des)investimentos nos afectos, conferindo-lhes uma leveza pseudo, ou não...
Falsos moralismos?"
.......................MUITO INTERESSANTE! "Poucas", mas muito interessantes *LINHAS*, aflorando aqui, um TEMA que nos obriga a reflectir!_Pertinente POSTAGEM!
_Fica um abraco!
Heloisa.
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Texto muito interessante de reflexão. De um Mundo em que o tempo corre cada vez mais velozmente embora o dia mantenha as suas 24h. Fast sexo para não investir no que dá verdaeiro sabor à vida, o afecto, a afinidade, a cumplicidade da arte de amar. Muito interessante. Beijos
Óptimo texto e susceptível de comentários interessantes. "A ver vamos", como dizia o ceguinho.
O Augusto tem no seu blog um artigo extremamente interessante e que até certo ponto se refere ao mundo em que vivemos, ou em que alguns vivem. É dele a seguinte frase:
"Não é um bucolismo provocado pela idade, mas a constatação de que todos os valores em que eu acredito, estão postos em causa."
António, ainda cá voltei para citar o artigo do Augusto:
"Que sociedade é esta com a qual não me identifico, boa ou má, nada me diz, abomino, onde só me apetece gritar, gritar ao vento todo o meu descontentamento."
Abraço
Peter, amigo, ninguém quer falar muiot sobre estas coisas. Andamos todos muito ocupados. Mas para mim basta que leiam e que gostem ou detestem mas meiam.
Um dia destes vão ficar como aquele meu amigo que nesta correria incessante, se perde na falta de afectos gratos e completos.
Não tendo este comentário qualquer juízo de valor. E nada contra as one night stand, nem nada disso. Mas... há mais água para saborear do que aquela que o copo traz.
Na verdade, na minha opinião, é uma pena que o namoro se tenha perdido com a 'pressa' de chegar, não sei onde!! Beijos.
mais que a quantidade,importa a qualidade! enfim... cada um é que sabe!
Com 57 anos e uma sexualidade em fase de declínio, constato que para mim é cada vez mais importante fazer amor do que ter sexo "tout court".
Será por isso que os homens mais velhos são os preferidos de muitas (ou algumas, não sei) mulheres?
Enfim...aproveitei para fazer um pouco de propaganda!
ah ah ah
Talvez esteja enganada, mas penso que neste tipo de relacionamentos, não existe afectos interiorizados, são toques de momento, assim é natural esse tipo de relação
beijos
gostei de ler.te. coerente.
jocas maradas
"fast Sex" não conhecia o termo mas não acredito numa relação séria e duradoura baseada em fast...
Concordo contigo, Ant (o teu comentário).
Por vezes, não se sabe saborear as sensações, desfrutá-las por completo...
Beijos e abraços
Marta
Não seremos só nós a ter uma sexualidade apressada e sobretudo banalizada. Sempre ouvi a aspiração portuguesa ao “amor livre” que há muito se pratica noutros países. A frieza sentimental de certos países onde ocorre a prática do “amor livre”, não se quadra com a nossa maneira de ser, o sentimento, acabando a experiência do “amor livre”, ser um fracasso por dissociar a relação em duas, ficando cada interveniente mais preocupado consigo mesmo, do que com a afectividade, e essa sim o verdadeiro motor da sexualidade.
O vazio, como diz e muito bem, torna-se no motor da procura da satisfação, acabando o acto sexual por ser uma banalidade do nosso quotidiano.
Penso que este paradigma será passageiro, como qualquer outra novidade tende aos excessos, que com o tempo regredirá. São os meus votos
Um abraço. Augusto
augustoM... Não me parece. É um fenómeno que vai aumentando. A questão é que cada vez mais gente se sente dividida entre estas "relações" e o desejo de partilhar a vida com alguém.
...
A lucidez de Eduardo Prado Coelho aliada a uma escrita fluida, e nada 'fast', numa temática que reflecte o 'modus vivendi' actual.
Sabes, Ant, preocupa-me a velocidade com que não se desfruta 'o caminho', a pressa de chegar, numa insaciável busca... afinal... de si mesmo, dos afectos perdidos, na vertigem de tudo querer e nada perdurar.
Ontem, aqui em casa, ao rever as fotos que tirámos numa curta viagem, o meu filho (de 14 anos) passava de uma a outra com tal velocidade que me levou a recostar na cadeira e a olhar para ele.
Sorriu. 'Desculpa, mãe...'... e eu devolvi-lhe o sorriso... e conversámos bastante sobre esta forma de não ser e de não estar que é o 'fast'.
Não se passeia a correr... e essa aprendizagem ele fê-la agora, também, pelos caminhos que percorremos, quando ao pisar 'solo sagrado' (leia-se... História viva... ele inicialmente não sentia nem cores, nem odores, nem o prazer de deambular por cidades desconhecidas... ele 'corria'... e eu parava. E ele olhava-me, sorria e percebia. E dizia baixinho 'Obrigado'. E eu sorria.
...
Não se ensina o prazer de viver... mas mostra-se o prazer que se tem em vi(ver) de certa maneira, com um ritmo ao sabor do que nos pede cada sentido. Só assim faz sentido mesmo!
...
Seja na sexualidade, no deambular, na leitura, na música, no degustar a vida... o tempo do prazer com tempo não se pode perder, ou corre-se o risco de nos perdermos de nós mesmos. E do outro. Que nem vemos.
...
Abraço de vento
Ni*
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