BAUDOLINO
Apeteceu-me reler esta obra de Umberto Eco, cuja acção decorre no Sec XII, durante o saque de Constantinopla pelos componentes da 3ª Cruzada ...
Em cada leitura duma obra encontramos sempre aspectos novos, que nos prendem a atenção. Foi o que aconteceu agora com estes dois pontos que achei interessantes:
O primeiro é um diálogo entre Baudolino e o seu companheiro e amigo, Borão:
“Baudolino interrompeu-o:
- Mas porque é que te interessa tanto demonstrar que o vácuo não existe? O que te importa a ti o vácuo?
- Importa, importa. Porque o vácuo pode ser ou intersticial, ou seja, entre corpo e corpo no nosso mundo sublunar, ou então extenso, para lá do universo que vemos, encerrado pela grande esfera dos corpos celestes. Se assim fosse, nesse vácuo poderiam existir outros mundos. Mas se se demonstrar que não existe o vácuo intersticial, com maior razão não poderá existir o extenso.
- Mas o que te importa a ti se existem outros mundos ou não?
- Importa, importa. Porque se existissem, Nosso Senhor deveria ter-se sacrificado em cada um deles e em cada um consagrar o pão e o vinho. E por isso o objecto supremo,* que é testemunho e vestígio daquele milagre, não seria único, mas antes existiriam muitas cópias dele. E que valor teria a minha vida se não soubesse que em qualquer sítio há um objecto supremo a achar?”
O 2º ponto ?
Ora bem, este 2º ponto do livro respeita ao conceito do “outro”.
Como sabem, para os antigos gregos, “estrangeiro” era o habitante de outra cidade, do mesmo modo que para os romanos, “bárbaro” era o não romano. Quando dos nossos contactos com outros povos e civilizações, estes eram os “selvagens”, que havia que “civilizar”, isto é: integrar na “civilização cristã ocidental”.
“- Amigos – disse Baudolino dirigindo-se aos seus companheiros. – Parece-me evidente que as várias raças existentes nesta Província não dão importância às diferenças do corpo, à cor, à forma, como fazemos nós que até ao vermos um anão o julgamos um erro da natureza. E afinal, como fazem de resto muitos dos nossos sábios, dão muita importância às diferenças das ideias sobre a natureza de Cristo, ou sobre a Santíssima Trindade (...) É o seu modo de pensar. Tentemos compreendê-lo, senão perder-nos-emos sempre em discussões sem fim. Está bem, vamos fingir que os “blémios”** são como os “ciápodes”***, e o que pensam sobre a natureza de Nosso Senhor no fundo não nos diz respeito.”
* Santo Graal
** Não tinham cabeça.
*** Só tinham uma perna.
4 Comentários:
Este comentário foi removido pelo autor.
É por isso que gosto sempre de reler, alguns dos livros de que gosto... é a forma que tenho, de encontrar sempre algo que me passou despercebido na anterior leitura...
Obrigada Peter... pelo belo momento de leitura...
MAS QUE BELO "APETITE" QUE LHE DEU, *CARISSIMO PETER*!
.................
"E que valor teria a minha vida se não soubesse que em qualquer sítio há um objecto supremo a achar?”"
************************ORA, EIS AQUI "UM PONTO CRUCIAL"!...
..............................ADOREI!!!!!!
FICA MEU ABRACO!
Heloisa
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Resolvi fazer um "Aditamento" a este texto. Está em cima.
Obrigado pelas v/visitas.
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