sábado, dezembro 2

António Ramos Rosa


Venceu o Grande Prémio de Poesia APE/CTT de 2005, com "Génese", de que publico a seguir uma poesia.
António Ramos Rosa, de 82 anos e natural de Faro, é um dos maiores nomes da poesia portuguesa contemporânea.
O poeta fora recentemente distinguido com o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava e o Prémio PEN Clube de Poesia, ambos referentes também a 2005.
Distinguido com vários prémios nacionais e estrangeiros, recebeu o Prémio Pessoa em 1988.


QUANDO UMA MULHER SE DESPE

Quando uma mulher se despe numa clareira rodeada de arbustos
e sobre uma toalha se estende ao sol o seu desejo é ambíguo
porque não quer ser vista e ao mesmo tempo a sua pele estremece
sob um olhar ausente ou de alguém escondido entre a folhagem
Também a palavra se expõe e oculta no seu fulgor de lâmpada
alimentada pelo fogo obscuro que aspira à nudez solar
Ela inclina-se sobre a água para ver a sua imagem
com o olhar não dela mas de um outro que a move
para ser a presença pura no olhar de ninguém
e poderá ser um dia o de algum leitor que se deslumbra com a sua abstracta nudez

Sem esta duplicidade e sem este puro recato através do silêncio
ela não possuiria o frémito ideal da sua exposição
e seria opaca ou demasiado transparente sem os meandros cintilantes
que a tornam fugidia como um fio de mercúrio
e a sua nudez teria a consistência inerte
de uma pedra sem fogo e sem sal sem o focinho do desejo
Por isso o poema é uma mulher que se enrola na sua nudez
até ser tão redonda como redondo é o ser
com a sua língua bífida entre os lábios do seu sexo

(António Ramos Rosa, "Génese", Roma Editora, FEV 2005)

13 Comentários:

Às 02 dezembro, 2006 02:29 , Blogger Heloisa B.P disse...

GRANDE, GRANDE POETA*!_EU ME REVERENCIO!!!!!

Lhe trago um ABRACO IMENSO e um enorme pedido de desculpas! Nem Lhe vou dizer os velhos e novos "entraves" que me tem atazanado a paciencia!

Ca' voltarei com mais tempo!
quis deixar um ABRACO!
Nao tenho conseguido entrar no heloisa, ETC...
BEIJINHOS A BLUE!
Escrever-Lhe-ei amanha!
VOLTAREI COM CALMA pois tenho AQUI muita leitura atrasada!
_ALIAS eu sou o PROPIO ATRASO!!!!

Sa Amiga,
Heloisa
************

 
Às 02 dezembro, 2006 10:11 , Blogger maresia disse...

Posso "copiar" esta notícia na Onda? Identificada e com referência a este texto original?

 
Às 02 dezembro, 2006 10:58 , Blogger Peter disse...

"maresia" podes copiar o que quiseres e nem precisas fazer qq referência.
Já tive a espreitar o teu blog. Sempre que quiseres aparece.

 
Às 02 dezembro, 2006 11:06 , Blogger Maria Carvalho disse...

Adoro ler António Ramos Rosa! Beijos.

 
Às 02 dezembro, 2006 17:53 , Blogger Papoila disse...

Um grange poema que escolhes de António Ramos Rosa.
Beijo

 
Às 02 dezembro, 2006 18:15 , Blogger António disse...

Olá, Peter!
Mais um que se foi.
Como citavas, mais atrás, o Alfredo Barroso:
"A vida é uma doença sexualmente transmitida com um prognóstico inexoravelmente fatal".
Obrigado pelo teu acompanhamento durante 2 meses da minha blogonovela.

Um abraço

 
Às 02 dezembro, 2006 19:14 , Blogger Nilson Barcelli disse...

Será sempre um grande escritor.
Gosto de o ler.
Bom fim-de-semana.
Abraço.

 
Às 02 dezembro, 2006 21:00 , Blogger Ant disse...

Andamos muito culturais. Os motios deveriam ser outros, claro.
Abraço sócio.

 
Às 02 dezembro, 2006 21:55 , Blogger Marta Vinhais disse...

Uma escolha perfeita, Peter.
Obrigada também pelo comentário que deixaste no meu blog.
Foste muito gentil...
Beijos e abraços
Marta

 
Às 02 dezembro, 2006 22:32 , Blogger Peter disse...

"Ant", os motivos "deveriam ser outros", dizes bem, mas esses "motivos" estão mais ao teu jeito.

Estou à espera que acabes as pinturas (das paredes).

 
Às 02 dezembro, 2006 22:37 , Blogger Peter disse...

Marta, já há muito tempo que não me diziam isso: "Foste muito gentil..."

Beijos e abraços,
Peter

 
Às 03 dezembro, 2006 02:39 , Blogger Fragmentos Betty Martins disse...

Olá Peter

António Ramos Rosa é uma referência na poesia - e o traçar do seu caminho uma marcação.

...Criando um campo semântico sobre a finíssima linha de demarcação entre a afirmação e a negação, o poeta foge da dicotomia, da disjunção, da determinação, num espaço cada vez mais aberto e ilimitado, que se adequa cada vez melhor à manifestação "do que não tem nome". O poeta, que procura entrar em consonância com esse horizonte do real, torna-se também ele corpo místico e mítico do universo, onde se conciliam por fim todos os contrários. Poesia de coordenadas eminentemente espaciais, ela tem evoluído ultimamente no sentido de uma mais acentuada articulação discursiva, a par de uma aguda consciência da passagem do Tempo, com as questões que essa consciencialização coloca:

"será ainda possível construir sobre a cinza do tempo/ a casa da maturidade com as suas constelações brancas?"

Beijinhos
BomDomingo

 
Às 03 dezembro, 2006 10:22 , Blogger Peter disse...

Betty, belíssimo e erudito comentário, dando conta da evolução do discurso poético do autor e terminando com uma questão adequada posta pelo poeta:

"será ainda possível construir sobre a cinza do tempo
a casa da maturidade com as suas constelações brancas?"

Bom Domingo*

P.S.- Espero que, noutra oportunidade, aprecies essa foto célebre que hoje publico. E porque não ir até Paris ver a exposição da obra deste grande fotógrafo, que é também a da cidade, em exibição até Fevereiro?

 

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