António Ramos Rosa
Venceu o Grande Prémio de Poesia APE/CTT de 2005, com "Génese", de que publico a seguir uma poesia.
António Ramos Rosa, de 82 anos e natural de Faro, é um dos maiores nomes da poesia portuguesa contemporânea.
O poeta fora recentemente distinguido com o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava e o Prémio PEN Clube de Poesia, ambos referentes também a 2005.
Distinguido com vários prémios nacionais e estrangeiros, recebeu o Prémio Pessoa em 1988.
QUANDO UMA MULHER SE DESPE
Quando uma mulher se despe numa clareira rodeada de arbustos
e sobre uma toalha se estende ao sol o seu desejo é ambíguo
porque não quer ser vista e ao mesmo tempo a sua pele estremece
sob um olhar ausente ou de alguém escondido entre a folhagem
Também a palavra se expõe e oculta no seu fulgor de lâmpada
alimentada pelo fogo obscuro que aspira à nudez solar
Ela inclina-se sobre a água para ver a sua imagem
com o olhar não dela mas de um outro que a move
para ser a presença pura no olhar de ninguém
e poderá ser um dia o de algum leitor que se deslumbra com a sua abstracta nudez
Sem esta duplicidade e sem este puro recato através do silêncio
ela não possuiria o frémito ideal da sua exposição
e seria opaca ou demasiado transparente sem os meandros cintilantes
que a tornam fugidia como um fio de mercúrio
e a sua nudez teria a consistência inerte
de uma pedra sem fogo e sem sal sem o focinho do desejo
Por isso o poema é uma mulher que se enrola na sua nudez
até ser tão redonda como redondo é o ser
com a sua língua bífida entre os lábios do seu sexo
(António Ramos Rosa, "Génese", Roma Editora, FEV 2005)
13 Comentários:
GRANDE, GRANDE POETA*!_EU ME REVERENCIO!!!!!
Lhe trago um ABRACO IMENSO e um enorme pedido de desculpas! Nem Lhe vou dizer os velhos e novos "entraves" que me tem atazanado a paciencia!
Ca' voltarei com mais tempo!
quis deixar um ABRACO!
Nao tenho conseguido entrar no heloisa, ETC...
BEIJINHOS A BLUE!
Escrever-Lhe-ei amanha!
VOLTAREI COM CALMA pois tenho AQUI muita leitura atrasada!
_ALIAS eu sou o PROPIO ATRASO!!!!
Sa Amiga,
Heloisa
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Posso "copiar" esta notícia na Onda? Identificada e com referência a este texto original?
"maresia" podes copiar o que quiseres e nem precisas fazer qq referência.
Já tive a espreitar o teu blog. Sempre que quiseres aparece.
Adoro ler António Ramos Rosa! Beijos.
Um grange poema que escolhes de António Ramos Rosa.
Beijo
Olá, Peter!
Mais um que se foi.
Como citavas, mais atrás, o Alfredo Barroso:
"A vida é uma doença sexualmente transmitida com um prognóstico inexoravelmente fatal".
Obrigado pelo teu acompanhamento durante 2 meses da minha blogonovela.
Um abraço
Será sempre um grande escritor.
Gosto de o ler.
Bom fim-de-semana.
Abraço.
Andamos muito culturais. Os motios deveriam ser outros, claro.
Abraço sócio.
Uma escolha perfeita, Peter.
Obrigada também pelo comentário que deixaste no meu blog.
Foste muito gentil...
Beijos e abraços
Marta
"Ant", os motivos "deveriam ser outros", dizes bem, mas esses "motivos" estão mais ao teu jeito.
Estou à espera que acabes as pinturas (das paredes).
Marta, já há muito tempo que não me diziam isso: "Foste muito gentil..."
Beijos e abraços,
Peter
Olá Peter
António Ramos Rosa é uma referência na poesia - e o traçar do seu caminho uma marcação.
...Criando um campo semântico sobre a finíssima linha de demarcação entre a afirmação e a negação, o poeta foge da dicotomia, da disjunção, da determinação, num espaço cada vez mais aberto e ilimitado, que se adequa cada vez melhor à manifestação "do que não tem nome". O poeta, que procura entrar em consonância com esse horizonte do real, torna-se também ele corpo místico e mítico do universo, onde se conciliam por fim todos os contrários. Poesia de coordenadas eminentemente espaciais, ela tem evoluído ultimamente no sentido de uma mais acentuada articulação discursiva, a par de uma aguda consciência da passagem do Tempo, com as questões que essa consciencialização coloca:
"será ainda possível construir sobre a cinza do tempo/ a casa da maturidade com as suas constelações brancas?"
Beijinhos
BomDomingo
Betty, belíssimo e erudito comentário, dando conta da evolução do discurso poético do autor e terminando com uma questão adequada posta pelo poeta:
"será ainda possível construir sobre a cinza do tempo
a casa da maturidade com as suas constelações brancas?"
Bom Domingo*
P.S.- Espero que, noutra oportunidade, aprecies essa foto célebre que hoje publico. E porque não ir até Paris ver a exposição da obra deste grande fotógrafo, que é também a da cidade, em exibição até Fevereiro?
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