sábado, junho 25

Dois casos a ponderar


“Agora que a continuidade da participação na Zona Euro de países economicamente débeis como Portugal e a Grécia parece estar posta em causa, convém recordar duas experiências de união monetária
(ou quase) que podem ilustrar as consequências da permanência ou da saída do euro.
Em 1989, caiu o muro de Berlim. Logo em 1990, a Alemanha se reunificou politicamente e monetariamente: ou seja, por decisão do governo alemão, o marco da República Democrática passou a valer o mesmo que o marco da República Federal. Desta forma, tal como Portugal com o euro, a Alemanha Democrática entrou para uma união monetária com um câmbio demasiado alto e sem uma estrutura produtiva que aguentasse uma moeda forte. O resultado é que passados vinte anos de massivas transferências de dinheiro para o Leste, quer por parte do governo federal quer por parte da União Europeia, os estados do leste alemão continuam pobres e com taxas de desemprego de dois dígitos.
O segundo exemplo é a Argentina. A Argentina ligou a sua moeda ao dólar nos anos noventa. O resultado foi que perdeu competitividade e, assim, acumulou dívida externa que a fez entrar em bancarrota. Isto - note-se - apesar de ter um orçamento quase equilibrado. Quando, a partir de 2002, se libertou dessa quase união monetária com o dólar, e depois de uma quebra grande em 2003, a Argentina tem tido uma taxa de crescimento média anual do PIB de 7,5% e já fez descer o desemprego para baixo dos 8% da população activa, quando em 2003 tinha mais de 20% de desempregados. Foi um processo muito penoso a saída da ligação ao dólar - os argentinos deixaram apodrecer demasiado a situação - mas valeu a pena. A Argentina não está hoje isenta de problemas (o principal dos quais é a inflação) mas tem um futuro à sua frente, coisa que não tinha antes da bancarrota.
Penso que quem olhar com cuidado para estes dois exemplos, aceitará com naturalidade que a saída de Portugal da Zona Euro é uma opção que deve ser encarada de forma séria e sem dogmatismos nem preconceitos.”

(João Ferreira do Amaral – economista, in “página1” de 23JUN2011)

5 Comentários:

Às 25 junho, 2011 09:19 , Blogger Fernando Vasconcelos disse...

Os estados do leste da Alemanha estão pobres? Tenho grandes dúvidas quanto a esta realidade. A Argentina é um bom exemplo mas ... não se esqueçam que mais do que o fim da paridade o que resolveu o problema não foi isso ... Á Argentina perdoaram uma parte da divida ... e que a paridade tinha sido se não estou em erro o anterior remédio do FMI ... Vejam por exemplo http://bookstore.piie.com/book-store//357.html . Percebem portanto que a minha confiança relativamente às opiniões de economistas não seja propriamente cega. Por outras palavras mais do que a moeda há usuários que estão a efectuar uma apropriação indevida de riqueza manipulando o mercado e criando eles próprios as condições de instabilidade que justificam os seus ganhos absurdos. Esta é a realidade que tem de ser dita com todas as letras e enquanto o Banco Central Europeu for refém dos interesses desses mesmo especuladores não há remédio. Sair do euro seria um erro porque mais uma vez nos poria a pensar num mercado interno quando o nosso futuro está na mudança de mentalidade e na integração do mercado Europeu nas nossas cabeças. Só isso será futuro.

 
Às 25 junho, 2011 16:30 , Blogger Peter disse...

Não sou economista, bem longe disso, por isso não comento. Sou um cidadão preocupado com o futuro e que não vê "luz ao fundo do túnel".
Concordo qd escreve:
"Sair do euro seria um erro porque mais uma vez nos poria a pensar num mercado interno quando o nosso futuro está na mudança de mentalidade e na integração do mercado Europeu nas nossas cabeças."

 
Às 25 junho, 2011 16:43 , Blogger Fernando Vasconcelos disse...

Bem Peter eu também não sou economista mas isso não me impede de ter sentido critico sobre o que alguns economistas dizem ... Quanto à luz um outro economista disse que ela depende essencialmente de nós ...

 
Às 25 junho, 2011 20:47 , Blogger Peter disse...

FV
Li por aí algures que os estados do leste da Alemanha estão pobres. É um facto que a integração tem sido paga pela UE. Depois de ter perdido duas guerras pelo domínio europeu, a Alemanha pretende dominar a Europa economicamente.

A propósito da Finlândia a quem os suecos se referem como "os nossos vizinhos esquisitos", os finlandeses estão a esquecer-se da ajuda que Portugal lhes deu em alimentos e agasalhos, durante a guerra russo/finlandesa do Invero de 1940/41 e que levou o representante daquele país em Lisboa a afirmar:
"Nunca poderá o povo finlandês esquecer-se da nobreza de tal atitude".
Afinal esqueceram-se e os suecos é que têm razão...

 
Às 25 junho, 2011 21:48 , Blogger Peter disse...

Blue

O que me parece que irá acontecer é a entrada significativa do poder económico "estrangeiro" (privatizações) sem que tal resulte em aumento significativo do nosso nível de vida. Aliás ninguém se importa, só os que sofrem na própria carne a fome, o desemprego e a insegurança.

 

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