sábado, fevereiro 3

Estrelas que iluminam o passado

Com o auxílio do telescópio espacial Hubble, uma equipa de astrónomos obteve uma imagem de uma das regiões de formação estelar localizada na Pequena Nuvem de Magalhães. Nesta região, designada por N90, foi descoberta uma população de estrelas muito jovens, o que permitiu à equipa examinar os processos de formação estelar num ambiente muito diferente daquele que encontramos na nossa galáxia.



A N90 encontra-se na periferia da Pequena Nuvem de Magalhães a aproximadamente 200 mil anos-luz da Terra. A relativa proximidade desta região torna-a um "laboratório" excepcional para a realização de estudos aprofundados dos processos de formação estelar.
As galáxias anãs, como a Pequena Nuvem de Magalhães, possuem um pequeno número de estrelas comparativamente à Via Láctea, e são consideradas os blocos primitivos de construção das galáxias de maior dimensão. O estudo da formação estelar observada na N90 é particularmente interessante para os astrónomos pois a natureza primitiva da galáxia onde esta região está inserida, implica a ausência de uma grande percentagem de elementos pesados que são gerados pela fusão nuclear de sucessivas gerações de estrelas. Estas condições fornecem aos astrónomos a possíbilidade de estudar a evolução estelar num ambiente semelhante ao do Universo primitivo.

A imagem obtida pelo Hubble mostra algumas estrelas recém formadas que estão a criar uma cavidade no centro da N90. A radiação altamente energética emitida pelas estrelas jovens e muito quentes, faz com que a poeira e gás das camadas interiores da nebulosa se dispersem.
Como a N90 se encontra a uma distância considerável do centro da sua galáxia anfitriã, é possível observar um grande número de galáxias como pano de fundo, o que "fornece" às estrelas recém nascidas uma "visão" espectacular. A presença de algumas poeiras na N90 faz com que as galáxias distantes observadas possuam um tom vermelho acastanhado.

O Hubble tem sido frequentemente utilizado com o intuito de observar regiões de formação estelar, mas raramente as regiões observadas são tão impressionantes e fascinantes como a N90. No coração desta região encontra-se um enxame estelar relativamente isolado cujo ambiente é aproximadamente análogo ao do Universo primitivo. A existência de nuvens densas e escuras de poeira e o facto de o enxame ser rico em gás ionizado sugere a existência de uma formação estelar activa.

Uma outra equipa internacional de astrónomos descobriu uma população de pequenas estrelas recém nascidas espalhadas ao longo da imagem obtida pelo Hubble. Algumas destas estrelas, localizadas no centro da imagem em torno das estrelas de tom azul esbranquiçado, captaram a atenção dos astrónomos devido ao facto de estas ainda estarem a formar-se por acção do colapso gravitacional das nuvens de gás. A contracção destas estrelas ainda não atingiu o ponto em que os seus núcleos estão quentes o suficiente para estas darem início à conversão do hidrogénio em hélio.

Na parte superior e inferior da imagem da N90, é possível observarem-se estruturas formadas por poeira em forma de colunas e filamentos gasosos. A orientação destas estruturas (chamadas por vezes de "pilares ou trombas de elefante"), aponta para o aglomerado de estrelas jovens e quentes de tom azul esbranquiçado no centro da N90 e revelam o poder de erosão destas estrelas.
Na imagem da N90 é possível traçar o percurso de formação estelar, começando pelo início da formação de estrelas no centro do enxame e a sua posterior propagação radial, estando as estrelas ainda em formação ao longo dos filamentos de poeira.




(ASTRONOVAS - Observatório Astronómico de Lisboa -
Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa)

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13 Comentários:

Às 04 fevereiro, 2007 01:59 , Blogger Peter disse...

"raramente as regiões observadas são tão impressionantes e fascinantes como a N90"

É pena não aparecer ninguém para ler um tão belo texto e ver tão belas fotos. É do melhor que tenho recebido do OAL.
Também não faz mal, delicio-me eu.

 
Às 04 fevereiro, 2007 14:59 , Blogger Nilson Barcelli disse...

Olha, eu apareci (finalmente...), li e gostei.
A imagem de cima é soberba.
Bom domingo.
Um abraço.

 
Às 04 fevereiro, 2007 15:17 , Blogger Papoila disse...

Peter:
Estou aqui a ler este belo texto e fiquei encantada com as belas fotos de um local a 200 mil anos luz, na nuvem de Magalhães. Fascinante!
Beijo

 
Às 04 fevereiro, 2007 21:43 , Blogger H. Sousa disse...

Calma, Peter. Vamos andando por várias capelas e por vezes alguma fica uns dias sem visitar. Foi o que me aconteceu e chego aqui agora, cerca de dois dias depois do post. Fantástico, impressionante. Fico a pensar em algo que me parece paradoxal, "ver ao longe é ver no passado". Mas sei que algo me escapa e não sei contudo dizer o que é.

 
Às 04 fevereiro, 2007 22:11 , Blogger António disse...

Caro Peter!
Desculpa mas hoje não vou ler este post.
Fica para quando estiver mentalmente mais disponível, ok?

Em relação à questão que me colocaste, neste momento o problema principal que eu tenho (e que não tinha logo a seguir ao upgrade) é o que está expresso no meu post "Socorro!", ou seja:
na página em que se escreve o texto de um determinado post (página Posting / Create) há o rectângulo onde se coloca o texto e, na parte superior direita deste, há duas escolhas:
1) Compose, que é aquela que se utiliza normalmente e que tem a possibilidade de controlar vários parâmetros como o tipo de letra, o seu tamanho, a sua cor, o bold, o itálico, fazer links, descarregar fotografias, etc.
2) Edit HTML, que nunca usei pois tem menos possibilidades de escolha.
O que me acontece neste momento, é que nessa página só tenho a 2ª alternativa, o que me limita muito as opções de escrita (tenho todo o o blog escrito em Arial e agora não posso usar esse tipo de letra).
Coloquei a questão ao Blogger Help Group e a resposta que obtive foi a que transcrevi para o post. Mas não a compreendo.
Esclarecido sobre o meu problema?
Os outros são menores comparados com este e também já os coloquei ao Blogger e insistirei as vezes que forem necessárias.
Tentei fazer um blog novo mas aparece com o mesmo problema que acima descrevi.

Um abraço

 
Às 04 fevereiro, 2007 22:49 , Blogger Peter disse...

António, não te sei responder porque me limito a escrever o texto cá fora e a fazer copy.
Seguidamente clico na pequena imagem à direita e escolho nos meus documentos aquela que quero publicar, depois de, no paint, a ter reduzido para 480X360 e coloco-a no espaço, onde faço paste ao texto.

 
Às 04 fevereiro, 2007 23:45 , Blogger Peter disse...

"bluegift"

Não, não escapou e é uma maravilhosa e fantástica verdade. Mas passei a adoptar a política de responder directamente no blogue (quem o tem) de quem comentou.

Como dizes, considerei o "texto fascinante e imagens sempre impressionantes", principalmente a primeira.

O assunto é tão belo: "o nascimemente de estrelas", que resolvi publicar o artigo todo.

 
Às 05 fevereiro, 2007 09:41 , Blogger Maria Carvalho disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
Às 05 fevereiro, 2007 14:16 , Blogger BlackRose disse...

Peter, Peter.. só tu para nos encantares com tao belissimas fotos.
ah, prometo que li o texto;)

Beijo
Lucia*

 
Às 05 fevereiro, 2007 15:42 , Blogger Peter disse...

Lúcia, dá a impressão de estarmos perante uma "maternidade estelar".
É a sensação que tenho perante a beleza da foto, que não é nada inferior à da do poema que postaste no teu blogue.

Beijo amigo*

 
Às 05 fevereiro, 2007 16:54 , Blogger Manuel Veiga disse...

um abraço. gostei muito de ler. e de aprender.

 
Às 05 fevereiro, 2007 17:22 , Blogger Fragmentos Betty Martins disse...

Olá Peter

Não é novidade nenhuma para ti , o quanto me encanta esta "matéria"

de facto o texto é apaixonante e as imagens que o acompanham, belíssimas

como adoro saber-aprender, quando leio os teus texos fico sempre com a sensação-certeza que fiquei mais enriquecida

por isso. Obrigada:))

Beijinhos
Bsemana

 
Às 06 fevereiro, 2007 23:39 , Blogger António disse...

Olá, Peter!
A primeira imagem da N90 é verdadeiramente fantástica!

Um abraço

 

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