domingo, julho 3

A glória de um corpo

“Eram ardentes grãos num mundo dilatado
e as copas balouçavam numa vagarosa calma.
O deus da noite absorvera os gritos e os apelos
e só se ouvia o marejar de uma matéria vaga.
E era já um canto, o sonho violento que desperta
entre troncos de árvores, entre estrelas
e entre as figuras de pedra de um jardim.

Será que tudo se liga, o deserto e o oásis,
a mão da terra e o rio que brilha,
os projectos que formamos e a ondulada calma?
Ele abraça o sono de uma deusa que é ausência
ardente e verde nos seus flancos de terra,
mas noutra vertente a água é penetrada
pela luz que ascende por escadas cristalinas.
Os instrumentos nupciais nas mãos mediadoras
são cachos de pedras e guitarras de argila.
Sob uma vaga imóvel todos os ramos do sangue
se acendem no ovo verde da folhagem.”

(António Ramos Rosa, “Acordes”)

Nota:
Este poema de ARRosa é-me particularmente caro, na medida em que foca um dos aspectos do Universo, sob o qual me interroguei e me interrogo, e no qual acredito firmemente:

SERÁ QUE TUDO SE LIGA?

8 Comentários:

Às 03 julho, 2005 15:14 , Blogger Amita disse...

Olá Peter. Bom dia. Este é mais que um poema, é um infinito interiorizado. Não estou ausente, encontro-me, simplesmente, com muito trabalho. Obrigado pela partilha, a escrita de ARR encanta-me e voo nas suas letras. Bjos, o meu sorriso e excelente Domingo.

 
Às 03 julho, 2005 16:37 , Blogger mfc disse...

Apenas se liga o que queremos ver ligado.
É a velha história das coincidências com significado... mas nada mais do que serem coincidentes!

 
Às 03 julho, 2005 18:07 , Blogger Peter disse...

mfc, não concordo contigo. Levando a minha afirmação para o campo da Física, como foi minha intenção, e tendo em atenção o conhecido "Princípio da incerteza" (assim chamado, pois a designação é discutível) de Heisemberg.

 
Às 03 julho, 2005 18:18 , Blogger Peter disse...

Zé, tudo faz parte do Todo e este é infinito e em continua criação e expansão. Eu não posso observar simultaneamente uma partícula e o seu comportamento, porque o meio ambiente (mesmo que seja o vácuo, que não existe na sua forma absoluta) os instrumentos de que me sirvo e a minha própria mente, actuam, ou melhor, interagem uns com os outros e com a referida partícula.

 
Às 03 julho, 2005 18:19 , Blogger Peter disse...

amita, tens andado a "baldar-te" ...

 
Às 03 julho, 2005 22:31 , Anonymous Anónimo disse...

Sem tempo para mais que um beijo*

P.S.: Gostei de que em tudo o que escrevi gostasses da foto. LOL
O blog não tem som. Aquela era apenas a música que gostaria de ter a acompanhar aquele texto.

 
Às 03 julho, 2005 23:51 , Blogger Peter disse...

Ângela, como diria o ARRosa:
“ a claridade (da mulher/deusa) apaga a claridade (do dia)”

 
Às 04 julho, 2005 00:41 , Anonymous Anónimo disse...

Com uma citação dessas selas-me lábios :|

 

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