domingo, novembro 9

Professores prometem "luta o ano todo" e admitem antecipar greve nacional


A Plataforma Sindical de Professores advertiu no final da manifestação de hoje em Lisboa que, caso o Ministério da Educação não recue em questões como a avaliação do desempenho, os docentes prometem "luta o ano todo" e admitem antecipar a greve nacional convocada esta tarde para 19 Janeiro.
"Ou o Ministério da Educação suspende a avaliação de desempenho, avança para a negociação, encontramos um outro modelo e o ano lectivo prossegue normalmente, ou o ministério assume que vai ter luta o ano todo. Se querem guerra, guerra terão", declarou o porta-voz da Plataforma e secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, no final da manifestação que reuniu pelo menos 120 mil docentes, segundo números dos sindicatos.
Além da greve nacional, na manifestação ficou ainda decidido que vão realizar-se outros protestos no actual ano lectivo, caso o processo de avaliação de desempenho não seja suspenso. "Neste momento, não há espaço para meios-termos e não há entendimento possível. Da nossa parte, não há nenhuma abertura para nada que não seja a suspensão imediata", sublinhou o porta-voz da plataforma sindical, acusando a ministra de sofrer de "analfabetismo político", por não ter "capacidade democrática para interpretar o significado das manifestações".
Considerando "inadmissível" que a ministra da Educação tenha hoje recusado suspender a aplicação do modelo de avaliação, o secretário-geral da Fenprof apelou ainda aos docentes para serem eles a fazê-lo, na prática, parando nas escolas todos os procedimentos relacionados com este processo.
Segundo a organização, o protesto de hoje, convocado por todos os sindicatos do sector, reuniu pelo menos 120 mil professores, superando a manifestação de Março, até agora a maior alguma vez realizada em Portugal por uma única classe profissional.
A PSP recusou adiantar números de adesão ao protesto. Calvo André, responsável pelo policiamento da marcha, escusou-se a avançar com qualquer número, dando duas explicações. “É impossível calcular dada a dimensão da manifestação”, começou por dizer. Mas acrescentou: “Tenho indicações para não adiantar números”.
Questionado sobre o autor dessas indicações, acabou por afirmar que tinha sido o próprio a decidi-lo. Calvo André não quis igualmente fazer qualquer comparação com o protesto de professores de 8 Março. Nesse dia, a polícia calculou em 100 mil o número de manifestantes.”

(08.11.2008 - 20h39 Lusa, PÚBLICO)


Por muito menos, o anterior ministro da Saúde, Correia de Campos, foi obrigado a abandonar o cargo, forçado a isso pelas manifestações diárias dos utentes dos Centros de Saúde que iam sendo fechados.
Chegará a altura em que o 1º ministro Sócrates se verá confrontado entre manter a ministra da Educação, Maria de Lourdes Rodrigues, o que o fará perder a maioria nas eleições de 2009, ou forçar a ministra a demitir-se.

Cá estaremos para ver…

14 Comentários:

Às 09 novembro, 2008 02:06 , Blogger Peter disse...

"Nos próximos dias, a pedido do Bloco de Esquerda, a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, irá ao Parlamento explicar o que se passa com o processo de avaliação.
Em declarações aos jornalistas, esta tarde no Porto, a ministra reafirmou a intenção de prosseguir com o actual sistema de avaliação dos docentes. "Desistir não é uma solução, para isso não tenho disponibilidade", disse Maria de Lurdes Rodrigues acrescentando: "O que me preocupa é que o processo de avaliação continue a concretizar-se para garantirmos ao país a qualidade de ensino que nos permita distinguir e premiar aqueles que são os melhores professores".

(in EXPRESSO)

 
Às 09 novembro, 2008 12:35 , Anonymous Anónimo disse...

Este modelo de avaliação não vai de todo premiar seja o que for, vai é complicar a capacidade e a qualidade de desempenho dos docentes.

Exige a avaliação que se construam documentos em que seja possível apurar e medir as evidências de excelência dos professores, o tempo para a elaboração dos mesmos terá de ser retirado ao tempo de preparação da intervenção efectiva com os alunos.

A organização do processo de avaliação centrada no portefólio, implica optarmos, ou construimos um conjunto significativo de evidências da nossa excelência (que até pode ser fictício) ou trabalhamos com e para os alunos.

A senhora ministra quer fazer passar, à força, para a opinião pública, a ideia de que os professores apenas têm de preencher uma folha de objectivos individuais e uma grelha de auto-avaliação, é mentira.

Todas as actividades realizadas com e para os alunos, directa ou indirectamente são, desde sempre, planificadas, implementadas, observadas, avaliadas, reflectidas, registadas e reformuladas.

Com este modelo de avaliação vai ser necessário recolher dados sobre todas as fases,analisá-los, interpretá-los e trabalhá-los de forma a reunir (no protefólio) as tais evidências que poderão, ou não, conduzir a uma excelência, que me parece já estar atribuída.

Neste processo eu estou à partida impossibilitada de cumprir com profissionalismo seja que função for das que me foram atribuídas. É um facto, uma equação matemática, não tenho tempo.

Uma vez que me recuso, como a maioria dos professores, a prejudicar os alunos, não sei mesmo como vou conseguir cumprir todas as fases do trabalho com os alunos, construir o meu portfólio e, avaliar 9 colegas, tarefa que me foi atribuída apesar de eu afirmar não a poder de todo cumprir.

De sublinhar o facto de que sendo docente de Educação Especial dos 9 colegas que tenho de avaliar 3 são de Educação Especial, 2 de Educação Física e 4 de EVT.

Encontro muita satisfação no facto de procurar cumprir a minha actividade profissional com rigor e quando tenho dúvidas vou às Universidades pedir ajuda.
Tornou-se assim como um jogo. Se não sei como resolver determinado problema pelo menos sei onde procurar ajuda. Normalmente resulta.

Mas e agora?
Tenho vários problemas e não há Universidade que me possa ajudar porque não tenho tempo para pedir ajuda. Como é que vou avaliar colegas de áreas de formação científica diferentes da minha sem os prejudicar?
Como é que vou ter tempo para desempenhar um papel de avaliação rigoroso se o tempo que o Ministério da Educação me deu (dois tempos de 45 minutos semanais) me foi retirado da componente não lectiva, que já não me chegava para trabalhar com os alunos pelos quais sou efectivamente responsável.


Fico contente que aí por casa circulem professores.

Apesar de tudo ainda me sinto priveligiada por ser professora.

Este blogue ajuda-me a pensar e transmite-me alguma força, da força que se me vai esgotando devido aos absurdos deste país de faz de conta.

Camila Silva

 
Às 09 novembro, 2008 13:13 , Blogger vbm disse...

Mas, no estrangeiro, como é
que os professores
são avaliados!?

 
Às 09 novembro, 2008 14:04 , Anonymous Anónimo disse...

Não sei!

Só sei que se o objectivo é que a avaliação de professores seja formativa e justa, e possa concorrer para a melhoria do processo de ensino/aprendizagem dos alunos, então coloquem no terreno, a realizar a avaliação, equipas de pessoas creditadas que avaliem de forma efectiva os docentes, apontem fragilidades e indiquem propostas de solução. Se,
durante a avaliação detectarem professores excelentes e os quiserem premiar óptimo.

Nos moldes em que está e para que o processo pudesse ser minimamente justo, eu, enquanto avaliadora, teria de me sujeitar a uma prova de avaliação que validasse, ou não, a minha capacidade para avaliar colegas.

O facto de ter mais experiência profissional não pode justificar a capacidade para avaliar.
Posso ter muita experiência e a mesma não ser mais do que más práticas pedagógicas repetidas anos a fio.

Se querem que eu avalie tudo bem, testem as minhas capacidades para tal e criem garantias para que o possa fazer sem prejudicar os alunos.

E não falo sequer nas horas que roubo à minha família e a mim própria.


Camila Silva

 
Às 09 novembro, 2008 14:20 , Blogger Peter disse...

vbm

Os professores sempre foram avaliados ao longo da sua carreira e entendem necessária a avaliação do seu desempenho, assim como a sua formação contínua,que sempre privilegiaram, tendo em vista a melhoria da sua prática profissional e o
reflexo positivo nas aprendizagens/formação dos seus alunos.

P.S. - A minha mulher, a minha filha e o meu genro são profs.

 
Às 09 novembro, 2008 14:27 , Blogger Peter disse...

Camila

«Em França o sistema de avaliação não é recente», refere Gerard Figari, responsável pelo laboratório de ciências da educação da Universidade P. Mendès France, de Grenoble. A avaliação é feita externamente por inspectores, que têm funções diferentes dos inspectores portugueses. Cabe-lhes fazer uma avaliação pedagógica, em que avaliam individualmente os professores e visitam-nos nas suas aulas. Paralelamente, são avaliados pelos responsáveis do estabelecimento de ensino no âmbito de um plano administrativo e de organização do trabalho interno da escola.

Como Ministra da Educação, deveria ter adoptado AB INICIO uma atitude flexível.
Não o fez e agora não pode recuar.

JAMAIS! PS JAMAIS!

 
Às 09 novembro, 2008 14:40 , Blogger vbm disse...

De facto, não parece curial a avaliação ser feita pelos colegas!

Eu não sei bem, mas, não havia - e já não há? - as inspecções de ensino às escolas?

Pergunto, porquê a avaliação não é feita pela Direcção de cada Escola, digamos assessorada por um pequeno Conselho Consultivo, de mandato limitado e de carácter rotativo? As inspecções escolares não poderão zelar para que a qualidade da avaliação seja assegurada e os professores e a direcção sancionados em caso de favoritismo fraudulento?

Eu compreendo que, para lá da aferição de indicadores objectivos tem de haver uma política escolar específica - embora subordinada à directriz global do ministério -, e a meu ver, só a Direcção pode e deve liderá-la, e avaliar os professores em conformidade. Desvios autoritaristas e compadrio sectário competiria às Inspecções detectá-los e erradicá-los.

 
Às 09 novembro, 2008 14:44 , Blogger vbm disse...

Peter,

Olha, é isso, o modelo francês: - que as inpecções avaliem o desempenho pedagógico dos docentes. Mas, em todo o caso, inclino-me para preferir a responsabilidade da Direcção da Escola.

 
Às 09 novembro, 2008 14:45 , Blogger Manoel Carlos disse...

O descaso com a educação, aí e cá, compromete o futuro de nossos povos. Aqui temos um presidente que se orgulha de não ter estudado, os únicos cursos que ele fez com dedicação foram os dois na CIOLS, o que já é muito suspeito.

 
Às 09 novembro, 2008 15:03 , Blogger Peter disse...

Manoel Carlos

Agradeço a sua visita e espero esteja mais conformado.

É. O v/presidente orgulha-se de não ter estudado e por cá é mais ou menos o contrário.
Claro que não me refiro ao n/Presidente, que é Professor Universitário. E, vendo bem as coisas, não me refiro especificamente a ninguém.

 
Às 09 novembro, 2008 15:19 , Blogger Peter disse...

Onde se inspirou o governo português para conceber um modelo de avaliação tão burocrático? Em declarações ao órgão de propaganda do PS a ministra da educação afirma que se inspirou em modelos de avaliação existentes na Inglaterra, Espanha, Holanda e Suécia (Março de 2008). Os professores destes países negam tal afirmação. O modelo que maiores semelhanças tem com o português é o chileno, embora seja mesmo assim menos burocrático (os capitães do 25/4, não vou citar nomes, embora os possa citar, sempre se inspiraram nele).
Estamos pois perante o sistema de avaliação mais burocrático do mundo, e que fomenta o fim do trabalho cooperativo nas escolas. Não admira que ao aperceber-se da gravidade do problema, o próprio ME tenha vindo a apelar para que cada escola simplifique o sistema, criando desta forma uma disparidade de modelos e de critérios de avaliação no país.
Avaliação de Professores na Alemanha - Não existe qualquer categoria similar à de “professor titular”. Apenas existem quadros de escola, tal como existia em Portugal.

 
Às 09 novembro, 2008 18:14 , Blogger Peter disse...

"Seriamente ninguém pode ser contra a avaliação de desempenho como condição para a progressão profissional. Mas é intolerável que, dando sinais de crescente teimosia, tente impor um modelo que não funciona, está mal pensado e ainda pior concebido (...) quando esta ministra passar, pois não é eterna, quem mais terá perdido serão os que menos meios têm para compensar o que as escolas públicas, cercadas e desmotivadas, cada vez lhes dão menos. A isto chama-se promover a injustiça social."

(José Manuel Fernandes - Editorial do jornal PÚBLICO de hoje)

 
Às 09 novembro, 2008 23:57 , Blogger Meg disse...

Peter,
Uma pergunta inocente... no meio desta guerra entre profs e ministra, quem é que verdadeiramente dá aulas?
Sim, se os professores foram promovidos a burocratas...alguém terá de ensinar, ou não?

Um abraço

 
Às 10 novembro, 2008 00:31 , Blogger Peter disse...

Meg

A classe dos professores sempre foi mal-querida entre a população. Não vamos aqui dissecar o problema. Vamos é repor a verdade.
E essa verdade está ai mesmo por cima. Está no editorial do PÚBLICO de hoje.Ela responde à tua pergunta.

 

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