domingo, julho 3

Criptografia

Apenas esta terrível solidão a povoar um quotidiano mais do que anacrónico.

O esvaziar de tudo reforçado por um silêncio de morte. Tão profunda é a ausência de sons que dói.

Lá fora, as nuvens que encobrem sóis, azuis e tonalidades adormecidas.
A sensação desagradável do nada, a fantasmagoria de desapegos, como se a vida tivesse terminado algures num tempo sem tempo.

[A inexistência de um eixo concêntrico que segure a cabeça e o rodar constante desta em torno de nada] e ainda a imperceptibilidade da cabeça suspensa, desgarrada de um corpo morto, perdido nos espaços siderais, em busca não sabe de quê.

[Da morte que se avizinha?]

A incompreensão do fenómeno aterrador da separação de corpos em dois, a inexistência do tal eixo que deveria assegurar continuidade a um corpo colado a uma cabeça, a imponderabilidade da importância da ausência do eixo, a incompreensão de tudo, como se de quadros negros mergulhados na escuridão total se tratasse, a desfocagem assimétrica da figura que se espelha num vidro fosco, - que admito quebrar – os cabelos semi-longos esvoaçando incompreensivelmente, olhando parte de um todo que não consegue elevar-se do chão, a intangibilidade de ter.

A axonometria como resultado final de tortuosos caminhos matemáticos traçados a régua T, esquadros e papel quadriculado e tudo isto resultar num conseguido anagrama incompreensível.

[O divagar sobre a criptografia tentando desvendar ensinamentos de Sião] pensamentos adequados a estudos criptográficos que poderão explicar a ausência do semi-eixo concêntrico que deveria suportar cabeça e ideias.

Ao longe, o toque a finados.

Ainda mais ao longe a holografia da musa inspiradora. Agora apenas holografia.

11 Comentários:

Às 03 julho, 2005 15:01 , Blogger Amita disse...

Holografias são a projecção do poeta que receia em negras letras ver o azul mesmo cobalto em colorações emitido. São a sustentação do eixo que girando não se queda em ténues letras que nem distâncias esbatem. São letras apenas de um fugaz momento percorrendo teclas como peles do sustento da vida no éter criptográfico. Excelente texto e sorry pelo comentário longo. Bjos,o meu sorriso e um excelente dia para ti.

 
Às 03 julho, 2005 16:10 , Anonymous Anónimo disse...

muito bom, ué ... beijinhos zé
gi

 
Às 03 julho, 2005 16:35 , Blogger mfc disse...

Nunca ninguém conviveu serenamente com a ideia de morte.
É esse o fundamento de qualquer religião... em que não acredito!

 
Às 03 julho, 2005 17:58 , Blogger Peter disse...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 
Às 03 julho, 2005 19:49 , Anonymous Anónimo disse...

venho apenas deixar um beijo.

rose

 
Às 03 julho, 2005 23:26 , Anonymous Anónimo disse...

'Apenas esta terrível solidão'JÁ SENTI SOLIDÃO IMENSA, RODEADO 'por um silêncio IMENSO. 'Tão profunda é a ausência de sons que dói'.ERA TANTA A DOR, COMO HOJE É A SAUDADE.

TUDO, TODAS AS 'tonalidades adormecidas'

[Da morte que se avizinha?]A MORTE AVIZINHA - SE SEMPRE. MESMO QUE 'Ao longe ' MAS O QUE ESTÁ CERTO,CERTO ESTÁ.O MELHOR É MESMO MUDAR DE XAXA.XAXA ONDE HÁ DÚVIDA, ESPERANÇA, CAMINHO A PERCORRER OU SOLIDÃO A VIVER.

 
Às 04 julho, 2005 00:33 , Anonymous Anónimo disse...

Simplesmente magnífico. Um bj.

 
Às 04 julho, 2005 00:49 , Blogger Peter disse...

Zé, apaguei o comentário anterior. Devido a ter a especialidade de "criptógrafo", quando fiz a tropa, custa-me a entender o título: "criptografia", que deste ao texto, alíás belíssimo. Estes versos também são para mim pouco compreensíveis:
"[O divagar sobre a criptografia tentando desvendar ensinamentos de Sião] pensamentos adequados a estudos criptográficos que poderão explicar a ausência do semi-eixo concêntrico que deveria suportar cabeça e ideias."

 
Às 04 julho, 2005 11:23 , Blogger Ana disse...

Não sei comentar. Sei apenas que gosto de te ler, que embora digas o contrário as palavras traduzem muito do que sentimos, e hoje te senti triste... (só?). Deve ser apenas reflexo do que eu sinto, espero.
Um beijo.

 
Às 04 julho, 2005 16:21 , Blogger blimunda disse...

O esvaziar de tudo reforçado por um silêncio de morte. Tão profunda é a ausência de sons que dói.

sim. como eu te entendo. infelizmente, porque para o dia nunca, mesmo que sempre o digamos estar, nunca estamos. e depois até lá, há ainda aquelas memórias que nos assolam e desaguam no rosto.por vezes em lágrimas.por vezes. a solidão é a maior doença de que podemos padecer.

 
Às 04 julho, 2005 16:22 , Blogger blimunda disse...

nunca estamos preparados, desculpa faltou-me

 

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