terça-feira, dezembro 20

Mais rápido que a luz

Este livro é diferente dos habituais livros de divulgação científica, que seguem um determinado rumo essencialmente explicativo. O autor, natural de Évora, imprime-lhe um cunho de diário pessoal, onde a sua vida íntima, mesmo a de carácter sentimental, vai desenvolvendo-se simultaneamente com o trabalho científico. Assim, podemos considerá-lo dividido em duas partes:

A I parte – A história de “c”.

É a parte científica, em que o autor fala da relatividade, da velocidade da luz (“c”), do big bang e da forma como o americano Alan Guth procurou, através da Teoria Inflacionária, resolver os enigmas postos por esta teoria.

A II parte – Anos - luz

Aqui o João Magueijo tem a ideia de que “se conseguisse demonstrar que no universo primordial a luz se tivesse propagado mais depressa do que o faz hoje, talvez conseguisse resolver alguns dos enigmas” do big bang.

E é também a parte pessoal:
- a luta contra o “statu quo” e os “monstros sagrados”, o ambiente universitário em Inglaterra, a necessidade de encontrar alguém que colabore com ele numa ideia “maluca”em que, por vezes, tem de escrever 50 páginas de fórmulas matemáticas para resolver um aspecto do problema, a colaboração de físicos experimentais capazes de verificarem as suas previsões;
- a batalha Gutenberg (a luta para conseguir a publicação do artigo numa das revistas científicas);
- o seu dia-a-dia como pessoa.

Um seu colaborador, John Barrow ( “O mundo dentro do mundo”, nº 99 da Gradiva, col. Ciência Aberta ), fez certa vez notar que qualquer ideia nova atravessa três etapas aos olhos da comunidade científica:

"Etapa 1: é uma grande merda, não queremos sequer ouvir falar nela.
Etapa 2: não está errada, mas não tem certamente qualquer relevância.
Etapa 3: é a maior descoberta de todos os tempos e nós chegámos lá primeiro.”

E se a VSL (Variable Speed of Light) estiver errada?

Aí o Magueijo diz:

“Diverte-me que alguns dos meus colegas – justiça seja feita, uma minoria de entre eles – estejam desejosos de ver a VSL ir por água abaixo. São pessoas que nunca tiveram tomates para tentar algo verdadeiramente novo. É triste que alguns cientistas nunca se afastem do que já é conhecido, quer em “teoria das cordas”, quer em “cosmologia inflacionária”, quer na “teoria e prática da radiação cósmica”. É óbvio que uma ideia tão doida como a VSL lhes ofende o amor-próprio: “têm” de a ver falhar para sentir o ego composto. Mas não me parece que entendam. Se a VSL falhar, tentarei outra ideia ainda mais radical:

A ciência só vale a pena na medida em que nos é permitido perder-nos na selva do desconhecido.”

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